Lamúria insolente

DESRESPEITO À DEMOCRACIA

Mais preocupante que a interminável sequência de revelações sobre o mau uso do dinheiro público pelos excelentíssimos senhores parlamentares é a resposta que emerge do Congresso Nacional.

Em vez de implacáveis medidas moralizadoras, a reação tem se pautado pelo diversionismo. A obscuridade ganha força quando se cria dificuldades para o trabalho jornalístico e se tenta impingir à imprensa a responsabilidade pelo desgaste do poder com a opinião pública. Diferentemente do que pensa o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), não são os jornalistas que indispõem a instituição com a sociedade, mas os desmedidos abusos praticados por seus próprios membros. Ao desmascarar os desvios de conduta nas duas Casas, os meios de comunicação nada mais fazem do que cumprir seu mais legítimo papel.

Esta semana, o plenário da Câmara foi palco de ataques destemperados à mídia. “Essa tônica de se querer eleger o político como a figura mais desprezível da sociedade deve ser rechaçada. É inaceitável! Não é possível essa campanha difamatória que aumenta a cada dia”, disse, sem medir palavras, o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO).


Na óptica desse discurso, parece aceitável o acobertamento de toda sorte de irregularidades. Parece certo a imprensa ver o Estado meter a mão no bolso do contribuinte para pagar despesas particulares, vantagens e privilégios de funcionários públicos e apaniguados e se calar. Mas é o oposto. A omissão, a conivência, sim, seriam desprezíveis, um desrespeito à democracia. O jornalismo, felizmente, está suficientemente maduro no país para não ajudar a tapar o sol com a peneira.

Não contem com tal sacrilégio. Tampouco ousem tentar cometê-lo. Não será com exigências absurdas, do tipo da que impõe a burocracia no caminho da notícia, obrigando que questionamentos jornalísticos passem a ser feitos mediante ofício, que os políticos e o Congresso Nacional resgatarão o prestígio. Também não será punindo os que contribuem para trazer à luz os desmandos e abrindo sindicância para apurar vazamentos de informações. A saída é uma só: encarar os fatos, proceder a faxina que eles exigem e postar-se nos trilhos retos dos valores éticos. A mídia não pode pagar pelos podres que encontra. Mas é obrigada a exigir sua extirpação.

Ilícitos e imoralidades têm se sucedido do pequeno varejo ao atacado. Vão desde o empréstimo de celulares a terceiros e o pagamento de funcionários para prestar serviços particulares até o uso da gráfica do Senado para burlar princípios constitucionais e exercitar, via terceirização, o empreguismo em larga escala. Do uso de notas fiscais emitidas por empresa do próprio parlamentar para comprovar gastos com combustíveis até o aluguel de jatinhos para deslocamentos exclusivos. Da manutenção de servidores-fantasmas na folha de pagamento à cessão de moradia funcional para terceiros. Do pagamento de horas extras no recesso parlamentar à criação indiscriminada de diretorias nas duas Casas. O rol, enfim, vai longe.

São flagrantes frutos de desvios éticos e ineficiência, não invencionices de campanha orquestrada com o intuito de denegrir o parlamento. Visão do Correio





INTERNAUTAS EXPÕEM CORRUPÇÃO DO GOVERNO CHINÊS NA REDE

Além de estar sob pressão para criar mais empregos e gerar crescimento, o Partido Comunista da China enfrenta uma dor de cabeça com os usuários da Internet empenhados em expor as condutas questionáveis dos membros do governo.

Duas faturas de gastos em um clube de karaokê geraram no começo deste mês o último furor na Internet sobre a corrupção do governo, pondo fim à carreira de um burocrata de Liuyang, na província sulista de Hunan. Verificadas e enviadas à rede por um navegador anônimo, as faturas incluíam quase 7 mil dólares em jantares, massagens e outros serviços.

O escândalo de Liuyang foi parte de uma cadeia de notícias nos últimos meses, geradas por exposições na Internet de funcionários que desfrutam de férias luxuosas no exterior sob a justificativa de viagens "de estudo", ou que são fotografados usando relógios valiosos.

Com a mídia controlada pelo Estados, que frequentemente se nega a informar, e supervisores designados pelo partido envolvidos em escândalos, os internautas chineses se propuseram a deixar em evidência a corrupção do governo.

"Há uma sensação de que o governo central perdeu o controle sobre os funcionários em vários lugares", disse Rebecca McKinnon, especialista em Internet da Universidade de Hong Kong.

"Temos a crise financeira e muita gente preocupada com a corrupção e com a maneira com que o governo administra as finanças da nação", acrescentou McKinnon.

A corrupção não é algo novo na China, mas os últimos escândalos se desenvolveram em meio à exigência de mais transparência no plano de estímulo chinês de 4 bilhões de iuanes (585 milhões de dólares) para reativar a economia debilitada.- Por Ian Ransom Reuters – via
Abril.com

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