A CRISE DO SENADO INTERESSA AO LULA
O senador Álvaro Dias (PSDB/PR) acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter sido "desonesto" e "irresponsável" ao declarar que o PSDB quer "ganhar o Senado no tapetão". A fala de Lula foi uma reação ao fato de o tucanato defender o afastamento de José Sarney (PMDB-AP) do comando da Casa.
Sarney integra o principal partido de sustentação da base de apoio do Planalto no Congresso. Para Dias, a crise só interessa ao Planalto. "Enquanto a crise está concentrada no Senado, os desvios, os desmandos e eventuais falcatruas do Executivo estão acobertadas", disse ele em entrevista ao Estado. Autor do requerimento de instalação da CPI da Petrobrás, adiada até agora, Dias já estuda até a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pô-la em funcionamento.
Abaixo, os principais trechos da entrevista. Por Ana Paula Scinocca
Seu partido, o PSDB, já defendeu o afastamento do presidente José Sarney (PMDB-AP). O senhor acha que esse é o caminho para pôr fim ao processo de desgaste do Senado?
O afastamento do Sarney seria um ato político que teria algum impacto externo, mas não seria por si só a solução. O que pode solucionar são medidas objetivas transformadoras. Medidas essenciais, é bom fazer justiça, já foram adotadas. Denúncias de corrupção acabaram por ensejar a convocação do Ministério Público, da Polícia Federal (PF) e do Tribunal de Contas. De início, havia uma certa resistência a isso e, ao final, o próprio Sarney convocou a PF.
O presidente Lula disse que o PSDB quer "ganhar o Senado no tapetão". Como vê essa declaração?
É a velha estratégia do presidente Lula, que é confundir a opinião pública. Ele fala, mas não explica. Se houver uma licença (do Sarney), o vice-presidente (o tucano Marconi Perillo) assume provisoriamente. Se houver renúncia, ele não assume, mas sim comanda, por cinco sessões, o processo eleitoral. A palavra do presidente é irresponsável. O presidente foi desonesto ao tentar colocar o PSDB mal diante da opinião pública. O PSDB deseja o fim da crise. Ela não interessa à oposição. A crise só pode interessar ao governo porque, enquanto a crise está concentrada no Senado Federal, os desvios, os desmandos e eventuais falcatruas do Executivo estão acobertadas, inclusive a CPI da Petrobrás, que tem sido adiada. O interesse não é nosso.
O senhor acredita que na crítica ao PSDB já está embutida a disputa eleitoral de 2010?
Não. O presidente deve estar avaliando as consequências de uma possível renúncia. Vai tumultuar a base de apoio do governo. É bom não esquecer que o Senado sempre foi o último instrumento de resistência. Embora precariamente, só o Senado demonstrou, nos últimos tempos, certa independência. Rejeitou, por exemplo, a prorrogação da CPMF e criou dificuldades para o Executivo. Esta crise abalou, certamente, essa condição de independência do Legislativo. Por isso o interesse do governo na crise.
Em 2005, no escândalo do mensalão, Perillo era governador e foi um dos primeiros a falar sobre o tema. A alfinetada do Lula pode ser reflexo de uma mágoa?
Acho que o objetivo foi confundir a opinião pública tentando desqualificar a postura do PSDB, de colaborar para que a crise no Senado tenha fim.
Pelo regimento interno, em caso de licença quem assume é o primeiro-vice-presidente, neste caso, o senador Perillo. Mas ele também enfrenta problemas na Justiça.
Ele nos afirmou que não tem receio de absolutamente nada, que tem uma conduta exemplar e que não há nada que possa preocupá-lo em termos éticos. O fato de existir processo não significa que ele tenha praticado algo ilícito. Ele demonstrou tranquilidade junto à bancada.
O senhor foi autor do requerimento para a instalação da CPI da Petrobrás, que a cada semana é adiada. A CPI já naufragou?
Ao contrário. Toda a luta para impedir a instalação da CPI demonstra a sua importância. Eles sabem o que fizeram na atual gestão da Petrobrás e por isso temem a CPI. Estamos aguardando uma resposta (do governo). Se não houver vamos solicitar, por meio de requerimento, que o presidente do Senado substitua membros faltosos da comissão para restabelecer o regular funcionamento dela. Se o presidente não acolher, vamos impetrar um mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O Estado de S. Paulo
O senador Álvaro Dias (PSDB/PR) acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter sido "desonesto" e "irresponsável" ao declarar que o PSDB quer "ganhar o Senado no tapetão". A fala de Lula foi uma reação ao fato de o tucanato defender o afastamento de José Sarney (PMDB-AP) do comando da Casa.
