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Quatro chineses ex-acusados de terrorismo foram considerados inocentes e mandados pelos EUA para Bermuda, uma ilha no Atlântico. Lá, recomeçam a vida tomando sorvetes e nadando no mar
Se o inferno e o paraíso existem e se há um caminho rápido para ir de um ao outro, os quatro refugiados uigures das fotos o conhecem bem. Depois de sete anos presos em Guantánamo, a base naval dos Estados Unidos em Cuba, eles foram enviados para Bermuda, um território britânico localizado no Oceano Atlântico que aceitou receber os ex-suspeitos de terrorismo.
Ablakim Turahun, Abdulla Abdulqadir, Khelil Mamut e Salahidin Abdulahat são chineses, nascidos em Xinjiang, uma região autônoma no noroeste do país, que tem um forte movimento separatista, reprimido duramente por Pequim. Presos no Afeganistão e no Paquistão por suspeita de terem ligações com a rede terrorista Al Qaeda e com o Talibã, eles foram libertados neste ano, depois que o presidente dos EUA, Barack Obama, decidiu resolver a situação dos detidos em Guantánamo e fechar a prisão.
Após a defesa, autoridades americanas declararam os quatro inocentes e declararam que eles não representavam perigo à segurança nacional. Eles foram soltos, mas havia um problema. Eles não poderiam ser enviados para a China, já que a lei americana impede a deportação para países em que os prisioneiros têm risco de serem torturados. Foi aí que as autoridades de Bermuda se colocaram a disposição para receber o quarteto, diante da recusa de diversas outras nações. Desde que o governo dos EUA banque todas as despesas.
“Quando nenhum país aceitou nos receber e todos nos temiam, Bermuda teve a coragem de nos receber”, disse Abdulla Abdulgadir, de 30 anos, ao jornal britânico Daily Mail. Ao chegar a Bermuda, os quatro aproveitaram as belezas do lugar. Foram pescar, tomaram sorvete e mergulharam no mar, algo raro para quem lutava contra a opressão na Ásia Central, a milhares de quilômetros do oceano. “Não vamos sair daqui”, disse Abdulgadir. “Nossos únicos inimigos são os chineses, que nos torturam e matam nossos homens, mulheres, crianças e bebês”, disse.
Nas ilhas, os quatro estão sendo auxiliados por Glenn Brangman, um ex-militar que vai ajudar o grupo a reestruturar a vida. Segundo ele, os uigures querem aprender a dançar, dirigir e mergulhar, além de abrir um restaurante de comidas típicas uigures em Bermuda.
O que chama a atenção é o fato de a transferência ter sido acertada diretamente por autoridades americanas com o governador de Bermuda, Richard Gozney, sem a anuência do Reino Unido, que tem a prerrogativa de determinar o andamento das relações internacionais de Bermuda. Apesar da irritação do governo e de parlamentares britânicos com a realocação dos uigures, o primeiro-ministro Gordon Brown disse que Barack Obama ligou para ele agradecendo pela transferência. Agora, os EUA devem definir o destino de outros 13 uigures. Apesar de a China ter manifestado o desejo de ter os homens de volta, eles devem ir para Palau, um pequeno país no Pacífico. Revista Época
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