Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema. Neste blog, trata de grandes temas da atualidade, com informação e muita opinião principalmente sobre política.
ÉPOCA – edição 743)
O ministro da Secretaria-Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho, é uma figura muito importante para
o Brasil. Os brasileiros gostam de sonhar com a purificação de Dilma Rousseff,
parindo teses quase diárias sobre a independência da presidente em relação a
Lula. Toda hora alguém descobre que Dilma é diferente, que não transige com os
métodos do padrinho, que não admite os contrabandos éticos da ideologia
companheira etc. Aí surge o ministro intocável para despertar esse povo crédulo
de seus doces delírios. Gilberto Carvalho é a partícula de Deus do lulismo, a
prova científica da matéria lulista em Dilma.
E quando o Brasil se esquece desse fato, o
próprio Gilberto Carvalho se encarrega de lembrá-lo. Tudo ia muito bem para o
governo Dilma no julgamento do mensalão, com a opinião pública olhando para os
réus do valerioduto como se aquilo fosse uma história de época, um filme de
máfia sobre um passado que passou. Foi quando surgiu a voz sensata de Carvalho
para avisar: “Quem aposta no desgaste do governo (com o julgamento do mensalão)
vai se decepcionar!” Pronto. Ali estava o bóson de Higgs do governo popular se
entregando no inconfundível estilo petista – fazendo o pênalti e depois
levantando os braços para dizer “não fui eu”.
Os braços levantados do zagueiro Carvalho,
com seus dez anos de palácio unificando os gabinetes de Lula e Dilma, falam
mais que mil palavras. Mas ele fez questão de ser didático. Comparando a
repercussão atual do julgamento com a do escândalo em 2005, o ministro lembrou:
no que “baixou a poeira do debate político”, o povo apoiou “o processo”,
reelegendo Lula em 2006 e elegendo Dilma em 2010. Estava mais do que na hora de
alguém gritar que “o processo” de Lula e Dilma é o mesmo, inclusive na testada
e aprovada capacidade de ganhar eleições e manter a popularidade alta apesar
das trampolinagens.
A mensagem de Gilberto Carvalho ao país é
muito rica, contendo alta carga conceitual, mas pelo menos uma tradução bem
simples pode ser feita: percam as esperanças de nos desmascarar, porque o
eleitorado não está nem aí para os nossos esquemas parasitários.
O brado do ministro da Secretaria-Geral da
Presidência foi ouvido, coincidentemente, depois da apresentação da defesa de
José Dirceu no Supremo Tribunal Federal. O advogado do ex-ministro e suposto
chefe da quadrilha lembrou que Dilma, quando ouvida no processo, proferiu um
nada-consta sobre Dirceu quanto ao seu tráfico de influência junto aos bancos
do mensalão. Um sutil gesto de solidariedade com o companheiro de armas que, no
presente momento, poderia soar comprometedor – se a platéia fizesse um pequeno
esforço para se lembrar que a venerável dama de ferro não veio de Marte.
Dilma veio, precisamente, do planeta
Dirceu. Sua ascensão à Casa Civil foi articulada pelo próprio, no exato momento
em que ele caía em desgraça com o estouro do escândalo. Dilma é, portanto,
filha do mensalão. E fez questão, em plena cerimônia de posse, de mostrar
lealdade ao antecessor que afundava com as revelações sobre o valerioduto. Só a
opinião pública consegue separar a presidente do grupo que está sendo julgado
no Supremo – separação que nem ela mesma jamais fez.
Os quase 80% que aprovam Dilma Rousseff de
olhos fechados (e bem fechados) devem considerar mera coincidência as
companhias que a afilhada de Dirceu cultiva em sua trajetória gerencial:
Erenice Guerra, os consultores Antonio Palocci e Fernando Pimentel (este ainda
pendurado no governo graças à grande gestora-amiga) e outros filhos do
“processo” Lula-Dilma que ficaram pelo caminho, como Orlando Silva, Carlos Lupi
e grande elenco parasitário – todos parentes políticos da grande família de
mensaleiros e aloprados, com os quais a presidente, Deus a livre, não tem nada
a ver.
Quem tiver dúvidas, preste atenção às
palavras do ministro Gilberto Carvalho encerrando o assunto: “A presidenta
Dilma nos deu a orientação de seguirmos trabalhando rigorosamente, seguindo
nossa tarefa de governo, numa atitude semelhante à que o presidente Lula já
tomara em 2005.” Como se vê, o “processo”, “esquema” ou como se queira chamar
esse caso de polícia com fantasia de revolução é exatamente o mesmo há dez
anos. Marque o pênalti, seu juiz.
WebRep
currentVote
noRating
noWeight
Nenhum comentário:
Postar um comentário