
Neda participava da manifestação junto com o pai quando foi morta. Curiosamente, seu nome significa "voz", o que dá ainda mais força ao movimento de resistência, que transmite mensagens pela internet demonstrando sua indignação e ressaltando o simbolismo da morte da jovem. Velas negras deverão tomar as ruas de Teerã nesta segunda.
"MINHA CRIANÇA!”
Minha criança! Não se vá! Não tenha medo! Olhe para mim!", gritava o homem de cabelos brancos, enquanto os olhos da filha se perdiam no vazio. As mãos do pai pressionavam-lhe o pescoço, na inútil tentativa de fechar o ferimento. De calça jeans, camiseta preta e tênis, Neda, de pouco mais de 20 anos, começou então a sangrar pela boca e se foi. Tornou-se uma espécie de mártir dos protestos contra a reeleição do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad. Morreu menos de dois minutos depois de ser baleada por um integrante da milícia Sepah Basij escondido em um telhado. Neda assistia à convulsão social a 1 km de distância.
Às 16h de hoje (hora local), os manifestantes, vestidos com camisas pretas, ocuparão a Praça 7th Tir, situada no centro de Teerã, se sentarão no local e renderão uma homenagem à jovem assassinada. A maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica* de 1979 deixou 13 mortos, entre 17h e 22h de sábado. Milhares de eleitores de Mir Hossein Moussavi, candidato derrotado nas eleições, não se intimidaram e mediram forças ontem à noite com policias e milicianos. A situação obrigou o ex-premiê a pedir "prudência" aos partidários. Por sua vez, Ahmadinejad decidiu enfrentar o Ocidente e exigiu que os governos norte-americano e britânico parem de interferir nos assuntos internos do Irã. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, acusou o Reino Unido, a Alemanha, a França e a mídia ocidental de insuflarem os protestos. E prometeu "derrotar os inimigos".
A cerca de três ruas do local onde Neda foi executada no sábado, Raad (nome fictício), estudante de engenharia mecânica na Universidade de Teerã, viu seu grito ser sufocado pelos mesmos homens que mataram a moça. "Os sepah basij estavam batendo em todos. Havia uns 2 mil deles em 3 km de ruas ruas que se ligavam à Praça Enghelab. As pessoas foram até lá de metrô, carro ou a pé", conta ao Correio, por um software de videoconferência, o rapaz de 24 anos. "Nós nos sentamos na avenida. Contaram até três para que saíssemos, mas não o fizemos. Foi então que atingiram o meu rosto com um cassetete e quebraram meu nariz. Quando fugimos, bateram em nossas costas e lançaram gás lacrimogêneo", acrescenta Raad, que não buscou ajuda no hospital por medo de ser capturado por um dos milicianos.
Mehran G., de 26 anos, se recusa a aceitar Ahmadinejad como presidente. "Ele é um traidor do meu país, um traidor da democracia", desabafa o iraniano, que faz uma viagem de negócios à Índia. "Meus familiares foram às ruas. No próximo mês, quando eu voltar ao Irã, com certeza lutarei por nossos direitos", comenta, sem esconder o pessimismo. "Há 30 anos, tivemos a mesma situação. No meu Irã, a vida não tem muito valor", conclui. O país que Ahmadinejad desejaria "varrer do mapa" saudou ontem a atitude de Mehran, Raad, Neda e tantos outros jovens iranianos. "Estamos diante de um regime que reprime seu próprio povo e semeia o terror. A verdadeira natureza deste regime foi desmascarada graças aos atos incríveis de coragem dos cidadãos iranianos", afirmou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, à rede de TV norte-americana NBC.
Para o iraniano Nader Entessar, um cientista político da University of South Alabama, a situação no Irã demonstra que a "clara fissura" entre os grupos no poder atingiu um estágio crítico. "Ao apoiar Ahmadinejad, o aiatolá Khamenei tem se tornado menos um árbitro e mais um polarizador. Enquanto ele estiver no controle, a posição de Ahmadinejad estará segura. Mas se o controle de Khamenei começar a se enfraquecer, então a posição do presidente será menos sustentável", alerta. Ele não tem dúvidas de que a repressão sangrenta a demonstrações pacíficas terá impacto a longo prazo na legitimidade do regime. "Ahmadinejad usa agora a retórica da confrontação, mas a relação entre Estados Unidos e Irã será decidida por um corpo liderado por Khamenei". Correio Braziliense
ITÁLIA ORDENA QUE SUA EMBAIXADA PRESTE SOCORRO A MANIFESTANTES
O governo italiano determinou ontem que sua embaixada em Teerã preste ajuda humanitária aos manifestantes feridos nos protestos que desde o dia 12 atingem a capital do Irã.
O chanceler italiano, Franco Frattini, disse que apresentará uma proposta a outros países da União Europeia para que repitam o gesto e abram suas portas a manifestantes que precisem de socorro médico em Teerã. A proposta será entregue ao governo sueco que, na próxima semana, assumirá a presidência rotativa do bloco.
A Itália é um dos países que têm pressionado o governo iraniano a reconsiderar o resultado das eleições presidências que deram vitória ao atual presidente Mahmoud Ahmadinejad. Frattini também pediu publicamente que o governo do Irã pare de reprimir os protestos de rua.
Embaixadores de países europeus em Teerã também disseram ontem que suas embaixadas têm recebido diversos e-mails com pedidos para que abram suas portas aos manifestantes perseguidos pelo regime - os civis feridos que chegam a hospitais de Teerã em busca de socorro médico são detidos.
Representantes das embaixadas da França e da Suécia dizem que os e-mails não se referem a nenhum pedido particular de refúgio e, até agora, não há registro de nenhum pedido de asilo político. Reuters e AFP, Roma, via Estadão
ENQUANTO ISSO, Lula nos mata de vergonha: “Coisa de vascaínos e flamenguistas”.
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