Dengue: Lula está matando mais do que no ciclo FHC

Em oito anos de tucanato, mosquito causou 209 mortes
Em cinco anos de petismo, doença aniquilou 325 vidas
Em 2002, na epidemia de Serra, morreram 150 doentes
Em 2007, Temporão arrastou um recorde de 158 óbitos



Os dados são oficiais. Colecionou-os a pasta da Saúde. Encontram-se disponíveis no sítio que o ministério mantém na internet. Pressionando aqui, você chega a um quadro que contabiliza os mortos da dengue, ano a ano, por Estado e por região. As estatísticas demonstram que o governo Lula candidata-se à desmoralização se insistir no debate que transporta a crise da dengue da seara técnica para o campo político.

O Aedes aegypti produziu na era Lula 116 cadáveres a mais do que no ciclo FHC. Nos primeiros cinco anos de governo petista (2003-2007), 325 pessoas morreram de dengue em todo país. Um número que supera em 55,5% as 209 mortes notificadas pela rede hospitalar nos oito anos de gestão tucana (1995-2002).

Considerando-se os 13 anos dos dois presidentes, chega-se a um morticínio de 534 brasileiros. Adicionando-se à conta os 48 mortos oficiais já contabilizados na epidemia que infelicita o Rio nesse primeiro trimestre de 2008, chega-se a 582 mortos. Daria para lotar, com sobras, três aeronaves como o Airbus A320 da TAM, que transportou para o esquife os 186 passageiros da tragédia de Congonhas, ocorrida em julho do ano passado.

Os números demonstram, com frieza tumular, que, em vez de brincar de esconde-esconde, as autoridades das três esferas de governo –federal, municipal e estadual—deveriam estar discutindo o que fazer para vencer o mosquito. Um inseto que, em pleno século 21, em reaparições cíclicas, vem prevalecendo vergonhosamente sobre o Estado e sobre uma sociedade que, desinformada, dá de ombros para os cuidados mais comezinhos.

As estatísticas não socorrem José Gomes Temporão (PMDB). Empenhado em acomodar sobre os ombros do prefeito Cesar Maia (DEM) toda a responsabilidade pela epidemia carioca, o ministro convive com um recorde incômodo. A dengue matou, em 2007, 158 pessoas. Um recorde. Oito a mais do que os 150 pacientes que o mosquito vitimara em 2002, quando respondia pelo ministério o tucano José Serra, hoje governador de São Paulo.

A julgar pelos dados do ano passado, a encrenca do Rio pode ser considerada como uma tragédia anunciada. Temporão ascendeu à Esplanada em 19 de março de 2007. Sete meses depois, já havia percebido que arrastara para sua biografia uma epidemia de dengue maior do que quela que orna o currículo de Serra.

"Em outubro de 2007, em Belo Horizonte (MG), eu alertei que o Brasil tinha um quadro de epidemia de dengue e mostrei preocupação especial com o Rio de Janeiro", disse, nesta segunda-feira (24), um Temporão que reincidia na tática de realçar as responsabilidades do ‘demo’ Cesar Maia. "Em todo o país, nós conseguimos baixar os índices da doença [nos primeiros meses de 2008], e só no Rio houve crescimento. Todo o esforço que o governo federal poderia ter feito, fez."

Visto pelo ângulo da execução orçamentária, Temporão não parece ter feito “todo o esforço”, como diz. Segundo levantamento produzido pelo sítio
Contas Abertas, a pasta da Saúde aplicou em 2007, o ano do recorde de 158 mortos, apenas 55% dos R$ 68,1 milhões inseridos no Orçamento da União para ações de vigilância, prevenção e controle da malária e da dengue.

De resto, o “alerta” que o ministro diz ter feito há cinco meses, em Belo Horizonte, não soou compatível com a dimensão do problema que se avolumava nos computadores de sua pasta. Levado à internet só no mês passado, o flagelo de 2007, é, ainda hoje, uma espécie de epidemia oculta.

Inspirando-se no Lula de 2002, que usara os 150 cadáveres daquele ano para vergastar Serra na campanha presidencial, Temporão talvez tivesse levado ao trombone, com maior intensidade, os 158 corpos de 2007.

Tudo considerado, a epidemia do Rio vai ganhando contornos de um filme sem mocinhos. Temporão acusa Cesar Maia de, entre outros pecados, ter desmobilizado as equipes de saúde da família do município e de manter uma rede de atenção primária de “baixa qualidade”. O monturo de corpos, que se avoluma na capital carioca, escala as manchetes como uma evidência de que a prefeitura pode ter cometido estes e até outros pecados.

Mas o ministro tampouco vai à foto em posição confortável. Só nesta segunda-feira, depois de ter sido fustigado por Lula, Temporão realizou a primeira reunião do que denominou de “gabinete de crise”. Em entrevista,
propalou algo que a torcida do Flamengo já não ignora: o número de mortos no Rio está “completamente fora do que nós consideramos que seria razoável.”

Companheiro de partido do ministro, Sérgio Cabral, governador do Rio, inaugurou três tendas para administrar soro nos doentes de dengue. A providência chega às portas de abril, mês em que o ciclo da dengue costuma ser cadente.

"O trabalho preventivo é um trabalho tipicamente municipal”, disse Cabral, como que lavando as mãos. “Não é normal que um Estado abra centros de hidratação e coloque 1.200 homens dos bombeiros no combate à dengue" nessa época, reconheceu. "O normal é o trabalho preventivo, durante o ano inteiro." - Escrito por Josias de Souza


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