Seja qual for o resultado do referendo de amanhã na Venezuela quando os eleitores decidirão se aprovam a idéia de reeleição ilimitada para o presidente, governadores e prefeitos o coronel Hugo Chávez terá demonstrado, mais uma vez, o quão infinita é a sua capacidade de degradar o próprio mandato.
Aparentemente, o líder venezuelano exibe chances iguais de derrota ou de vitória. A única certeza é que a votação será decidida por margem mínima, mantendo o país dividido. Já se pode concluir, no entanto, que sua megalomania e obsessão em reinar discricionariamente até quando lhe convier derrotarão, de lavada, a imagem de figura carismática que chegou ao poder graças ao desejo de uma população de varrer do mapa um sistema político carcomido.
Chávez é hoje uma pálida sombra daquele que tomou posse no Palácio Miraflores, em fevereiro de 1999. Mais grave: transformou-se numa aberração protoditatorial em plenos tempos democráticos na América Latina capaz, por exemplo, de ameaçar deixar à míngua de recursos os estados e municípios que, nas eleições regionais, tivessem vitoriosos candidatos oposicionistas.
O Chávez do já longínquo primeiro mandato inovou em matéria de leis de incentivo à democracia participativa e de políticas de promoção social. Nada mal para um país onde 40% das famílias viviam na pobreza e sob um sistema político inteiramente desacreditado. Mesmo para os seus oposicionistas mais empedernidos, a Constituição de 1999 foi um marco na trajetória nacional. Adotou mecanismos de fiscalização e prestação de contas e ampliou o acesso da sociedade aos processos de decisão.
Para muitos analistas, contudo, o divisor de águas deu-se com a tentativa de sua deposição, em abril de 2002. Desde então, passaram a ser frequentes as investidas autoritárias contra o Judiciário, a imprensa, os sindicatos, as entidades civis e as empresas privadas. Se é este o "socialismo do século 21" de Chávez, nada mais se parece do que com o sistema que desmoronou na Europa e padece em Cuba.
O que estará em jogo no referendo amanhã já foi objeto de rejeição popular em dezembro de 2007. Naquele momento, os eleitores golpearam, nas urnas, a tentativa de Chávez de condenar o país a um regime totalitário. Derrotado, o coronel anunciou publicamente que não voltaria a apresentar um projeto de emenda constitucional para perpetuar-se no poder. Não dá para negar-lhe a condição de homem de palavra. A nova emenda foi apresentada não por ele, mas pela Assembléia Nacional esmagadoramente chavista.
Os artífices e apoiadores do projeto delirante de extensão do mandato sustentam-se na idéia de que é preciso mais tempo para completar o "projeto revolucionário". Balela.
Não há feito glorioso, não há revolução de costumes e práticas na política, não há transformação social e econômica capazes de justificar atentados contra as regras democráticas.
Resta torcer para que o referendo de amanhã adote o caminho da sensatez não faz sentido que Chávez permaneça no poder até 2030. Caso o coronel vença, resta torcer para que ele, pelo menos, não use o resultado para pintar de cores ainda mais radicais o seu modelo de comando. Editorial do JB
Aparentemente, o líder venezuelano exibe chances iguais de derrota ou de vitória. A única certeza é que a votação será decidida por margem mínima, mantendo o país dividido. Já se pode concluir, no entanto, que sua megalomania e obsessão em reinar discricionariamente até quando lhe convier derrotarão, de lavada, a imagem de figura carismática que chegou ao poder graças ao desejo de uma população de varrer do mapa um sistema político carcomido.
Chávez é hoje uma pálida sombra daquele que tomou posse no Palácio Miraflores, em fevereiro de 1999. Mais grave: transformou-se numa aberração protoditatorial em plenos tempos democráticos na América Latina capaz, por exemplo, de ameaçar deixar à míngua de recursos os estados e municípios que, nas eleições regionais, tivessem vitoriosos candidatos oposicionistas.
O Chávez do já longínquo primeiro mandato inovou em matéria de leis de incentivo à democracia participativa e de políticas de promoção social. Nada mal para um país onde 40% das famílias viviam na pobreza e sob um sistema político inteiramente desacreditado. Mesmo para os seus oposicionistas mais empedernidos, a Constituição de 1999 foi um marco na trajetória nacional. Adotou mecanismos de fiscalização e prestação de contas e ampliou o acesso da sociedade aos processos de decisão.
Para muitos analistas, contudo, o divisor de águas deu-se com a tentativa de sua deposição, em abril de 2002. Desde então, passaram a ser frequentes as investidas autoritárias contra o Judiciário, a imprensa, os sindicatos, as entidades civis e as empresas privadas. Se é este o "socialismo do século 21" de Chávez, nada mais se parece do que com o sistema que desmoronou na Europa e padece em Cuba.
O que estará em jogo no referendo amanhã já foi objeto de rejeição popular em dezembro de 2007. Naquele momento, os eleitores golpearam, nas urnas, a tentativa de Chávez de condenar o país a um regime totalitário. Derrotado, o coronel anunciou publicamente que não voltaria a apresentar um projeto de emenda constitucional para perpetuar-se no poder. Não dá para negar-lhe a condição de homem de palavra. A nova emenda foi apresentada não por ele, mas pela Assembléia Nacional esmagadoramente chavista.
Os artífices e apoiadores do projeto delirante de extensão do mandato sustentam-se na idéia de que é preciso mais tempo para completar o "projeto revolucionário". Balela.
Não há feito glorioso, não há revolução de costumes e práticas na política, não há transformação social e econômica capazes de justificar atentados contra as regras democráticas.
Resta torcer para que o referendo de amanhã adote o caminho da sensatez não faz sentido que Chávez permaneça no poder até 2030. Caso o coronel vença, resta torcer para que ele, pelo menos, não use o resultado para pintar de cores ainda mais radicais o seu modelo de comando. Editorial do JB
Um comentário:
A escalada do louco bolivariano para a ditadura coincide com a degradação das condições de vida da população venezuela e com o crescimento da corrupção.
Este não é mais o futuro. Já é o presente daquele pobre país.
Se não tivermos cuidado e força, corremos o risco de ver se repetir aqui a lição de Chávez. O populista já temos.
beijos e bom domingo.
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