Em entrevista à Folha, o prefeito de Pacaraima e rizicultor Paulo César Quartiero (DEM) confirmou a informação de que os índios do Conselho Indígena de Roraima (CIR) foram feridos por seus funcionários, no entanto disse que eles agiram em legítima defesa. Por Andrezza Trajano da Folha de Boa Vista
“Dei a recomendação para que não deixassem ninguém invadir a fazenda e dei ordens para que atuassem conforme a situação. Como eles foram recebidos a flechadas e estavam em um número menor, reagiram atirando até para salvarem suas vidas”, defendeu seus funcionários.
Conforme Quartiero, caso a ordem e segurança pública não sejam instaladas, ele mesmo irá ao local da invasão para impedir a ação dos indígenas. “As polícias Federal, Civil e Militar dizem que nada podem fazer para conter as ações dos índios que estão invadindo a minha propriedade. Mas se preciso for, eu mesmo irei proteger as minhas terras”, disse.
Há a informação extra-oficial de que centenas de índios que defendem a permanência dos produtores de arroz na Raposa Serra do Sol estariam se descolando hoje para fazenda Depósito para defender a propriedade de Paulo César Quartiero.
ÍNDIOS PERMANECEM NA FAZENDA
A Folha chegou à região do conflito por volta do meio-dia, em um carro próprio. Já dentro da terra indígena, a poucos quilômetros da Vila Surumu, a equipe de reportagem cruzou com o carro da Fundação Nacional do Índio (Funai) que socorria os indígenas e com o veículo da Polícia Federal que levava quatro índios do CIR para prestar declarações no posto da PF em Pacaraima.
Depois de presenciar o embarque da aeronave da Funai que socorria os índios, ao chegar em Surumu, a equipe seguiu para a região do conflito, distante 6 quilômetros da sede da vila, onde foi realizada a invasão, nos fundos da fazenda Depósito, a maior localizada na terra indígena Raposa Serra do Sol.
No local havia aproximadamente 70 índios dentro da propriedade, armados de foices, terçados e bastante nervosos. Uma índia, de aproximadamente 40 anos, gritava que seu marido estava entre os feridos e que ele iria morrer. Mas disse que mesmo assim iria permanecer no local até que o arrozeiro Paulo Quartiero saísse da terra indígena. Também havia sangue no local e em uma das viaturas da PF.
Os índios, que já haviam levantado três barracões, construíram mais quatro até às 15h. Ao mesmo tempo, um caminhão se deslocou três vezes até a sede da vila trazendo mais índios para o local da ocupação.
Apenas três homens da Força Nacional de Segurança e um policial federal permaneciam no local do conflito, em duas viaturas. Por volta das 13h, outros 16 homens chegaram em mais viaturas para reforçar o policiamento.
A equipe de reportagem se deslocou até a sede de Pacaraima onde entrevistou o delegado Everaldo Eguchi e o secretário municipal de Saúde, Júlio Jordão. Ainda registrou a remoção dos feridos do Hospital de Pacaraima para Boa Vista na aeronave da FUNAI.
MILITARES DA RESERVA E RIZICULTORES FAZEM MANIFESTAÇÃO NO CENTRO CÍVICO
Com faixas e cartazes, a Associação dos Militares da Reserva de Roraima, rizicultores e outras entidades pediram atenção dos governos para as ações praticadas por Organizações Não-Governamentais (ONGs) que, segundo eles, ameaçam a soberania nacional.
Segundo o reservista Egídio Faitão, a manifestação não tem o objetivo de demonstrar nenhum tipo de revanchismo, mas explicitar que a categoria está atenta para os problemas ocorridos no Estado nos últimos meses e que podem vir a afetar a soberania nacional. “Estamos usando o princípio da liberdade, da vigilância cívica e patriótica”, disse complementando que um dos organismos responsáveis pelos conflitos que estão acontecendo do Estado são as Ongs que atuam na Amazônia. “É vergonhoso como as Ongs sopram a discórdia e a segregação social. Elas criam conflitos e plantam hoje sementes para fragmentar e facilitar a intervenção dos países europeus e da América no Brasil”, disse.
Ele citou como exemplo fatos que já estariam ocorrendo em países como a Bolívia, onde alguns estados estão pedindo independência. Faitão acredita que a intenção dos organismos internacionais é dividir a Amazônia em blocos (que seriam as reservas indígenas) para facilitar a intervenção e o domínio da Amazônia.
