É bom pensar com princípios, né?, em vez
de ter de fazer juízos ad hoc, a depender da necessidade do
partido. Sim, eu era de esquerda, mas havia em mim, digamos assim, um espírito
que não era escravo de ninguém — logo, não poderia mesmo ser um deles. Na
primeira vez em que recebi do comando “uma ordem” que contrariava a minha
consciência, caí fora. Que bom! Por que essa introdução?
Nunca fui, não sou e dificilmente serei fã
do estilo do ministro Joaquim Barbosa. E discordo de maneira absoluta de
algumas teses que já o vi defender no Supremo. Mas nunca, é evidente, associei
a cor de sua pele à sua atuação ou pensamento. Ao contrário: quando ele próprio
se referiu ao assunto em meio a um embate qualquer, eu o censurei por isso.
Repudio ainda o que chamo de “racismo de segundo grau”, de que foi vítima, por
exemplo, o jornalista Heraldo Pereira. Paulo Henrique Amorim — aquele, vocês
sabem… — o chamou de “negro de alma branca”, associando a sua brilhante
trajetória profissional a uma suposta concessão que a Globo teria feito. Mais:
o tal considera que Heraldo não é um defensor de sua “raça”. Amorim ousou
ensinar a Heraldo como ser negro. Não bastava a este profissional estar entre
os melhores da sua categoria. Ele teria se comportar “como um negro” — seja lá
o que isso signifique. Infelizmente, alguns movimentos racialistas também aderem
a esse juízo estúpido e… racista!
“Mas Barbosa não votou a favor das cotas
porque é negro, Reinaldo?” Não! A meu juízo, votou porque estava errado, a
exemplo, atenção!, de todo o STF. Se Joaquim votou porque é negro, os outros
teriam votado porque são brancos? Quem sabe os ministros comecem a se dar conta
do mal que fizeram ao país ao, entendo, ignorar o fundamento da igualdade
perante a lei. Mas não me alongarei nesse aspecto agora. Volto a Barbosa. Sim,
eu o critiquei muitas vezes. A última foi nessa quarta passada, quando propôs
que o STF acionasse a OAB contra três advogados. Não porque é negro, mas porque está errado.
Barbosa já foi o herói dos petralhas,
especialmente nos embates nada elegantes que travou no passado com o ministro
Gilmar Mendes. Ali estaria, enfim, um homem de coragem, sem papas na língua,
que dizia tudo o que pensava… Eis que as coisas se inverteram. O antes
destemido ministro seria agora um negro que chegou ao Supremo em razão de uma
espécie de política de cotas de Lula. Não passaria de um homem despreparado,
destemperado, sem condições de presidir o Supremo. É o que está sugerindo, por
exemplo, Marco Aurélio de Carvalho, porta-voz dos “advogados do PT” (ver post
nesta página).
A fúria contra Barbosa é gigantesca e tem,
sim, características racistas. Infere-se que ele deveria é ser grato a Lula —
como, aliás, recomendou a todos o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o
notório Kakay. Então o petista teve a generosidade de nomear um negro para o
STF, e este, em vez de beijar a mão do nhonhô, pede a condenação de
mensaleiros? Só pode mesmo ser um despreparado!!!
Vejam que notável! Enquanto os petralhas
concordavam com as teses de Barbosa, não evocavam a cor de sua pele ou
atribuíam à política pessoal de cotas de Lula a sua indicação para o Supremo.
Bastou que ele contrariasse algumas vontades, o “negro arrogante e pouco grato”
tomou o lugar do antigo herói.
Um comentário:
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