Governo considerou grave a atitude de general que abriu quartel do Exército para ato contra a reserva indígena - Por Gerson Camarotti – O Globo
O Palácio do Planalto avaliou que foi um gesto de insubordinação explícita o fato de o general Eliezer Monteiro, do 7º Batalhão de Infantaria da Selva (RR), ter aberto o quartel para ato contra a Reserva Raposa Terra do Sol. Conforme o GLOBO revelou ontem, o militar permitiu a entrada na sede do Exército de fazendeiros e políticos que faziam manifestação contrária à demarcação da área indígena.
Auxiliares diretos do Lula da Silva demonstraram surpresa com a atitude do general e o fato de ele ter feito até mesmo um discurso a favor dos manifestantes. O Planalto vai querer uma explicação do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A percepção é que o comandante do Exército fez um ato de hostilidade explícita ao governo, principalmente depois do episódio envolvendo outro integrante das Forças Armadas. Recentemente, o próprio Lula manifestou posição contrária ao do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que criou polêmica recentemente ao condenar a política indigenista brasileira.
JOBIM NÃO QUIS COMENTAR GESTO DO GENERAL
A avaliação interna é que foi gravíssima a manifestação do general Monteiro, principalmente depois da decisão do Palácio do Planalto de aguardar uma posição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. Procurado ontem, o ministro Nelson Jobim disse por meio de sua assessoria que não iria comentar a postura do general Monteiro.
Cauteloso, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, evitou comentar o gesto do general Monteiro. Mas fez questão de reafirmar ontem que a determinação do Palácio do Planalto continua inalterada em relação ao conflito em Roraima, por causa da demarcação da Raposa Serra do Sol.
- A ordem é aguardar uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre este impasse em raposa Serra do Sol - disse Múcio ao GLOBO.
O general Eliezer Monteiro é a principal autoridade militar do Exército em Roraima e está subordinado diretamente ao general Heleno. Por isso, o desconforto no Palácio do Planalto. Ele recebeu no quartel um grupo de 30 manifestantes que apresentou um documento com ataques à Polícia Federal, ao ministro da Justiça, Tarso Genro, e até mesmo ao presidente Lula.
Um interlocutor de Lula classificou ontem de inadequado o fato de Monteiro ter considerado "bastante apropriado" o fato de o governo de Roraima ter contestado no Supremo Tribunal Federal a demarcação e a operação da Polícia Federal. Por esta avaliação, o general quebrou uma ordem de hierarquia.
O núcleo do governo Lula considera que o general Eliezer Monteiro ultrapassou suas atribuições ao aconselhar os arrozeiros de Roraima a não aceitar que os índios da região proíbam a circulação de alimentos e combustíveis na área. Isso aconteceu depois que agentes da PF e da Força de Segurança Nacional chegaram ao interior da reserva, há um mês.
RAPOSA: GENERAL CRITICA ONG QUE PROTEGE ÍNDIOS
Comandante de Brigada de Infantaria do Exército em Roraima defende permanência de arrozeiros na Raposa Serra do Sol - Evandro Éboli – O Globo
Principal entidade pró-demarcação de Raposa Serra do Sol, o Conselho Indígena de Roraima, o CIR, foi duramente criticado pelo comandante do 7ª Brigada de Infantaria de Selva (BIS) de Roraima, general Eliezer Monteiro. O militar defende a permanência dos arrozeiros na reserva. Ele classificou o CIR como uma ONG "segregacionista", que não luta pela união dos índios que vivem na reserva e que recebe dinheiro do governo federal e não o repassa a outras entidades.
Subordinado ao general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, Monteiro critica o CIR por não estimular seus jovens indígenas a prestar o serviço militar, ao contrário de etnias ligadas à Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur).
- O CIR prega a segregação. Eles não aceitam nem que comunidades indígenas recebam benefícios. A gente às vezes passa numa comunidade ligada ao CIR e oferece uma bandeira do Brasil, pergunta se necessitam alguma coisa, oferece serviço médico e dentista, mas eles dizem que não querem. Recusaram até uma escola do Calha Norte, que oferecemos para ser construída no lugar de uma que foi queimada. Política segregacionista não tem vez aqui - disse o general, em entrevista na noite de sexta-feira.
O CIR defende a demarcação contínua de Raposa e recebe recursos do governo federal para ações em prol dos índios. É vinculado ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e tem proximidade com a Igreja Católica. Milhares de índios de Raposa têm ligações com o conselho, e para entrar em algumas áreas é necessária autorização da ONG.
Assim como o general Heleno, o comandante Monteiro acha fundamental que as áreas de fronteira, mesmo terras indígenas, sejam habitadas por índios e não-índios. Ele diz que hoje as ONGs dominam postos de controle na reserva e acusa a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de não ter esse controle:
- A quem compete administrar as coisas que estão nas terras indígenas? Seria a Funai, mas o órgão não tem capacidade para isso. Esse poder é feito por uma ONG, que faz o papel que deveria ser da FUNAI. Isso é a quebra da federação brasileira.
Para o general, a FUNAI é muito pequena para administrar tantas e tão grandes áreas indígenas. Ele defendeu a revisão dos processos de demarcação em curso na Amazônia e que cesse qualquer projeto de homologação de novas áreas.
- O Estado deveria pensar antes de fazer novas demarcações ou dar prosseguimento às atuais e fechar os processos. Para que criar terra indígena e entregar para uma ONG cuidar?
Como é afinado com o pensamento do general Heleno, Monteiro foi questionado se também concorda que a política indigenista brasileira é caótica. A resposta foi positiva.
- Tem coisa que precisa ser revista na política indigenista do Brasil. As realidades são imensas e difíceis. Por que, por exemplo, que só se prega a retirada dos não-índios de Raposa Serra do Sol? Por que não retiram os não-índios do resto do Brasil? Fundamental é a unidade do país, a manutenção da integridade territorial.
4 comentários:
Ou esses militares tomam vergonha na cara e dão um basta nas palhaçadas do Lula, ou ficarão de ceroulas diante da nação.
O presidente Uribe está enxotando os vermes da Colômbia, enquanto os países vizinhos fazem vistas grossas para receber a escória em seus territórios, salvá-los da dizimação. Por isso fingem que não está acontecendo nada.
A voz de quem trabalha e vive a realidade destas reservas provavelmente não será ouvida, principalmente por emanar do Exército Brasileiro, já sabemos.
As consequências da irresponsabilidade em relação às fronteiras e aos bens que hoje estão em jogo na Amazônia só serão sentidas depois que este arremedo de governo for uma lembrança triste, como um pesadelo.
As gerações futuras pagarão por estes desatinos.
Talvez daqui a uns anos quando os indios declararem a "independencia" do "seu" territorio, os brasileiros acordem
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