O ministro Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, divergiu da medida provisória que autoriza o Banco do Brasil e a Caixa a comprarem ações de bancos ou construtoras em dificuldades. A MP é obra da turma do ministro Guido Mantega (Fazenda). O presidente do BC considerou-a desnecessária e teme que agora o Brasil importe o pessimismo do mercado internacional. Meirelles não tornou pública a sua discordância. Por Cláudio Humberto
PACOTE INFELIZ - Editorial da Folha
Medida provisória que libera bancos estatais para fazer compras sem limite tem equívocos e precisa ser reformada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto esconjurou a hipótese de editar um pacote anticrise, mas acabou produzindo o seu. Antes tivesse mantido a palavra. A medida provisória 443, que autoriza bancos estatais a comprarem qualquer tipo de empresa sem a devida prestação de contas, é uma mistura de equívocos e irresponsabilidade.
Com o pacote, o governo federal dá uma guinada perigosa no modo de abordar os efeitos do desarranjo global sobre o país. A autorização para que Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal adquiram participações ilimitadas em "instituições financeiras, públicas ou privadas" dissemina a impressão de que, para o governo, os problemas com as finanças domésticas são muito mais graves do que se supunha.
A mensagem colide com a frase "Não tem banco quebrando", dita pelo ministro Guido Mantega na entrevista em que anunciou as novas medidas. Choca-se também com a convicção de que, à diferença da situação nos EUA e na Europa, não há risco sistêmico sobre a malha bancária nacional. Até onde os dados permitem ver, as principais instituições financeiras do Brasil estão bem capitalizadas e correm risco baixo em suas operações.
Há um problema, já detectado, mas que afeta a periferia do sistema bancário. Instituições menores têm dificuldade para conseguir linhas de crédito de curtíssimo prazo. O Banco Central já está agindo para suprir essa necessidade emergencial. Em situações mais delicadas, a compra de carteiras de crédito dessas instituições por bancos maiores ou mesmo a transferência do controle são soluções plausíveis e inofensivas para o sistema.
A habilitação do Banco do Brasil para atuar nesse mercado de aquisições, desde que restritas ao segmento financeiro, é o único ponto defensável da medida provisória -embora, mesmo assim, devesse haver fiscalização, da parte do Congresso, sobre cada passo dado nessa direção. O BB tem ações negociadas em Bolsa e está submetido a um nível razoável de controle público.
A inclusão da Caixa Econômica Federal, banco 100% estatal, é bastante questionável. A criação de um braço da Caixa para comprar participações, sem limites, em empresas de quaisquer setores da economia não faz nenhum sentido e deveria ser derrubada no Congresso. A pretexto de ajudar o setor imobiliário, a intenção anunciada pelo governo é que a CEF se torne sócia de empreiteiras -remédio errado, decorrente de diagnóstico errado.
A construção civil debate-se contra a escassez de capital de giro: falta crédito, principalmente para iniciar novos projetos. A ação dos bancos estatais nessa área deveria limitar-se a assegurar um nível mínimo de empréstimos de curto prazo ao segmento, enquanto durar a fase aguda da crise. Outro eixo de atuação poderia ser financiar fusões e aquisições no segmento, onde atua grande número de empresas. Para isso já existe o BNDES. O guichê de ajuda obscura a construtoras proposto para a Caixa é, portanto, dispensável.
O governo Lula difunde a versão de que, ao editar a MP, inspirou-se no pacote de Gordon Brown, premiê britânico, que inaugurou a linha de estatizar parcialmente grandes bancos a fim de estancar o pânico. A peça brasileira mais se assemelha, contudo, ao cheque em branco solicitado pelo Tesouro dos EUA ao Congresso daquele país.
O Legislativo brasileiro não deveria endossar o texto sem determinar alterações fundamentais, em nome do interesse público.
DA MAROLA AO TSUNAMI
A crise financeira mundial chegou ao Brasil com todo o seu impacto destrutivo. Em setembro, os primeiros ventos dessa tempestade já podiam ser sentidos no âmbito mais restrito do mercado financeiro. A volatilidade dos ativos brasileiros, negociados aqui e no exterior, começou a aumentar de forma desordenada. Mas esses sentimentos não chegavam ao lado real da economia, que vivia ainda as doces brisas de um longo verão de crescimento.
A posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou muito para preservar esse entusiasmo. Qualificando a crise financeira como uma questão dos países do Primeiro Mundo, ele reforçava a impressão de que as dificuldades enfrentadas eram coisa de ricos. Mas essa cortina de fumaça rósea desapareceu agora em outubro. Por Luiz Carlos Mendonça de Barros, na Folha - Assinante lê mais aqui
O contágio da crise global na economia brasileira produziu uma deterioração das expectativas da indústria nacional para os próximos seis meses. Os executivos das indústrias incluíram no cenário que esboçam para o futuro próximo três variáveis que, antes da crise, não freqüentavam os seus planos:
1. Passaram a estimar uma queda no consumo dos seus produtos;
2. O cheiro de queimado levou à redução na previsão de compra de matérias-primas;
3. Subiu no telhado também a folha de salários. Trabalha-se agora em duas linhas: manter o número de empregados ou demitir pessoal.
O cenário turvo é revelado por uma pesquisa realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Foram entrevistados os gestores de 1.443 indústrias grandes, médias e pequenas de todo país. Deu-se entre os dias 30 de setembro e 20 de outubro. O resultado veio à luz nesta quinta (23). Os dados foram publicados no boletim Sondagem Industrial, editado pela CNI. Está disponível aqui. Continue lendo no Josias de Souza da Folha
As distribuidoras que compram energia de Itaipu estão pagando mais caro pelos megawatts da hidrelétrica. Nesta semana, a Aneel autorizou reajuste de até 16% na tarifa de energia de duas distribuidoras que atuam em São Paulo: CPFL e Bandeirante. O repasse acontece porque boa parte das distribuidoras de energia do Sul, Sudeste e Centro do Oeste do país, compra energia de Itaipu. O analista Walter Devido ressalta que a usina, por ser binacional, brasileira e paraguaia, tem sua tarifa estipulada em dólar. A Bandeirante abastece 1,3 milhão de unidades em 28 municípios paulistas, principalmente, nas regiões do Alto Tietê e Vale do Paraíba. Já a CPFL, leva energia a 1,2 milhão de unidades de consumo em 26 cidades da Baixada Santista e Oeste Paulista. JP Online
PARA ITAMARATY, LUGO PODE FAZER POUCO PARA BRASIGUAIOS
Líder paraguaio estaria de mãos atadas e não pode contornar ameaças de expulsão, avaliam diplomatas
O Itamaraty avalia que o presidente Fernando Lugo, do Paraguai, está de mãos atadas e não tem como contornar as ameaças dos movimentos camponeses para tentar expulsar do país os agricultores brasileiros. Os diplomatas calculam, também, que uma possível onda de violência nos Departamentos de San Pedro e do Alto Paraná resultará na morte de cidadãos brasileiros. Para diplomatas que acompanham a situação no Paraguai, o presidente Lugo enfrenta um delicado e grave conflito político interno neste início de mandato. Por Denise Chrispim Marin, de O Estado de S. Paulo - continue lendo aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário