Com uma política de expansão acelerada, Brasil abriu 35 novas embaixadas desde 2003
Desenvolvida com o pretexto de aumentar a projeção brasileira no Exterior, a estratégia de expansão diplomática do Lula da Silva criou 35 embaixadas desde 2003. Depois de multiplicar representações pela África, pela Ásia e no Oriente Médio, o Itamaraty avança agora sobre o Caribe. Das cinco representações abertas neste ano, apenas a de Bangladesh, no sul da Ásia, fica fora dessa região.
O Caribe oferece boas oportunidades para acordos de comércio, mas, por trás do interesse pelas ensolaradas ilhas do Atlântico, está a tentativa de consolidação da liderança brasileira entre os emergentes e a ambição de conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Brasil gastou US$ 1,3 milhão na abertura de embaixadas em Dominica, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda e São Cristóvão e Névis. Ainda em fase de estruturação e escolha de embaixadores, essas unidades estão longe de ser unanimidade entre especialistas em política internacional.
Na opinião do ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, as movimentações do Brasil no Caribe são desnecessárias e só ampliam os gastos do país no momento em que o mundo atravessa uma das piores crises financeiras da História. Para Lampreia, a rede diplomática brasileira já é grande o suficiente para defender os interesses da nação. A utilização de embaixadas como instrumento de abertura de mercados não é válida, na visão dele.
– Dizer que embaixada favorece relação comercial é uma mentira. Quem faz comércio são as empresas. Essas novas representações são um desperdício – critica o ex-ministro.
APOIO POLÍTICO DESEJADO NÃO VEIO
Em um documento interno do Itamaraty a que Zero Hora teve acesso, a estratégia brasileira para o Caribe é dividida em oito objetivos. O item que versa sobre as relações comerciais classifica o território caribenho de um mercado “atraente” para os produtos brasileiros e destaca o potencial da venda de petróleo e derivados, minério de ferro e frango congelado, entre outros produtos. O texto destinado à orientação dos diplomatas também justifica a criação de embaixadas no Caribe como forma de “fomentar os interesses brasileiros em organismos multilaterais”. E destaca: “O Brasil e os países do Caribe têm mantido coincidência de pontos em foros internacionais, com apoio recíproco às respectivas candidaturas em organismos multilaterais”.
– O Brasil quer ser um ator global. As embaixadas ampliam a inserção brasileira e conquistam votos em organismos internacionais – argumenta um diplomata.
Apesar do argumento da conquista de apoio político, o Brasil colheu pelo menos duas derrotas expressivas na disputa por assentos em organizações internacionais. A primeira, quando tentou emplacar na direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) o embaixador Seixas Correia, e a segunda quando apresentou o ex-ministro João Sayad como candidato à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Nesses dois casos, a chancelaria brasileira não conseguiu sequer o apoio dos vizinhos. O que, para os críticos, revela uma das maiores falhas da política internacional do governo Lula, que leva embaixadas aos confins do mundo e descuida dos vizinhos do Mercosul, por exemplo.
O Itamaraty também justifica o investimento no Caribe com números. E aí aparece outro problema. Os quatro países caribenhos são, na verdade, ilhas de pequeno porte que, juntas, têm população de 350 mil habitantes – praticamente a mesma de Pelotas. Nas contas do Itamaraty, entre 2002 e 2008, as relações comerciais com essas nações cresceram 76%, saindo de US$ 3,2 milhões para US$ 13,3 milhões. Ainda assim, uma quantia irrisória se comparada aos US$ 27 bilhões do comércio brasileiro com os EUA no ano passado, por exemplo.
Nesse mesmo período, as embaixadas de Granada e Santa Lúcia, na mesma região, ampliaram os negócios de US$ 243 milhões para US$ 3,5 bilhões, impulsionados por investimentos diretos da Petrobras no valor de US$ 2 bilhões. Fonte: Jornal Zero Hora
NOVAS REPRESENTAÇÕES EM ESTUDOS
Das 35 embaixadas criadas desde 2003, 15 estão na África, prioridade das prioridades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outras oito estão na América Central e Caribe, seis na Europa e seis na Ásia.
Apesar das ambições diplomáticas, o orçamento da pasta comandada por Celso Amorim continua sendo um dos mais medíocres da Esplanada, com R$ 1,9 bilhão reservados para este ano. Desse montante, R$ 425 milhões estão destinados à rubrica de “Relações e Negociações do Brasil no Exterior”. Apenas para as transações com países da África, o Itamaraty separa R$ 24 milhões. O Mercosul recebe R$ 30 milhões. Já China, Índia, Japão e demais países da Ásia e Oceania demandam R$ 41 milhões.
Só no continente africano, existem 20 acordos de cooperação na área agrícola – principal ação oferecida pelas embaixadas brasileira às nações subdesenvolvidas. As representações verde-amarelas também atuam em projetos de esporte. O Itamaraty argumenta que esses acordos ajudam na geração de emprego e renda dos países e acabam evitando a imigração para os grandes centros industrializados, como o Brasil. Novas embaixadas estão em fase de estudos no Itamaraty, mas o governo faz sigilo sobre os próximos rumos da política diplomática brasileira. Zero Hora
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