E ex-preso volta à al-Qaeda
Legenda da foto: militante islâmico deixa mensagem na internet alegando ter sido prisioneiro de Guantánamo
O presidente Barack Obama percebeu ontem que passar da teoria - no caso, da promessa - à prática, em termos das mudanças que ele pretende implantar no governo dos Estados Unidos, poderá ser mais complexo do que o imaginado.
Menos de 24 horas depois de ele ter emitir uma ordem executiva (que é equivalente a um decreto) determinando o fechamento da prisão de Guantánamo - decisão aplaudida unanimemente pelos defensores dos direitos humanos - o Partido Republicano definiu a medida como precipitada, acenando com a possibilidade de tornar mais árduo o processo de sua implementação. A oposição foi auxiliada por uma informação colocada na internet por uma célula da al-Qaeda no Iêmen, dizendo que o saudita Said Ali al-Shihri, de 35 anos, libertado de Guantánamo em novembro de 2007, voltara à ativa. Ele se tornou vice-líder do grupo terrorista no país e teria participado de um atentado à Embaixada dos EUA em Sana, capital do Iêmen, em setembro passado.
A informação foi confirmada por um agente americano ao "New York Times", de maneira confidencial. Segundo ele, Shihri voltara à Arábia Saudita ano passado e, depois de passar lá por um programa de reabilitação, desapareceu. Descobriu-se que viajara, em março, para o Iêmen.
Iêmen se transforma em base para a al-Qaeda
Um jornalista iemenita, que entrevistara líderes da al-Qaeda em 2008, confirmou que o número dois do grupo ali era Shihri, e que havia contado a ele toda a história de seu trajeto de Guantánamo - onde era o prisioneiro número 372 - até o Iêmen. Ele treinou guerrilha urbana num acampamento ao norte de Cabul, no Afeganistão.
- A lição aqui é que quem quer que saia de Guantánamo precisa ser vigiado daí por diante - disse o agente.
Segundo Gregory Johnsen, editor do livro "O Islã e a insurgência no Iêmen", o país vem se tornando um centro de aglutinação da al-Qaeda:
- Estão trazendo sauditas e preparando-os para usar o Iêmen como base para ataques na região, inclusive na Arábia Saudita e no Chifre da África.
A notícia complicou o panorama para o governo, em especial porque quase metade dos 245 presos ainda em Guantánamo é justamente do Iêmen. E a sua repatriação depende da criação de um programa de reabilitação no país financiado por EUA e Arábia Saudita.
Jane Harman, deputada democrata que chefia a subcomissão de Segurança Interna e Inteligência da Câmara, reagiu dizendo que as informações sobre Shihri não devem atrasar a determinação de Obama de fechar Guantánamo logo:
- Isso tudo me diz que o presidente Obama deve seguir em frente com extremo cuidado. Mas não há realmente uma justificativa para nos responsabilizar por alguém que desapareça num lugar que está fora do alcance dos EUA.
Mas o republicano Pete Hoekstra, que faz parte da Comissão de Inteligência da Câmara, disse que é preciso tomar todas as precauções para evitar libertar pessoas que acabariam cometendo atentados:
- Dos homens libertados de Guantánamo, 10% voltaram ao campo de batalha e estão atacando tropas americanas - disse ele, sem no entanto indicar onde havia obtido tal cifra. Por José Meirelles Passos - O Globo
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