Para Maria Celina D'Araújo, Forças Armadas são empurradas a funções que não são delas. Cientista política também diz achar grave o uso do Exército em um projeto que beneficia eleitoralmente um político da base aliada - Por Antonio Góis – Folha de São Paulo
Para a cientista política Maria Celina D'Araújo, do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica da FGV, o episódio com os jovens do morro da Providência assassinados após serem detidos pelo Exército precisa ser tratado como grave crise institucional de uso eleitoral das Forças Armadas para beneficiar um grupo político. Autora de estudos e livros sobre a atuação das Forças Armadas, ela diz que o governo Lula tem empurrado os militares a funções que não são as deles e que eles não querem assumir, como o papel de polícia ou a atuação em projetos sociais.
Segundo Maria Celina, estão "brincando" com as Forças Armadas, desvirtuando-as de sua função como se fossem a solução para todos os problemas.
FOLHA - Em 2006, quando o Exército ocupou o morro da Providência para tentar recuperar fuzis roubados, a senhora disse, em entrevista à Folha, que a atuação nas ruas por tempo indeterminado era um risco alto e que, em todas as vezes em que isso ocorreu, eles acabaram respondendo por abusos de poder. Não foi isso que aconteceu agora?
MARIA CELINA D'ARAÚJO - O que eu sempre disse foi que um soldado não é treinado para atuar como polícia. Quando isso acontece, acabam surgindo problemas de abuso de poder. Além disso, quando se põe um soldado para combater o narcotráfico, há sempre o risco de contaminação e de ele se envolver com os traficantes. Foi o que ocorreu na Bolívia, na Colômbia, no Paraguai e nos países que colocaram os militares para combater bandidos. Isso não foi uma profecia, mas um diagnóstico comum aos chefes militares que conheço.
Neste caso específico da Providência, o que considero mais grave é o fato de os militares estarem trabalhando num projeto político para beneficiar um candidato [à prefeito da cidade] que é do partido do vice-presidente da República e ex-ministro da Defesa [José Alencar].
É inédito no Brasil ver as Forças Armadas usadas em projetos nitidamente político-eleitorais. Já tivemos experiências de intervenções dos militares em comunidades e acusações de abuso de poder, mas seu uso como braço de um partido ou até de uma igreja [Marcelo Crivella, do PRB, é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus], é a primeira vez. É muito grave.
FOLHA - Os militares têm interesse em exercer essas funções?
MARIA CELINA - Não acredito. Militar não quer subir morro para combater bandido ou fazer serviço social. São atividades que a sociedade precisa, mas ela tem os órgãos certos para cada função. O que a gente observou no governo Lula foi um retrocesso do ponto de vista da política militar, que foi o uso político-eleitoral das Forças Armadas, contra a vontade dos militares, que têm que obedecer. Isso reflete uma falta de compreensão da nossa classe política. Estão brincando com as Forças Armadas como se elas fossem uma agência a ser usada a serviço de qualquer problema social, econômico, de transporte ou de saúde. Claro que em todo mundo elas podem cooperar nessas atividades, mas aqui estão banalizando isso.
FOLHA - A imagem do Exército fica arranhada?
MARIA CELINA - Sim. Pelo que me lembro, foi a primeira vez desde o fim da ditadura que as pessoas jogaram pedras no Exército. Há, sem dúvida, um crime a ser investigado porque um tenente se comportou como marginal. O comandante das operações também deve ser questionado por não ter tido capacidade de controlar seus homens. Suponho que as Forças Armadas, que são profissionais, não vão acobertar o caso como se fazia no regime militar.
Todos terão que pagar pelo que fizeram, mas o que eu estou querendo chamar a atenção é que eles não deveriam estar naquele lugar. Há no episódio uma questão fundamental a ser debatida que é o uso que estamos fazendo de nossas instituições.
Na foto: Lula com Senador Crivella
POR QUÊ?
Polícia evita perícia em favela do Rio onde jovens teriam morrido? Leia aqui, no Folha Online
LULA DEVE EXPLICAÇÕES. URGENTES!