“Desde a época da colonização esses países já demonstravam cobiça sobre essa região. Com essa fragmentação, fica bem mais fácil uma intervenção internacional, assim como eles fizeram com a Iugoslávia, hoje dividida em vários países”, disse.
Outro militar da reserva, Paulo César, alegou que muitas comunidades indígenas estão se julgando acima da lei, pois mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a retirada de não-índios da reserva Raposa Serra do Sol, até o julgamento do mérito da questão, uma fazenda foi invadida por indígenas, armados de flechas.
“Se é para cumprir a lei, então que cumpramos todos. Os índios por acaso estão acima da lei? A Polícia Federal tem que agir nessa situação. Hoje estamos perdendo o direito de ir e vir em nosso Estado, porque os indígenas já param o cidadão na estrada, proíbem a entrada, ameaçam com flechas”, disse.
RIZICULTORES FICAM SABENDO DE INVASÃO DURANTE MANIFESTAÇÃO
O rizicultor Agenor Faccio lembra que a questão da retirada dos não-índios da Raposa Serra do Sol não é só dos rizicultores, e sim de toda a sociedade. “Por isso viemos aqui unir forças nessa manifestação”, disse. Ele cultiva arroz há 30 anos na região do Surumu e disse ter ficado preocupado com a notícia recebida durante a manifestação de que uma fazenda foi invadida por índios na região de Surumu, entrada principal da terra indígena.
“Esperamos que a Polícia Federal esteja lá realmente para manter a ordem. Nós estamos aguardando a decisão da Justiça, só que os indígenas não estão”, disse.
A esposa de um rizicultor que também tem propriedade na região dos conflitos, Regina Barili, disse que a sensação da família é de total insegurança nesse momento. “Estamos aqui para apoiar a manifestação, porque essa é uma questão que vai bem além dos rizicultores. Agora fiquei sabendo da invasão de uma fazenda e fiquei preocupada. Nós trabalhamos e lutamos a vida toda e agora somos tratados como invasores. É uma pena que os direitos humanos não são para seres humanos direitos”, disse. Folha de Boa Vista
“Dei a recomendação para que não deixassem ninguém invadir a fazenda e dei ordens para que atuassem conforme a situação. Como eles foram recebidos a flechadas e estavam em um número menor, reagiram atirando até para salvarem suas vidas”, defendeu seus funcionários.
Conforme Quartiero, caso a ordem e segurança pública não sejam instaladas, ele mesmo irá ao local da invasão para impedir a ação dos indígenas. “As polícias Federal, Civil e Militar dizem que nada podem fazer para conter as ações dos índios que estão invadindo a minha propriedade. Mas se preciso for, eu mesmo irei proteger as minhas terras”, disse.
Há a informação extra-oficial de que centenas de índios que defendem a permanência dos produtores de arroz na Raposa Serra do Sol estariam se descolando hoje para fazenda Depósito para defender a propriedade de Paulo César Quartiero.
ÍNDIOS PERMANECEM NA FAZENDA
A Folha chegou à região do conflito por volta do meio-dia, em um carro próprio. Já dentro da terra indígena, a poucos quilômetros da Vila Surumu, a equipe de reportagem cruzou com o carro da Fundação Nacional do Índio (Funai) que socorria os indígenas e com o veículo da Polícia Federal que levava quatro índios do CIR para prestar declarações no posto da PF em Pacaraima.
Depois de presenciar o embarque da aeronave da Funai que socorria os índios, ao chegar em Surumu, a equipe seguiu para a região do conflito, distante 6 quilômetros da sede da vila, onde foi realizada a invasão, nos fundos da fazenda Depósito, a maior localizada na terra indígena Raposa Serra do Sol.
No local havia aproximadamente 70 índios dentro da propriedade, armados de foices, terçados e bastante nervosos. Uma índia, de aproximadamente 40 anos, gritava que seu marido estava entre os feridos e que ele iria morrer. Mas disse que mesmo assim iria permanecer no local até que o arrozeiro Paulo Quartiero saísse da terra indígena. Também havia sangue no local e em uma das viaturas da PF.
Os índios, que já haviam levantado três barracões, construíram mais quatro até às 15h. Ao mesmo tempo, um caminhão se deslocou três vezes até a sede da vila trazendo mais índios para o local da ocupação.
