Lula: crise não impedirá que brasileiro compre seu 1º sutiã

ELE SE ACHA “O” MARQUETEIRO

Presidente incentiva população a realizar sonho e diz que pior da crise já passou - Por Luiza Damé e Chico de Góis – O Globo


Após ouvir queixas contra a falta de crédito, o Lula da Silva cobrou ontem mais agilidade na implementação de medidas do governo contra a crise global e determinou a criação de um grupo de trabalho do Ministério da Fazenda para estudar a redução dos prazos. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, disse ainda que o Brasil tem feito a lição de casa, trabalhando "como formiguinha", mas os demais países se comportam "como cigarras".

Lula rebateu críticas de que é muito otimista na crise, afirmando que seu papel é dar esperança e evitar que o pânico tome conta da sociedade. Acrescentou que tem de incentivar a população a comprar, citando "o direito de sonhar em ter o seu carrinho", a casa, a televisão e o primeiro sutiã - em referência à propaganda de uma lingerie.

- Onde puder falar para ninguém deixar de comprar o que estava pensando, vou dizer- disse Lula. - Se a gente permitir que, por medo, as pessoas deixem de comprar a sua casinha, de fazer a reforma na casa, financiar o sonho mágico de ter carro, que por medo a pessoa não queira trocar a televisão, não queira utilizar o primeiro sutiã, o que vai acontecer?

Dirigindo-se ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Lula criticou a demora entre a tomada de decisão do governo e o efeito das medidas na ponta:

- Esse é um problema crônico da estrutura funcional do Estado. Entre você anunciar e a máquina estar preparada para fazer aquilo sair na ponta, leva alguns dias, o que para um sistema parece ser normal. Mas, para quem está precisando do remédio, demora demais.

Lula mandou Mantega reunir as instituições federais responsáveis pelas novas linhas de crédito. Para o presidente, os dirigentes de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES têm disposição de agilizar o processo, mas a normatização, adotada há mais de 30 anos, dificulta a implementação das medidas. Ele afirmou que, num momento de pouca liquidez, o prazo de liberação do dinheiro é extremamente importante:

- Quando estamos vivendo um processo de anormalidade, precisamos colocar um pouco mais de óleo nessa máquina para que ela possa fluir com um pouco mais de rapidez.

LULA: OBAMA É INTELIGENTE PARA AGIR CONTRA A CRISE

O presidente destacou que somente 20% do crédito no Brasil dependem do exterior, o que não justificaria a falta de dinheiro para o setor produtivo.

Para Lula, o pior da crise já passou e líderes internacionais tomaram medidas para combatê-la. Ele disse acreditar que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, aproveitará a força política conquistada nas urnas: -- O Obama é suficientemente inteligente para que tome as medidas logo e evite que a crise se propale.





TEMOR À CRISE JÁ TRAZ EFEITOS AO MERCADO DE TRABALHO

A preocupação com os efeitos da crise internacional sobre a atividade econômica no país levou empresas de diferentes setores a reverem a programação de férias e até a cortar pessoal. O setor de autopeças antecipou as férias coletivas ajustando-se ao calendário das montadoras. A situação mais dramática está nos segmentos da construção civil e de papel e celulose, nos quais empresas já iniciaram o processo de demissões. No setor varejista, a contratação de temporários para as vendas de fim de ano - que só em São Paulo gera 300 mil novos postos de trabalho nessa época - está em suspenso

No setor da construção civil de São Paulo, a média de homologações, que era de 40 pessoas por dia, aumentou para 150 pessoas/dia desde a semana passada, informou o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP). E o aumento não é comum nesse período, afirma o presidente da entidade, Antonio de Sousa Ramalho. "As construtoras estão com dificuldades de obter crédito para dar início a alguns projetos e preferem dispensar parte dos funcionários, enquanto não têm uma definição sobre o que farão em 2009", afirma. A maior parte das demissões, diz, é de engenheiros e mestres de obras.


O setor previa criar 700 mil vagas no país em quatro anos por conta de novos projetos. Diante da indefinição, Ramalho acredita que neste ano pelo menos 100 mil postos de trabalho deixarão de ser criados e outros 175 mil serão congelados em 2009. O Sintracon-SP representa 300 mil trabalhadores da construção. No país, o setor possui aproximadamente 2,2 milhões de trabalhadores

No setor de papel, como informou o Valor esta semana, houve demissões em empresas que têm atividades ligadas à Aracruz, que reviu seus projetos de investimento após prejuízo com derivativos. Em Belo Horizonte, o grupo Plantar (que produz eucaliptos) anunciou a demissão de 750 dos 1 mil trabalhadores. No segmento metalúrgico, a General Motors anunciou na quarta-feira a abertura do programa de demissões voluntárias na fábrica de São José dos Campos (SP), que possui 9,4 mil trabalhadores, mas sem meta de homologações

