Para cooptar

No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o pendor dirigista e intervencionista de grupos que o acompanham levou o governo a tentar uma operação legislativa para limitar o trabalho da imprensa. Vem daí o projeto de lei de criação do Conselho Federal de Jornalismo, um organismo paraestatal destinado a tolher redações. A reação foi grande, o Congresso criticou, e Lula, com acerto, voltou atrás. É do mesmo período a tentativa de controle da produção audiovisual por meio da Ancinav, outra iniciativa frustrada deste grupo.

Não por coincidência, eram propostas ao estilo bolivariano, projeto autoritário de subjugação da sociedade, de inspiração cubana, exportado por Hugo Chávez para Equador, Bolívia, Paraguai e com influência até na Argentina. Não deu certo no Brasil porque suas instituições democráticas são das mais consolidadas na América Latina. Editorial O Globo


No segundo mandato, o governo Lula optou por uma estratégia mais sutil, da qual constam uma grande ampliação do leque dos beneficiários das verbas publicitárias do Executivo - a rigor, iniciada já no primeiro mandato -, e uma postura mais agressiva, exemplificada pelo blog da Petrobras, lançado em meio a discursos ornados por chavões, mas cujo objetivo era mesmo atemorizar a imprensa profissional. Mas errou na dose ao quebrar a relação de sigilo entre repórter e fonte. Teve de recuar.

Não há nada de ilegal no blog da empresa. Havia um retrocesso no terreno da ética, depois corrigido. Também não parece existir ilegalidade na política de distribuição de verbas publicitárias, com prioridade para veículos da imprensa regional. Os números provam o alcance da estratégia: a Secretaria de Comunicação distribuiu, no ano passado, propaganda oficial entre 5.297 veículos. Em 2003, foram 499.

Não é ilegal, mas se trata de indiscutível desvio de verba pública para pequenas empresas de comunicação que tendem a ficar dependentes da propaganda oficial -, ao contrário da imprensa profissional de grandes centros. A coluna do presidente, oferecida a jornais populares, é outra evidência do projeto de cooptação de parte da mídia. Assim como a montagem de uma
rede sindical de comunicações no ABC paulista, sustentada por verbas publicitárias oficiais, visa também a influenciar eleitores. Não há justificativa técnica para a inserção de anúncios neste tipo de veículo.

Operações como essas são conhecidas. Getúlio Vargas manejou recursos do Banco do Brasil com o mesmo objetivo. A História mostra que o desfecho é sempre uma conta com vários zeros endereçada ao Tesouro Nacional.

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