As Farc do Brasil, por Paulo Brossard*

A despeito da exaltação contínua e crescente do presidente da República em suas promoções diárias a respeito de seus próprios feitos, não me parece de bom augúrio o que vem acontecendo fronteiras adentro. Outro dia, o presidente falou do ódio de que era vítima, quando goza de invejável popularidade, deixando entrever que esta já não basta e a unanimidade começa a ser ambicionada. Isto não é bom e é perigoso. Em verdade, há vários sintomas de anomalias graves em setores importantes da vida nacional. Dou um exemplo.

Até ontem, tudo era cor-de-rosa. Subitamente, é preciso aumentar o juro para coibir o consumo. A balança comercial dá sinais de que uma mudança já se operou e pode piorar. Outrossim, dias passados, por ocasião do "abril vermelho", um governo marginal desmandou-se em manifestações concretas. São dados de inegável significado. É preciso ver as coisas como elas são. Trata-se de um governo que não se pode chamar de clandestino, porque ele é público, mas é um governo autônomo que desafia o governo legalmente estabelecido, tenha ele méritos ou chagas.

Se os acontecimentos do "abril vermelho" foram frontais no confronto não só com o governo, mas com as instituições, simplesmente ignoradas, o que sucedeu agora na genérica condenação ao chamado agronegócio foi evidentemente mais grave e mais frontal quando a organização, de Norte a Sul, em 13 Estados, se pôs em campo aberto arrostando governo e instituições, mais instituições do que governo, que, leniente, não vê ou faz que lhe não diga respeito.

A motivação aparente ou declarada é o agronegócio, pois é setor que vem mostrando grandes avanços, passando a um dos três setores mais importantes da economia nacional e assegurando alívio nas trocas externas. E como São Paulo é São Paulo, nada mais importante do que levar o ataque a ele, embora no grande Estado, hoje também voltado para a silvicultura, na indústria está sua maior fortaleza... A escolhida para a afronta foi a sede das empresas Votorantim, ao lado do Teatro Municipal, frente para a Praça Ramos de Azevedo. Tudo escolhido para dar ao ato ilícito o maior efeito nacional e internacional.

Com 90 anos de existência e 60 mil empregados, o conglomerado pode ser tido como símbolo da indústria paulista. Nada melhor para a escolha, como mandam os manuais da técnica revolucionária. Para requinte da felonia, o presidente do grupo empresarial vem de completar 80 anos de vida sem embargo de suas responsabilidades empresariais e também é o presidente da Sociedade de Beneficência Portuguesa ou do hospital dessa entidade de alta benemerência. Em uma palavra, era o modelo ideal para que fosse escolhido pelos "sem-terra", hoje com vários codinomes, embora o elemento humano possa ser o mesmo. A organização nacional e condenada é a Farc brasileira.

Mas, como foi dito, a ação predatória se desdobrou em 13 Estados, do Pará ao Rio Grande do Sul, abrangendo ferrovias, portos, hidrelétricas, estação experimental, vias públicas. Quanto à Vale do Rio Doce, foi a segunda invasão e paralisação em uma semana e a 15ª invasão até agora. Invasão de empresas importantes como a Odebrecht, a Klabin, a Bunge. Se agora foram 13 os Estados atingidos, na próxima vez serão 26?

Este o fato, em sua nudez. Não há quem não veja que isto vai muito além dos desvalidos "sem terra". O confronto deixou de ser "pacífico", como se anunciava, para ser campal. Do desrespeito a decisões da Justiça, passou a arrostar a polícia, depois a violência inesperada ou provocada. Por ora, a indignação contra a violência policial! As violências cometidas em 13 Estados são atos benfazejos de "movimentos sociais". A última se chama "assembléia popular"! Por que não dizer-lhes o nome próprio - Farc do Brasil? Jornal Zero Hora -*Jurista, ministro aposentado do STF