Em Campinas, além das férias coletivas, há um crescente número de demissões comunicadas ao Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região. Segundo o presidente da entidade, Jair dos Santos, o setor de autopeças efetuou desde a última quinzena de outubro entre 250 e 300 demissões

O primeiro setor a reagir à crise foi o automotivo. No Paraná, a Volkswagen foi a primeira a antecipar as férias de 1,8 mil metalúrgicos. Outras 35 empresas avaliam fazer o mesmo. "Como elas, outras que não participaram da reunião também devem dar férias aos empregados, pois a demanda caiu", diz o presidente do Sindimetal, Roberto Karam. As decisões já tomadas devem atingir cerca de 15 mil trabalhadores do segmento. Ele contou que a Renault e Bosch também estudam uma paralisação temporária das unidades instaladas no Estado. Procurada, a Renault não confirmou a informação. A Bosch informou que decidirá sobre o tema na próxima semana

Em Santa Catarina, a Jofund, que faz acessórios para freios de carros, deu férias coletivas a partir do dia 20 de outubro. A Embraco, que fabrica motores para eletrodomésticos, vai dar férias coletivas no fim do ano, mas ainda não estipulou os dias, nem quando começam e nem quantos serão


Em Betim (MG), onde a Fiat concedeu férias coletivas a 2 mil dos dos seus 16 mil funcionários, os fornecedores também acompanharão o calendário. Entre as fornecedoras, já anunciaram férias coletivas entre novembro e dezembro (mesmo período da Fiat) a Nemak Brasil e a Magneti Marelli Cofap. Para o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Betim (Sindbet), Marcelino Rocha, a medida compensa a ausência de férias coletivas dos últimos dois anos e ajuda a adequar estoques

Em Camaçari (BA), a Ford confirmou nessa semana a antecipação das férias coletivas em 15 dias, para 10 de dezembro. Com a montadora, outras 27 empresas que juntas congregam 8.800 trabalhadores devem antecipar as férias, segundo Marcos Vinicius Pereira dos Santos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari

Em Gravataí (RS), 17 empresas de autopeças deram férias coletivas a 1,3 mil a 1,4 mil empregados, seguindo a paralisação da General Motors na região. Os empregados voltam a trabalhar entre 11 e 17 de novembro e retomam as férias, seguindo a montadora, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari. Entre as empresas, a Delphi concedeu férias a toda a equipe


Há indústrias de autopeças que não se sentiram obrigadas a tomar medidas drásticas. Em Caxias do Sul (RS), o grupo Randon, concederá férias no fim de dezembro, mantendo uma "tradição histórica" da companhia, informou o diretor corporativo de relações com investidores, Astor Schmitt. Em Canoas (RS), onde trabalham em torno de 11 mil metalúrgicos, as empresas ainda não comunicaram aviso de férias ao sindicato local.


No Paraná, os fabricantes de louças e cerâmicas de Campo Largo, esperam parar na segunda quinzena de dezembro, como normalmente ocorre, diz o presidente do Sindilouça, José Canisso. "Não estamos vendendo 'pra burro', mas também não está uma catástrofe." Os fabricantes de móveis de Arapongas (PR) não pensam em reduzir a produção. "As empresas estão até contratando", disse o diretor-executivo do Sima, sindicato da indústria, Silvio Luiz Pinetti. O presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico (Simpep), Dirceu Galléas, comentou que "o setor está em dúvida do que vai acontecer", porque as encomendas tiveram queda de 20%, em função da redução dos estoques dos clientes

No setor químico, as empresas não informaram se anteciparão as férias, que normalmente ocorrem em dezembro, disse o secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), Sérgio Luiz Leite. "Houve um problema localizado, que foi a demissão de 340 pessoas da Probel Colchões, por conta da crise. Mas não vejo um problema disseminado na categoria."

No setor varejista, 31 grandes grupos ainda analisam se farão contratações, devido à crise, diz o diretor-executivo do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Emerson Kapaz. O presidente da Federação dos Empregados no Comércio do Estado de São Paulo (Fecomerciários), Luiz Carlos Motta, disse que as contratações se aquecem no fim de novembro. No ano passado, o setor contratou 300 mil temporários. - Por Cibelle Bouças, Marli Lima, Sérgio Bueno, Vanessa Jurgenfeld e Carolina Mandl – Valor Econômico

Um comentário:

movimento da ordem vigilia contra corrupção disse...

Só o Brasil para ter uma "tralha" destas falantes. Lula nunca será sério, A falta de preparo, o faz ficar cada vez mais ridículo.