Em maio de 2009,
durante uma audiência no Congresso, o então chanceler Celso Amorim confessou
que o governo Lula não queria o engenheiro brasileiro Márcio Barbosa na
direção-geral da Unesco ─ sigla que identifica a Organização das Nações Unidas
para a Educação e a Cultura. Vice-diretor da entidade, Barbosa tinha o apoio da
maioria dos 58 integrantes do comitê executivo. Só faltava o endosso do
Itamaraty à candidatura. Mas Lula e Amorim nunca perderam uma chance de errar:
preferiram um egípcio.
E que egípcio: Farouk
Hosni, ministro da Cultura do ditador Hosni Mubarak, dormia sonhando com a
destruição de Israel e acordava com alguma idéia cretina inspirada no
Holocausto. Uma delas era a queima em praça pública de todos os livros
editados em hebraico. No sarau com os parlamentares, Amorim argumentou que
Márcio Barbosa seria sacrificado no altar dos superiores interesses da pátria.
“Fizemos uma opção
geopolítica”, pipilou o Pintassilgo do Planalto. “O Brasil tem uma política de
aproximação com os países árabes e africanos, que apoiam a candidatura
egípcia”. E as maluquices ditas e feitas pelo candidato? Algumas haviam sido
“pouco felizes”, concedeu o executor da diplomacia da cafajestagem. “Mas tenho
certeza de que ele pautará sua gestão à frente da Unesco por um diálogo de
civilizações”.
Em junho de 2009,
Barbosa desistiu formalmente da disputa.Para sorte da Unesco, Farouk Hosni foi
derrotado em setembro por 31 votos a 27 pela diplomata búlgara Irina Bokova.
Para alívio do mundo civilizado, meses depois perdeu o emprego e o poder com o
desabamento da ditadura de Mubarak.
Na semana passada,
enquanto Márcio Barbosa continuava concentrado na execução de megaprojetos
culturais encomendados por países árabes, o escolhido por Amorim para aproximar
o Brasil dos países árabes estava preso no Cairo. Nesta quarta-feira, Farouk
Hosni começou a ser julgado pelo roubo de 2,35 milhões de euros dos cofres
públicos. Vai ficar um bom tempo na gaiola.
Enfurnado no gabinete
de ministro da Defesa, o Pintassilgo do Planalto avisou que não fala sobre
assuntos externos. Lula faz de conta que nunca ouviu falar no ex-ministro da
Cultura e quase diretor-geral da Unesco. Atarantado com os pedidos de socorro
de mensaleiros em pânico e candidatos a prefeito em parafuso, o Protetor dos
Pecadores não tem tempo nem cabeça para pensar no companheiro egípcio.
É só mais um bandido
internacional de estimação em apuros. Se fingiu que mal conhecia o “amigo,
irmão e líder” quando Muamar Kadafi matava oposicionistas em busca da
sobrevivência impossível, não é com um Farouk Hosni que Lula vai desperdiçar o
tempo que pode ser usado num comício.
Em janeiro de 2003, o
presidente da República decidiu que a política externa brasileira faria a
opção preferencial pela canalhice. Gente assim não se aflige por tão pouco,
nem perde o sono com parceiros em desgraça.
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