Apenas três homens da Força Nacional de Segurança e um policial federal permaneciam no local do conflito, em duas viaturas. Por volta das 13h, outros 16 homens chegaram em mais viaturas para reforçar o policiamento.
A equipe de reportagem se deslocou até a sede de Pacaraima onde entrevistou o delegado Everaldo Eguchi e o secretário municipal de Saúde, Júlio Jordão. Ainda registrou a remoção dos feridos do Hospital de Pacaraima para Boa Vista na aeronave da FUNAI.
MILITARES DA RESERVA E RIZICULTORES FAZEM MANIFESTAÇÃO NO CENTRO CÍVICO
Com faixas e cartazes, a Associação dos Militares da Reserva de Roraima, rizicultores e outras entidades pediram atenção dos governos para as ações praticadas por Organizações Não-Governamentais (ONGs) que, segundo eles, ameaçam a soberania nacional.
Segundo o reservista Egídio Faitão, a manifestação não tem o objetivo de demonstrar nenhum tipo de revanchismo, mas explicitar que a categoria está atenta para os problemas ocorridos no Estado nos últimos meses e que podem vir a afetar a soberania nacional. “Estamos usando o princípio da liberdade, da vigilância cívica e patriótica”, disse complementando que um dos organismos responsáveis pelos conflitos que estão acontecendo do Estado são as Ongs que atuam na Amazônia. “É vergonhoso como as Ongs sopram a discórdia e a segregação social. Elas criam conflitos e plantam hoje sementes para fragmentar e facilitar a intervenção dos países europeus e da América no Brasil”, disse.
Ele citou como exemplo fatos que já estariam ocorrendo em países como a Bolívia, onde alguns estados estão pedindo independência. Faitão acredita que a intenção dos organismos internacionais é dividir a Amazônia em blocos (que seriam as reservas indígenas) para facilitar a intervenção e o domínio da Amazônia.
“Desde a época da colonização esses países já demonstravam cobiça sobre essa região. Com essa fragmentação, fica bem mais fácil uma intervenção internacional, assim como eles fizeram com a Iugoslávia, hoje dividida em vários países”, disse.
Outro militar da reserva, Paulo César, alegou que muitas comunidades indígenas estão se julgando acima da lei, pois mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a retirada de não-índios da reserva Raposa Serra do Sol, até o julgamento do mérito da questão, uma fazenda foi invadida por indígenas, armados de flechas.
“Se é para cumprir a lei, então que cumpramos todos. Os índios por acaso estão acima da lei? A Polícia Federal tem que agir nessa situação. Hoje estamos perdendo o direito de ir e vir em nosso Estado, porque os indígenas já param o cidadão na estrada, proíbem a entrada, ameaçam com flechas”, disse.
RIZICULTORES FICAM SABENDO DE INVASÃO DURANTE MANIFESTAÇÃO
O rizicultor Agenor Faccio lembra que a questão da retirada dos não-índios da Raposa Serra do Sol não é só dos rizicultores, e sim de toda a sociedade. “Por isso viemos aqui unir forças nessa manifestação”, disse. Ele cultiva arroz há 30 anos na região do Surumu e disse ter ficado preocupado com a notícia recebida durante a manifestação de que uma fazenda foi invadida por índios na região de Surumu, entrada principal da terra indígena.
“Esperamos que a Polícia Federal esteja lá realmente para manter a ordem. Nós estamos aguardando a decisão da Justiça, só que os indígenas não estão”, disse.
A esposa de um rizicultor que também tem propriedade na região dos conflitos, Regina Barili, disse que a sensação da família é de total insegurança nesse momento. “Estamos aqui para apoiar a manifestação, porque essa é uma questão que vai bem além dos rizicultores. Agora fiquei sabendo da invasão de uma fazenda e fiquei preocupada. Nós trabalhamos e lutamos a vida toda e agora somos tratados como invasores. É uma pena que os direitos humanos não são para seres humanos direitos”, disse. Folha de Boa Vista
O governador de Roraima, José de Anchieta Junior, disse ontem que foi surpreendido pela notícia do conflito na Raposa Serra do Sol quando viajava para Brasília, onde se reuniu com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Anchieta levantou suspeitas sobre os objetivos da invasão.
