A marcha da maconha

OS CARTAZES DA JOVEM PASSEATA

Vivazes brasileiros saíram às ruas para pressionar as autoridades a lhes assegurar o direito de se drogarem. Serão esses os comandantes do nosso futuro?

É impossível para mim dizer por que, mas sou acometido por terrível ansiedade durante o lusco-fusco. Detesto a indecisão entre o dia e noite. Quando os dois se misturam ali pelo fim da tarde, torço fervorosamente para que aquilo tudo acabe e a inevitável escuridão abrace o céu de uma vez por todas.

Digo isso porque foi exatamente no malfadado crepúsculo do sábado que avistei um grupo de jovens marchando na Esplanada. Primeiro os retardatários. Aliás, as retardatárias. Eram mulheres. Melhor dizer meninas, tão pouca idade aparentavam. Caminhavam devagar, com vestidos largos, cabelos compridos, chinelos nos pés.

À frente delas, três ou quatro latagões. O mesmo andar preguiçoso, o mesmo ar relaxado. Só que carregavam cartazes. Duas viaturas da polícia e um punhado de guardas a pé acompanham a lenta evolução. O corpo principal do grupo ia coisa de trinta metros adiante. Calculei umas 50 almas ao todo. Muitos dos homens tinham cabelos trançados e longos, do tipo rastafari. Mais cartazes e uma enorme faixa, com uns dez metros de largura.

— Opa, uma passeata!, assanhei-me. Por Ugo Braga


Não há no mundo jornalista indiferente a uma passeata. Mesmo uma nanica como aquela. Se um grupo de pessoas sai de casa e se põe na rua a marchar, com cartazes e palavras de ordem, notícia há. Ainda mais sendo jovens. — O que querem os nossos jovens?, me animei.

Concentrei os olhos na pequena turba. E lá estava a humilhante verdade, desenhada na forma de uma folha de cinco pontas, onipresente num acanhado mar de cartolinas. Muitos deles traziam a mensagem “Legalize já!”. Assim, com exclamação e tudo.

Os jovens do Brasil saíram às ruas para comover a opinião pública e, consequentemente, pressionar as autoridades a lhes assegurar o direito de se drogarem. Eis o triste resumo do fim de tarde do último sábado.

Foi assim na Esplanada imaginada para as grandes manifestações populares na capital da República. Foi assim na avenida Vieira Souto, emoldurada pelo belo mar de Ipanema, no Rio. Só que, lá, um ministro do gabinete, Carlos Minc, responsável pelos assuntos do Meio Ambiente, não só marchou, como discursou e foi aplaudido em defesa da causa.

As palavras

Por dever de ofício, os repórteres correram ao lugar para ouvir os manifestantes. A este Correio Braziliense, um dos bravos integrantes da passeata candanga declarou as seguintes palavras: “Queremos que os usuários tenham direito de plantar a erva em casa para, assim, não financiar o tráfico”.

Percebe a confusão? O condenável, segundo a tese defendida inclusive por um membro do governo, é comprar de alguém não autorizado a vender. Promulgue-se uma norma que “liberte” os demandantes dos ofertantes que, fiat lux, tudo se resolve. Ocorre que o tráfico é um crime derivado. Tem punição codificada para que ninguém venda a outro uma substância capaz de lhe privar da soberania sobre a capacidade de raciocínio. É óbvio, e valho-me da lógica mais comezinha, que o uso de entorpecentes deve ser combatido pelo Estado — da mesma forma que o Estado vem inibindo de forma cada vez mais restritiva o consumo de cigarro, não o baseado, o careta, pela população.

O espírito do legislador, para usar bom terno, explicita que a sociedade não tolera relações sociais entre membros que não estejam em perfeito controle de suas faculdades. O que é muito justo. Ainda mais se tal efeito se dê de forma exógena, advindo de drogas, sejam elas encontradas na natureza ou fabricadas em laboratório.

