Novas informações sobre os campos de extermínio de judeus

Ethan Bronner – The New York Times

Na cidade ucraniana de Berdicheve, as mulheres judias foram obrigadas a atravessar a nado um rio largo até afogarem-se. Em Telsiai, na Lituânia, crianças foram jogadas vivas em valas ocupadas pelos corpos dos seus pais assassinados. Em Liozno, na Belarus, judeus foram trancados em um estábulo no qual muitos morreram de frio.

Apesar dos indivíduos que negam a existência do Holocausto, o mundo está informado a respeito do assassinato sistemático de cerca de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. As pessoas sabem o que se passou em Auschwitz e Bergen-Belsen; muitos ouviram falar das dezenas de milhares de judeus fuzilados na ravina ucraniana de Babi Yar. Mas pouco se sabe sobre as centenas, e talvez milhares, de campos menores de extermínio espalhados pela União Soviética, nos quais cerca de 1,5 milhão de judeus encontraram a morte.

Mas agora essa situação está mudando. No decorrer dos últimos anos, o museu do Holocausto e centro de pesquisa Yad Vashem, em Israel, vem investigando esses locais, examinando relatos soviéticos, alemães, de moradores locais e de judeus, e comparando os números e os métodos. O trabalho, coletado sob o título "As Histórias Não Relatadas", está longe de terminar. Mas, para celebrar o Dia de Recordação do Holocausto, que começou na noite da segunda-feira (20/04), a pesquisa está sendo divulgada publicamente no site da instituição.


"Certos lugares foram em grande parte negligenciados porque ficam em pequenas vilas e aldeias", diz David Bankier, diretor do Instituto Internacional de Pesquisas Sobre o Holocausto em Yad Vashem. "Em muitos casos, os moradores locais desempenharam um papel-chave nos assassinatos. Provavelmente em uma proporção de dez moradores locais para cada alemão. Estamos tentando entender aquele homem que um dia jogava futebol com o vizinho judeu, e no outro dia participou do assassinato deste vizinho. Isso proporciona material para pesquisas sobre o genocídio em outros locais, como a África".

Segundo a diretora do projeto, Lea Prais, para fins do trabalho um campo de extermínio é aquele que envolve a morte de pelo menos 50 pessoas. Os assassinatos começaram em junho de 1941, com a invasão alemã da União Soviética. Das repúblicas bálticas, no norte, ao Cáucaso, no sul, esquadrões da morte nazistas varreram as áreas.

A primeira evidência do ocorrido foi obtida logo após a guerra por comitês de investigação soviéticos que se concentravam principalmente na descoberta de colaboradores anti-soviéticos.

As novas pesquisas comparam tais evidências com registros, diários e cartas de soldados alemães, bem como com relatos de testemunhas e dos poucos judeus sobreviventes, alguns dos quais saíram de valas cheias de cadáveres. Os pesquisadores dizem que em determinadas ocasiões os soviéticos pareceram exagerar, e que se chamou atenção para isso no site. Um dos objetivos do projeto é determinar com mais exatidão quantas pessoas foram mortas.

Um caso pouco conhecido envolve um marinheiro alemão que filmou assassinatos em Liepaja, na Letônia. O filme é exibido há alguns anos no museu Yad Vashem. Mas o novo site traz um vídeo esquecido de 1981 com uma entrevista feita em 1981 com o marinheiro, Reinhard Wiener, que disse que era apenas um observador munido de uma câmera cinematográfica.

De acordo com parte do seu relato, "Depois que os guardas civis com tarjas amarelas nos braços gritaram mais uma vez, pude identificá-los como sendo guardas letonianos. Os judeus, que àquela altura eu fui capaz de reconhecer, foram obrigados a pular do caminhão. Entre eles estavam indivíduos deficientes e debilitados, que foram pegos com os demais. A princípio, eles tiveram que fazer uma fila, e depois foram obrigados a seguir para uma vala. Isso foi feito por soldados SS e guardas letonianos. Depois os judeus foram forçados a pular na vala e a correr ao longo dela até a sua extremidade, perfilando-se. Eles tiveram que ficar de pé com as costas voltadas para o pelotão de fuzilamento. Naquele momento, quando viram a vala, eles provavelmente sabiam o que aconteceria. Eles devem ter sentido o que lhes aguardava, porque logo abaixo já havia uma camada de corpos, sobre a qual foi colocada uma fina camada de areia".

Prais diz que uma das descobertas que mais a surpreenderam foi a forma como os judeus soviéticos que sobreviveram à guerra procuraram homenagear aqueles que pereceram. Em campos e praças de vilas distantes eles frequentemente exibiam a Estrela de Davi ou outro símbolo em homenagem aos mortos, apesar do temor das manifestações judaicas ostensivas na era soviética.

"O silêncio dos judeus na União Soviética não era tão silencioso assim", diz ela.

É difícil imaginar a magnitude da chacina da qual alguns deles escaparam. Um caso que Prais e seus colegas analisaram envolve aquilo que ocorreu em Krupki, na Belarus, onde uma comunidade judaica inteira de pelo menos mil pessoas foi eliminada em 18 de setembro de 1941.

Um soldado alemão que participou do assassinato em massa escrevia um diário que foi encontrado com o seu corpo pelos aliados, diz ela. No diário, o soldado contou que se ofereceu como um dos "15 homens de nervos fortes" convocados para eliminar os judeus de Krupki. "Todos estes têm que ser fuzilados hoje", escreveu o soldado. Ele observou: "O tempo está cinzento e chuvoso".

Os soldados disseram aos judeus que estes seriam deportados para trabalhar na Alemanha, mas, quando foram obrigados a entrar na vala, o destino real deles ficou evidente. Houve pânico. O soldado escreveu que os guardas tiveram dificuldade em controlar a multidão.

"Dez tiros foram disparados; dez judeus caíram", escreveu o soldado. "Isso continuou até todos serem mortos. Somente uns poucos mantiveram a compostura. As crianças agarravam-se às mães, as mulheres aos maridos. Não esquecerei esse espetáculo tão cedo...".

Tradução: UOL

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