Brasil – Desastres conservados

Já falam nos bilhões do prejuízo com a atual calamidade. Mas o que valem em comparação com uma casa perdida? – Por Jânio de Freitas – Folha de São Paulo

Há exatos 25 anos, um dos governadores recém-vitoriosos na primeira eleição sem restrições, ao apagar da ditadura, irrompeu na notoriedade nacional com o espetáculo de sua ação em uma calamidade feroz. Era a nova figura de Esperidião Amin, que se deparou, mal estreara, com os horrores da enchente gigantesca no mesmo Vale do Itajaí e cercanias agora vitimados. As providências de engenharia, para prevenir o desastre das vazantes excessivas, começaram a ser definidas ainda antes de baixadas as águas e logo asseguradas pelo governo federal (Santa Catarina não teria recursos para tanto).

No quarto de século decorrido desde então, as enchentes cumpriram com regularidade a sua programação anual, concedendo apenas na intensidade variável das suas perversidades. Mas, sempre, cada uma delas configurando a advertência do que poderia vir no ano seguinte. Assim atravessaram os dois anos finais da ditadura com Figueiredo, os dois anos de Collor, o mesmo de Itamar, cinco de Sarney, oito de Fernando Henrique e, já se pode dizer, seis de Lula.

Os ministérios incumbidos das obras mudaram de nome, cresceram nos bilhões das moedas que mudaram de nome, o regime mudou de nome, mudaram dezenas de nomes de ministros como se não houvesse nem um. E o legado de tudo isso foi manter em perfeitas condições as características topográficas, geológicas, fluviais e habitacionais adequadas a novas calamidades.

Já falam, por aí, nos imaginados bilhões do prejuízo com a atual calamidade. Mas o que valem esses bilhões em comparação com a casa perdida por uma família que dedicou tanto da vida a consegui-la, a dar-lhe os bens simplórios que nunca se completam? O custo da orfandade daquela criança, de qualquer criança, cabe nos bilhões do prejuízo citados pelos técnicos e pelos governantes? E os filhos esmagados, sufocados na lama, sumidos nas águas, que valor os técnicos e governantes dão à sua perda pela mãe, pelo pai? Ou não pensaram nisso?

Em proporções que só representam calamidade para os atingidos, e apenas um registro rápido nos noticiários, os desatinos da natureza repetem-se pelo país todo, o ano inteiro. Grande parte seria evitável ou poderia ser atenuada, muitos são objeto de velhos projetos preventivos, mas seguem se repetindo como se fossem uma fatalidade acima do poder humano. É que estão abaixo do poder dos interesses. Eleitorais, comissionais, negociais. Lidam com vidas irreconhecíveis, por não terem presença social, como classe.

No atual desastre catarinense, duas ilustrações resumem o governo. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, a quem caberia rápida reação já aos primeiros sinais da calamidade, foi de uma lerdeza muito expressiva, digna de um garçom baiano como ele. É até improvável que soubesse o que é e onde é o Vale do Itajaí. Lula, por sua vez, só ontem se dispôs ao esforço de dar um pulo em Santa Catarina. E assim mesmo porque também ontem recebeu duras críticas por sua distância apática. Críticas acompanhadas da observação de que essa é a sua conduta costumeira nas calamidades e tragédias.




FALTA DE AÇÃO PREVENTIVA CONTRIBUIU PARA TRAGÉDIA EM SC
A falta de ação preventiva das autoridades contribuiu para a tragédia em Santa Catarina, de acordo com especialistas. Diques e mudança no traçado de rios teriam diminuído o impacto da chuva. Mas, passada a última grande enchente em 1983, os projetos para essas obras foram engavetados. Assista ao vídeo da reportagem
aqui, na BandNews




CHUVAS: UNIÃO GASTOU APENAS 26% COM PREVENÇÃO
Todo fim de ano a história se repete: começa a temporada de chuvas e os desastres acontecem. Nesse final de novembro, o estado de Santa Catarina é o mais atingido pelo início das chuvas. O desastre, no entanto, poderia ter menor proporção caso os esforços governamentais das três esferas (federal, estadual e municipal) fossem maiores com prevenção, como no caso do programa de prevenção e preparação para emergências e desastres, tocado pelo Ministério da Integração Nacional. Material completo
aqui no Site Contas Abertas






DESESPERO

População tenta invadir prédio do Corpo de Bombeiros em Itajaí-SC

Em Itajaí, uma das regiões mais atingidas pelas chuvas em Santa Catarina, filas quilométricas se formaram ontem com a divulgação, precipitada por uma emissora de TV, da distribuição de cestas básicas. Moradores ameaçaram invadir alguns locais, como o Corpo de Bombeiros do bairro de Cordeiros. A PM e a Polícia Ambiental foram chamadas. "A realidade é que não está chegando comida para todos", afirmou o major Edson Biluk.

Há 41 mil desabrigados em Itajaí. Comida e água, escassas, têm sido distribuídas até por barco. Ainda há bairros inundados. Com a onda de saques, os bombeiros têm feito rondas nas ruas alagadas.