As leis
Ouço de antemão alguém contra-argumentar que os jovens foram às ruas precisamente para bradar aos ventos, às árvores e aos deputados e senadores que os costumes mudaram. Que a sociedade já aceita o consumo de drogas pacificamente e que, dito isto, urge a mudança legislativa.

Será? Nos últimos anos, os governos em todos os níveis da Federação lutam com mais vigor – ou seja, com apoio da opinião pública – contra o tabaco e contra o álcool. Seria esse um sinal de que estamos mais tolerantes em relação à maconha?

E mais! Protestam os nossos jovens contra a falta de regulação dos fluxos financeiros internacionais? Contra as toneladas de denúncias de corrupção no Ministério dos Esportes? Contra o milionário desperdício de dinheiro público a pagar mordomias a parlamentares? Contra a violência a grassar nas periferias, os maus tratos às mulheres, as deficiências no ensino, injustiças nas relações de trabalho, contra o sumiço dos empregos? Não, não e não! Eles querem somente mamar um baseado em fundas tragadas e babar a baba elástica dos ruminantes. - Correio Braziliense – Por Ugo Braga
ugobraga.df@diariosassociados.com.br



COMENTÁRIO
Ontem, decidimos não dar “eco” a essa discrepância sobre a marcha pela liberação da maconha. Mas o texto acima de Ugo Braga, sobre o tema, está um primor. Por isto, resolvemos publicar sobre a marcha, enfocando mais precisamente a participação patética do ministro de Lula, apoiando tal sandice.

A figura do ministro Minc é tão retrógrada e fora de moda quanto a sua vestimenta. O mais hilário é que ele se considera o suprasumo da modernidade, a voz “cult” dos bocós do atraso. O ministro ridículo afirmou durante a manifestação que nós, os caretas somos hipócritas, enquanto a turba de neurônios lesados aplaudia o loirinho cafona.

Aqui em São Paulo com as novas leis (draconianas, por sinal) o fumante de cigarro pode ir preso. Pois esperamos que essa mesma austeridade, em defesa dos que não fumam, seja aplicada contra os MACONHEIROS, pois essa droga além de exalar catinga (pior que o cigarro), lesa o cérebro e serve de passagem para o consumo de drogas mais potentes.

Essas “autoridades” que apóiam a liberação dessa droga devem estar a serviço do Fernandinho Beira Mar & Cia. Eles militam explicitamente a favor do crime, protegidos pela capa oficial do cargo. É a tal história: o atual ministro, assim como Dilma e outros ministros, já assaltou e cometeu crimes à mão armada. São mentalidades que dificilmente se recuperam. Por Gabriela/Arthur

2 comentários:

Laguardia disse...

A liberação da maconha é mais um golpe contra a ética e os bons costumes do povo brasileiro. Pretende formar uma juventude alienada e mais fácil de ser dominada.

Swoboda disse...

Há tempos não vejo uma "matéria" tão preconceituosa e sensacionalista.

Não há droga que prejudique mais o cérebro humano do que a ignorânica. Dizer que aqueles que lutam pela regulamentação das drogas estão macomunados com traficantes é o mesmo que dizer que aqueles que lutam contra o monopólio da Microsoft estão à par com o Bill Gates, quando o que acontece é obviamente e justamente o oposto. Isso sim, se encaixa perfeitamente numa tentativa patética de "privar da soberania sobre a capacidade de raciocínio" das pessoas que lêem tal asneira, pois qualquer um que tenha intacta suas faculdades mentais se questionaria no ato sobre qual seria o interesse do tráfico em legalizar as drogas, visto que o lucro gerado por um produto que, por ser ilegal, é monopolizado e não paga impostos é infinitamente mais alto do que se tal produto estivesse no mercado pagando impostos e com a concorrência aberta e, além de tudo, podendo ser produizido pelo próprio consumidor sem gerar lucro nenhum a ninguém. Apenas quem se beneficia com a proibição são justamente aqueles que estão faturando com o tráfico de drogas, e por isso se interessam tanto em mantê-las proibidas.