“Há algo estranho por trás dessa invasão. Por que acontece exatamente nesse período de indefinição? E, se houve invasão, não caberia aos fazendeiros reagir dessa forma”, afirmou, ao sair de audiência com o presidente do Supremo, Gilmar Mendes. Anchieta também visitou o relator das ações referentes à reserva, Carlos Ayres Britto.
O governo de Roraima é autor de uma das ações que pedem a anulação do decreto de demarcação da reserva. No entanto, como a primeira ação a ser julgada - que terá efeito sobre as outras - deverá ser a dos senadores Augusto Carvalho (PT-RR) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Anchieta pretende ser incluído como parte interessada. “Vamos acrescentar indagações sobre o laudo antropológico da demarcação e mostrar a realidade econômica do Estado.”
O governo de Roraima sustenta que a retirada dos arrozeiros vai comprometer cerca de 6% da economia do Estado e aponta irregularidades no estudo que embasou a demarcação. “Senti uma intenção de celeridade”, disse o governador ao sair do STF. - Luciana Nunes Leal - O Estado de São Paulo
FRASES:
- Indagado por jornalistas se a demarcação da reserva deve ser considerada regular, o ministro Marco Aurélio respondeu: “Se exacerbarmos a ocupação pretérita, nós vamos ter que entregar aos indígenas a minha cidade maravilhosa do Rio de Janeiro”
- "Nós vamos cumprir a lei com a nossa própria mão. Nós vamos lá lutar. Nós vamos lutar até o último índio", disse Vanildo Silva, índio da tribo Macuxi.
- "Cabeça do general Heleno é de criança" – frase do coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Dionito de Souza, líder dos índios que defendem a homologação.
GERANDO CONFLITOS
Opinião O Globo
O clima de tensão crescente em Roraima, em conseqüência das divergências sobre a terra indígena Raposa Serra do Sol, traduz-se, agora, em atos de violência concreta. A responsabilidade, no caso, é em grande parte de uma política indigenista que oscila entre a omissão e o caos.
Reportagem do GLOBO mostrou como a política indigenista, por omissão ou descontrole, depende em boa parte de Organizações Não-Governamentais (ONGs), muitas delas arrancando para si boa parte do orçamento que seria destinado a melhorar a condição de vida dos grupos indígenas. Na área da saúde, por exemplo, 51 ONGs cuidam dos indígenas, mas 26 delas foram trocadas, do ano passado para cá, quando se constataram irregularidades.
Assim se consegue potencializar conflitos que a presença efetiva do Estado teria evitado. E há mais conflitos pela frente. Em boa hora o Supremo recolocou em pauta a demarcação das terras indígenas na região, e sustou a remoção dos arrozeiros que ali habitam há muito tempo.
Não fosse a trégua estabelecida pelo Supremo, 50% do território de Roraima passariam a constituir-se de "nações indígenas" - as da Reserva Raposa Serra do Sol e mais as imensas terras ianomâmis. Por trás dessa realidade está o pensamento dos que querem estabelecer "compensações" aos indígenas por tudo o que aconteceu no passado.
Isso não tem relação com o Brasil moderno, e nem com a primeira abordagem política dessa questão - a do marechal Rondon, brasileiro ilustre, ele mesmo possuidor de sangue indígena.
É uma mistura de sonho e de ideologia a construção de grandes "nações" indígenas em territórios de fronteira do Brasil. À parte o fato de que, mantida a demarcação nos termos em que ela foi homologada pelo governo, Rondônia estaria inviabilizado como estado da Federação, a demarcação em terras contínuas da Raposa Serra do Sol criaria uma imensa vulnerabilidade na fronteira brasileira. Um passo adiante, e surgiria o fantasma de um desmembramento territorial. É o que causa preocupação nas Forças Armadas.
3 comentários:
Não é interessante que este novo drama ocorra justamente no dia em que o governador de RR está em Brasília para tentar apressar o julgamento das ações relacionadas à reserva, no STF?
Ah! esqueci.
Não é interessante haver um cinegrafista entre os índios, filmando os acontecimentos do ângulo mais favorável?
Os índios estão agindo igual ao MST, Saramar. Levam suas máquinas de filmar e tudo para suas invasões. Se o MST aprendeu com a guerrilha, os índios não ficam atrás. Os professores (as FARC)são os mesmos.
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