O pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que chamou estudantes ricos de babacas repercutiu de modo negativo no meio universitário.
"Não somos babacas. Talvez só sejamos utópicos por querer uma sociedade melhor", disse o coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Tiago Cherdo, 23.
Em discurso proferido anteontem ao lançar um campus universitário na cidade de Juazeiro do Norte (CE), Lula disse que os estudantes ricos do país são "babacas" por, de acordo com ele, não aceitarem o ingresso de pessoas pobres em universidades e por criticarem o ProUni (Programa Universidade para Todos).
Cherdo, estudante de ciências biomédicas, rebateu as críticas do presidente e disse se sentir ofendido pelo discurso dele. "O problema é que, ao invés de investir no ensino básico e fazer com que o estudante da rede pública tenha como concorrer com o da rede particular, o governo criou o ProUni como um prêmio de consolação para as pessoas menos abastadas. Não sei que revolução na educação é essa que ele diz fazer."
O discurso do dirigente estudantil ressoa em outras instituições públicas, mas está longe der ser unanimidade. "O presidente precisa tomar cuidado com o que diz. Me sinto ofendido por conta dessa generalização", disse o acadêmico de relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo) João Pedro Caleiro, 22.
"Não me sinto atingida pelo discurso do Lula. Nem todos universitários são contra o ProUni ou invadem reitorias. Quem geralmente faz isso são aqueles que só criticam e não acrescentam nada à sociedade nem a ninguém", afirmou a estudante de arquitetura e Urbanismo da USP Anne Catherine Waelkens, 22.
Para o estudante de administração da USP Paulo Eduardo Vendramini, 23, o fato de o presidente criticar os estudantes ricos revela que o petista não estaria preparado para governar o país e implantar projetos na área de educação para toda a população. "A declaração dele mostra que o presidente não está disposto nem a olhar para o lado e escutar todos os estudantes, para quem ele também tem que governar."
A colega de Vendramini, Renata Costa, 22, vai além: "Dar mais espaço para alunos em universidades sem melhorar a estrutura não é a solução". Em 2007, o governo criou o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que amplia de 12 para 18 a média de alunos por professor nas universidades federais. Da Redação Folha de São Paulo – Por Afonso Benites
Merecem enfáticos aplausos os ministros do Supremo Tribunal Federal que, unanimemente, aprovaram a súmula vinculante que veta a prática de nepotismo em todo o poder público brasileiro – incluindo Executivo, Legislativo e Judiciário em qualquer unidade federativa do país. (Ficam livres da nova regra ministros e secretários estaduais e municipais).
A decisão conduz a uma reflexão pedagógica: mais uma vez, no "país do jeitinho", o Brasil honesto precisou da interferência do Poder Judiciário para que fosse dado o primeiro passo rumo à eliminação de um (mau) costume que há séculos macula moralmente a vida pública. Está claro na súmula: viola a Constituição Federal a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral, ou por afinidade, até o terceiro grau para cargo em comissão ou de confiança, ou função gratificada na administração pública, direta ou indireta, em quaisquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, e dos municípios.
Parece dispensável lembrar, no entanto, que se a obediência aos princípios constitucionais da moralidade, da impessoalidade, da eficiência administrativa e da igualdade fosse seguida pelos homens e mulheres públicos, o gesto reprovável jamais viraria uma prática disseminada por todo o território nacional. Conforme sublinhou a ministra Cármem Lúcia Rocha, na sessão de quarta-feira, bastaria que os mandatos fossem exercidos com decência. A regra parece elementar aos olhos de um cidadão de bem. Mas não para quem tem vocação para a desfaçatez.
Seguir essa regra básica, comum às pessoas éticas, seria suficiente para que toda a engrenagem da gestão pública girasse livre do oportunismo de parasitas cujas contratações respeitaram apenas um requisito básico em seus currículos: o sobrenome. O nepotismo se entranhou de tal forma na vida pública brasileira que contaminou todas as esferas dos três poderes e se espalhou por todos os recantos do país. Criou tentáculos que confundem a opinião pública e a leva a crer que tal atitude nociva é algo plenamente previsível e aceitável. Não é.
Louvável também a iniciativa do STF de ceifar o igualmente nefasto nepotismo cruzado – quando há indicação de um parente para um posto no gabinete do colega parlamentar e, este aceita, em troca, a indicação do familiar daquele que lhe prestou o favor. A prática transforma legisladores e administradores em verdadeiros feudalistas do serviço público. Dividem, afinal, o funcionalismo em territórios cujas fronteiras obedecem ao poder de influência política de cada "senhor".
A boa notícia é que a pressão decorrente da decisão do STF começa a gerar bons frutos. Um levantamento do JB, publicado na edição de hoje, mostra que, no mínimo, 30 deputados federais nomearam familiares para cargos em seus gabinetes. No Senado, dois casos se tornam mais evidentes. O primeiro-secretário Efraim Morais (DEM-PB) presenteou, pelo menos, quatro parentes com vagas na Casa. Por outro lado, o precavido senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) já anunciou que determinará a exoneração do sobrinho que ocupava um cargo em seu gabinete.
Em todos os casos, deve prevalecer o óbvio: uma dose razoável de ética e bons costumes constitui um ótimo remédio para secar essa fonte de atitudes imorais que habita na essência de nossos parlamentares e administradores públicos. O lado mais perverso do nepotismo está na constatação de que o protagonista de tal ato embaralha a questão pública com a privada, e transforma os meios públicos de produção em escritórios da vida particular de cada um. A confusão entre o patrimônio público e privado fere os ideais dos que elegeram representantes acreditando que os escolhidos seriam os mais qualificados para gerir aquilo que é de bem comum. O país, felizmente, começa agora a lancetar tais tumores.
MALDITAS COTAS!
Políticos já falam em criar Cota para contratação de parentes
Parlamentares já falam em uma saída para flexibilizar a regra que proíbe o nepotismo em todas as esferas da administração pública: criar cotas para parentes. Inspirados no sistema de cotas para o ingresso de negros em universidades, políticos defendem que o Congresso aprove uma lei abrindo brechas para a contratação de parentes. "Já estão falando por aqui em criar cota para parentes", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Apesar de ser um tema que historicamente encontra resistência no Legislativo – muitos deles empregam parentes em gabinetes –, diversos deputados e senadores disseram que apóiam a deliberação do STF, mas reclamam de eventuais excessos nas normas para coibir a prática. – Leia matéria completa aqui, no Diário do Comércio
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