Sarney integra o principal partido de sustentação da base de apoio do Planalto no Congresso. Para Dias, a crise só interessa ao Planalto. "Enquanto a crise está concentrada no Senado, os desvios, os desmandos e eventuais falcatruas do Executivo estão acobertadas", disse ele em entrevista ao Estado. Autor do requerimento de instalação da CPI da Petrobrás, adiada até agora, Dias já estuda até a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pô-la em funcionamento.
Abaixo, os principais trechos da entrevista. Por Ana Paula Scinocca
Seu partido, o PSDB, já defendeu o afastamento do presidente José Sarney (PMDB-AP). O senhor acha que esse é o caminho para pôr fim ao processo de desgaste do Senado?
O afastamento do Sarney seria um ato político que teria algum impacto externo, mas não seria por si só a solução. O que pode solucionar são medidas objetivas transformadoras. Medidas essenciais, é bom fazer justiça, já foram adotadas. Denúncias de corrupção acabaram por ensejar a convocação do Ministério Público, da Polícia Federal (PF) e do Tribunal de Contas. De início, havia uma certa resistência a isso e, ao final, o próprio Sarney convocou a PF.
O presidente Lula disse que o PSDB quer "ganhar o Senado no tapetão". Como vê essa declaração?
É a velha estratégia do presidente Lula, que é confundir a opinião pública. Ele fala, mas não explica. Se houver uma licença (do Sarney), o vice-presidente (o tucano Marconi Perillo) assume provisoriamente. Se houver renúncia, ele não assume, mas sim comanda, por cinco sessões, o processo eleitoral. A palavra do presidente é irresponsável. O presidente foi desonesto ao tentar colocar o PSDB mal diante da opinião pública. O PSDB deseja o fim da crise. Ela não interessa à oposição. A crise só pode interessar ao governo porque, enquanto a crise está concentrada no Senado Federal, os desvios, os desmandos e eventuais falcatruas do Executivo estão acobertadas, inclusive a CPI da Petrobrás, que tem sido adiada. O interesse não é nosso.
O senhor acredita que na crítica ao PSDB já está embutida a disputa eleitoral de 2010?
Não. O presidente deve estar avaliando as consequências de uma possível renúncia. Vai tumultuar a base de apoio do governo. É bom não esquecer que o Senado sempre foi o último instrumento de resistência. Embora precariamente, só o Senado demonstrou, nos últimos tempos, certa independência. Rejeitou, por exemplo, a prorrogação da CPMF e criou dificuldades para o Executivo. Esta crise abalou, certamente, essa condição de independência do Legislativo. Por isso o interesse do governo na crise.
Em 2005, no escândalo do mensalão, Perillo era governador e foi um dos primeiros a falar sobre o tema. A alfinetada do Lula pode ser reflexo de uma mágoa?
Acho que o objetivo foi confundir a opinião pública tentando desqualificar a postura do PSDB, de colaborar para que a crise no Senado tenha fim.
Pelo regimento interno, em caso de licença quem assume é o primeiro-vice-presidente, neste caso, o senador Perillo. Mas ele também enfrenta problemas na Justiça.
Ele nos afirmou que não tem receio de absolutamente nada, que tem uma conduta exemplar e que não há nada que possa preocupá-lo em termos éticos. O fato de existir processo não significa que ele tenha praticado algo ilícito. Ele demonstrou tranquilidade junto à bancada.
O senhor foi autor do requerimento para a instalação da CPI da Petrobrás, que a cada semana é adiada. A CPI já naufragou?
Ao contrário. Toda a luta para impedir a instalação da CPI demonstra a sua importância. Eles sabem o que fizeram na atual gestão da Petrobrás e por isso temem a CPI. Estamos aguardando uma resposta (do governo). Se não houver vamos solicitar, por meio de requerimento, que o presidente do Senado substitua membros faltosos da comissão para restabelecer o regular funcionamento dela. Se o presidente não acolher, vamos impetrar um mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O Estado de S. Paulo
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