O pior, na situação específica, é que, segundo se divulgou, o titular do Comando Militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira Pinto, manifestou-se contra a participação da Força no mencionado projeto do senador Crivella para o Morro da Providência, chamado Cimento Social, que recebeu R$ 12 milhões do Ministério das Cidades. O parecer do general Silveira Pinto, compartilhado pelo comandante do Exército, general Enzo Peri, manifesta sua inquietação ante a possibilidade de contatos entre militares e traficantes e com a ausência de um claro marco legal para a ação das Forças Armadas contra o banditismo.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, prometeu apresentar proposta nesse sentido até o fim do ano. Nada disso, porém, deteve o presidente Lula, temerariamente resolvido a favorecer o aliado Crivella - e, desde dezembro, 50 oficiais-engenheiros e 200 homens de apoio atuam no Morro da Providência, não raro sob provocações a que estão impedidos de reagir. Ali continuarão, apesar da hediondez praticada por um tenente de 25 anos que se sentiu diminuído perante a tropa pela decisão de um superior - e tratou de se vingar.
O país exige o imediato esclarecimento da conspiração que atropelou a Constituição para favorecer um candidato. O chefe do Comando Militar do Leste desaconselhou, num parecer remetido ao superior imediato, a presença de tropas no Morro da Providência. O secretário de Segurança do Rio declarou no Congresso, há semanas, que soube pelos jornais da frente aberta pelo Exército nas cercanias do Projeto Cimento Social. O prefeito César Maia também ficou à margem dos entendimentos. Quem participou dos acertos ilegais? O que tem a dizer o comandante do Exército? E o ministro das Cidades? E o ministro da Defesa? E o senador Marcelo Crivella? Trecho de Augusto Nunes do JB Online
Para a cientista política Maria Celina D'Araújo, do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica da FGV, o episódio com os jovens do morro da Providência assassinados após serem detidos pelo Exército precisa ser tratado como grave crise institucional de uso eleitoral das Forças Armadas para beneficiar um grupo político. Autora de estudos e livros sobre a atuação das Forças Armadas, ela diz que o governo Lula tem empurrado os militares a funções que não são as deles e que eles não querem assumir, como o papel de polícia ou a atuação em projetos sociais.
Segundo Maria Celina, estão "brincando" com as Forças Armadas, desvirtuando-as de sua função como se fossem a solução para todos os problemas.
FOLHA - Em 2006, quando o Exército ocupou o morro da Providência para tentar recuperar fuzis roubados, a senhora disse, em entrevista à Folha, que a atuação nas ruas por tempo indeterminado era um risco alto e que, em todas as vezes em que isso ocorreu, eles acabaram respondendo por abusos de poder. Não foi isso que aconteceu agora?
MARIA CELINA D'ARAÚJO - O que eu sempre disse foi que um soldado não é treinado para atuar como polícia. Quando isso acontece, acabam surgindo problemas de abuso de poder. Além disso, quando se põe um soldado para combater o narcotráfico, há sempre o risco de contaminação e de ele se envolver com os traficantes. Foi o que ocorreu na Bolívia, na Colômbia, no Paraguai e nos países que colocaram os militares para combater bandidos. Isso não foi uma profecia, mas um diagnóstico comum aos chefes militares que conheço.
Neste caso específico da Providência, o que considero mais grave é o fato de os militares estarem trabalhando num projeto político para beneficiar um candidato [à prefeito da cidade] que é do partido do vice-presidente da República e ex-ministro da Defesa [José Alencar].
É inédito no Brasil ver as Forças Armadas usadas em projetos nitidamente político-eleitorais. Já tivemos experiências de intervenções dos militares em comunidades e acusações de abuso de poder, mas seu uso como braço de um partido ou até de uma igreja [Marcelo Crivella, do PRB, é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus], é a primeira vez. É muito grave.
FOLHA - Os militares têm interesse em exercer essas funções?
MARIA CELINA - Não acredito. Militar não quer subir morro para combater bandido ou fazer serviço social. São atividades que a sociedade precisa, mas ela tem os órgãos certos para cada função. O que a gente observou no governo Lula foi um retrocesso do ponto de vista da política militar, que foi o uso político-eleitoral das Forças Armadas, contra a vontade dos militares, que têm que obedecer. Isso reflete uma falta de compreensão da nossa classe política. Estão brincando com as Forças Armadas como se elas fossem uma agência a ser usada a serviço de qualquer problema social, econômico, de transporte ou de saúde. Claro que em todo mundo elas podem cooperar nessas atividades, mas aqui estão banalizando isso.