COMENTÁRIO - O CRIME DA MALA
Veja com que elegância o brilhante ex- Ministro Paulo Brossard se expressa para nos dizer que o MST é as Farc do Brasil. É impressionante a distância do refinamento desse homem público para com essa ralezada de hoje. Só tem um jeito Ministro Brossard: botar na CADEIA o chefe dessa escória humana. Não existe possibilidade de diálogo com essa turba, porque não existe um corpo mental nessas criaturas, e, sim, um projeto de instintos malignos, que atende apenas aos interesses do maior calhorda já conhecido neste país, que usa a bandeira da fome e da miséria para sangrar o Erário. Essa gente está abaixo da ignorância. Eles todos se enquadram no "crime da mala". Que saudade do Brasil de ontem! Por Gabriela/Gaúcho



LULA SUBESTIMA NÚMERO DE INVASÕES, MOSTRA ESTUDO
Em oito anos, balanços oficiais divulgaram menos da metade dos conflitos no campo. Geógrafo da Unesp cruzou dados da ouvidoria agrária, da CPT e de universidades e obteve lista detalhada das ações; União não comenta - Por Eduardo Scolese – Folha de São Paulo

O número de invasões de terra anunciado em balanços do governo federal nos últimos oito anos está 55% abaixo da realidade de conflitos do campo. Entre 2000 e 2007, ocorreram no país ao menos 4.008 invasões, contra as 1.827 divulgadas pela Ouvidoria Agrária Nacional, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em 2007, por exemplo, o balanço oficial apontou 298 ações dos sem-terra, ante as 533 registradas no recém-concluído trabalho de uma das principais autoridades da questão agrária no país, o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes.

Para chegar a esses números, Fernandes e sua equipe de alunos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) cruzaram as áreas invadidas que aparecem nas listas da ouvidoria, da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e de três universidades. Dessa confrontação, obtida pela Folha, surgiu uma nova lista, com cada uma das ações identificada com o nome da fazenda invadida, o município, o número de famílias envolvidas, o movimento que liderou a ação e a data da entrada dos sem-terra na propriedade.

Fernandes teve acesso a dados detalhados da ouvidoria agrária. Ele obteve a lista que contém, uma a uma, todas ações registradas pelo órgão e que sustentam os balanços oficiais -que trazem só o número total de invasões. O trabalho revela a ineficácia nos levantamentos da Pastoral da Terra, que faz isso desde os anos 80. Segundo o cruzamento feito por Fernandes, entre 2000 e 2007 o braço agrário da Igreja Católica deixou de incluir 1.171 ações em seus balanços. A CPT registrou 2.837 invasões nesse intervalo, 29% abaixo das 4.008 apontadas no trabalho da Unesp.

"Os dados da CPT e da ouvidoria não correspondem à realidade, mas correspondem à realidade possível. A confrontação permitiu perceber que essa realidade é maior ainda", afirma o professor Fernandes. Segundo ele, não há "conspiração" nem "interesse" na divulgação de dados maiores ou menores nos balanços divulgados até hoje por CPT e ouvidoria.

A discrepância dos dados fica clara em 2004, ano do primeiro "Abril Vermelho". Ao final daquele ano, a ouvidoria anunciou 326 invasões, contra 496 da CPT. Agora, após a confrontação dos dados, a Unesp fala em 703 ações identificadas.

A Folha apurou que tanto a CPT como a ouvidoria agrária trabalham para unificar seus dados, com auxílio da Unesp, antes de soltar novos balanços. Os últimos dados divulgados pela ouvidoria são de março. - A CPT sempre disse que, de fato, não consegue cobrir toda a realidade", afirma Antonio Canuto, secretário da coordenação nacional da CPT. "A gente diz que isso [balanços] é uma ponta do que se conhece."

Procurado pela reportagem, o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, não se manifestou.

Maria de Oliveira, que durante cinco anos atuou como ouvidora agrária nacional substituta, admite que o órgão não consegue levantar a realidade nacional das invasões. "A ouvidoria é confiável naqueles dados que conseguiu buscar, que obteve comprovação. Mas isso não representa que a gente tenha 100% das informações." Segundo o estudo, de 1988 a 2007, foram 7.562 invasões no país, uma média de 378 por ano e pouco mais de uma por dia.

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