Boatos espalhados pela internet afirmavam que Itajaí deveria ser evacuada ainda ontem, sob risco de nova e mais catastrófica inundação. A prefeitura teve de avisar às rádios para divulgar que a notícia era infundada. Mas ela já dava medida do ânimo exaltado na região.

Um colégio foi saqueado ontem de manhã. Foram levados computadores, impressoras, televisão e outros materiais da Escola Estadual Francisco de Paula Seara. Todas as escolas deverão permanecer fechadas até segunda-feira.

Remédios falsificados foram levados pela enchente e apareceram boiando na frente de prédios da orla. As autoridades alertam para o risco de consumir esses medicamentos. Os produtos foram aprendidos e serão incinerados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo - via Uol/Notícias





PERIGO DE CONVULSÃO SOCIAL

24 pessoas são presas em Itajaí após saques

Enquanto Santa Catarina confirmava ontem a 97a. morte a situação se agravava entre os sobreviventes, em meio a casos de saques e prisões.

Apenas no município de Itajaí, onde a enchente atingiu 80% das moradias, 24 pessoas --na maioria delas jovens-- foram presas desde a madrugada de anteontem por saques num mercado atacadista.

Foram as primeiras prisões de saqueadores desde o início da tragédia no Estado.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil catarinense, Maurício Eskudlark, a preocupação, agora, é que ocorra uma "convulsão social" por causa do medo desses crimes, cujos casos, afirmou, ainda são isolados. "Isso cria insegurança. Pessoas já não querem sair de casa. Muitos podem tentar fazer justiça com as próprias mãos", afirmou o delegado-geral. "Quem precisa receber donativos e ouve que está tendo onda de saque fica insuflado, vai procurar resolver a questão pelos próprios meios. Vamos coibir eventuais atos violentos."

A onda de saques não se limita a supermercados. Várias casas do bairro São Vicente foram invadidas por ladrões. Um deles, dizem os moradores, foi pego por vizinhos de uma das casas saqueadas. Foi agredido e jogado nas ruas alagadas. Como não sabia nadar, foi levado pela correnteza e morreu afogado. Outro foi espancado, mas foi salvo por policiais. A polícia, porém, não confirma essas informações. Leia mais aqui, na
Folha UOL

7 comentários:

Anônimo disse...

que adianta ficar com essa cara de nádegas agora? depois que o mundo desabou? os políticos tinham que ser processados por crime de responsabilidade.

Anônimo disse...

Por que o sinistro Tarso Genro não manda a Força Nacional ir proteger a população em Santa Catarina? Ou será que ele acha mais importante manter centenas de homens na Raposa Serra do Sol importunando a população local?

Unknown disse...

movimento vigilia contra a corrupção deveria ser contra preconceitos também, mas vejo que os ditos moralistas não se enquadram assim, pois vejam o que escrevem ...Geddel Vieira Lima, a quem caberia rápida reação já aos primeiros sinais da calamidade, foi de uma lerdeza muito expressiva, digna de um garçom baiano como ele...Deveriamos entrar com uma ação contra estes preconceituosos e não me venham qdizer que foi brincadeirinha!

Anônimo disse...

Paulo

Entra mesmo com uma ação contra o Brasil inteiro, e não se esqueça de incluir o Jânio de Freitas da FSP, ok?

Aproveita, se é que lhe sobra algum espaço nesta tua "indignação seletiva", e entra também com uma ação contra o seu mestre "o beócio da Silva", por crime de responsabilidade, como bem apontou nosso leitor, Kalil.

Mas, com certeza, tu dirás que também é preconceito nosso, acusar Lula de ser o presidente mais vagabundo e preguiçoso que este país já teve.

Vocês adoram sentar-se sobre o próprio rabo e apontar para outra direção, na hora do "pega prá capar".

Unknown disse...

Olá caro Gaúcho!
Tu deves ser daqueles que acreditam nos heróis farroupilhas.
Para quê toda essa estupidez. Bem que dizem - na falta da razão impera a violência -. Obrigado por suas palavras com tanto argumento.

Anônimo disse...

Que estupidez, que violência Paulo? Tá de TPM, é?

Quando falo que vocês são experts em sentar-se sobre o próprio rabo, não falo sem razão. Primeiro, tu vens com esta conversa mole de "preconceito", depois, atacas de boi manso.

E queres saber: OIGALÊ!! para os heróis da farroupilha! E muito guasqueaço nos "messias"?

Anônimo disse...

Estou com Paulo. Vamos entrar com uma ação contra o preconceito. Mas vamos começar do início ok. Que tal enquadrarmos o maior preconceituoso do Brasil?

Um trecho do livro "Viagens com o Presidente", de Eduardo Scolese (Folha de São Paulo) e Leoncio Nossa (O Estado de São Paulo).

"Numa tarde de calor infernal, o presidente Lula estava suado, abraçando e beijando admiradores numa cidadezinha da Bahia, e pediu uma toalha, com urgência.

O ajudante de ordens ouviu e saiu meio desajeitado, lento, e Lula, irritado, comentou:

"Olha o bundão, lá vai o bundão pegar a minha toalha".