FOLHA - A imagem do Exército fica arranhada?
MARIA CELINA - Sim. Pelo que me lembro, foi a primeira vez desde o fim da ditadura que as pessoas jogaram pedras no Exército. Há, sem dúvida, um crime a ser investigado porque um tenente se comportou como marginal. O comandante das operações também deve ser questionado por não ter tido capacidade de controlar seus homens. Suponho que as Forças Armadas, que são profissionais, não vão acobertar o caso como se fazia no regime militar.
Todos terão que pagar pelo que fizeram, mas o que eu estou querendo chamar a atenção é que eles não deveriam estar naquele lugar. Há no episódio uma questão fundamental a ser debatida que é o uso que estamos fazendo de nossas instituições.
Na foto: Lula com Senador Crivella
POR QUÊ?
Polícia evita perícia em favela do Rio onde jovens teriam morrido? Leia aqui, no Folha Online
LULA DEVE EXPLICAÇÕES. URGENTES!
O pior, na situação específica, é que, segundo se divulgou, o titular do Comando Militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira Pinto, manifestou-se contra a participação da Força no mencionado projeto do senador Crivella para o Morro da Providência, chamado Cimento Social, que recebeu R$ 12 milhões do Ministério das Cidades. O parecer do general Silveira Pinto, compartilhado pelo comandante do Exército, general Enzo Peri, manifesta sua inquietação ante a possibilidade de contatos entre militares e traficantes e com a ausência de um claro marco legal para a ação das Forças Armadas contra o banditismo.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, prometeu apresentar proposta nesse sentido até o fim do ano. Nada disso, porém, deteve o presidente Lula, temerariamente resolvido a favorecer o aliado Crivella - e, desde dezembro, 50 oficiais-engenheiros e 200 homens de apoio atuam no Morro da Providência, não raro sob provocações a que estão impedidos de reagir. Ali continuarão, apesar da hediondez praticada por um tenente de 25 anos que se sentiu diminuído perante a tropa pela decisão de um superior - e tratou de se vingar.
O país exige o imediato esclarecimento da conspiração que atropelou a Constituição para favorecer um candidato. O chefe do Comando Militar do Leste desaconselhou, num parecer remetido ao superior imediato, a presença de tropas no Morro da Providência. O secretário de Segurança do Rio declarou no Congresso, há semanas, que soube pelos jornais da frente aberta pelo Exército nas cercanias do Projeto Cimento Social. O prefeito César Maia também ficou à margem dos entendimentos. Quem participou dos acertos ilegais? O que tem a dizer o comandante do Exército? E o ministro das Cidades? E o ministro da Defesa? E o senador Marcelo Crivella? Trecho de Augusto Nunes do JB Online
INDÚSTRIA DA INDENIZAÇÃO. DEFENSOR: FAMÍLIAS DE MORTOS PODEM RECEBER R$1 MI
Odefensor público da União André Ordacgy afirmou nesta tarde que as famílias dos três rapazes que teriam sido seqüestrados por 11 militares do Exército no fim de semana no morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro, e entregues a traficantes rivais, no morro da Mineira, no Catumbi, podem receber mais de R$ 1 milhão em indenizações e pensões vitalícias. Segundo o defensor, cada família pode receber R$ 300 mil. O valor é calculado com base em uma média feita em cima de casos anteriores. Além disso, a Justiça pode determinar uma pensão vitalícia para cada jovem tendo em vista o que poderiam ganhar em vida. Ordacgy espera que os parentes procurem a Defensoria, pois este tipo de ação depende do pedido dos familiares. Por Ernani Alves – Leia mais aqui, Portal Terra -
Um comentário:
Falando em indenizações, porque o governo incompetente com a saúde e segurança pública, nunca pensou em indenizar às famílias que perdenram seus filhos por causa da dengue. Nunca vi o seu Lula vir à público mostrar-se indignado com aquela criança que foi arrastado no asfalto pelo criminosos, que ficam fora da cadeia praticando crimes. E, por que
ele não ficou indignado com a roubalheira e o suposto crime praticados por eles, no caso Celso Daniel? É campanha mesmo contra o exército, não há dúvidas!
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