O retorno dos mensaleiros

APOSTA NA ‘MEMÓRIA-CURTA’

Onze dos 19 deputados acusados de se beneficiar do esquema de arrecadação irregular do PT pensam voltar ao Congresso ano que vem

A intenção do petista Marcelo Sereno, dirigente do partido na época do mensalão, de realizar uma campanha milionária para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro, animou outros políticos, envolvidos no escândalo de corrupção, a pensar alto.

Dos 19 deputados que responderam a processo na Câmara por acusação de terem sido beneficiados pelo esquema de arrecadação ilegal do Partido dos Trabalhadores, sete conseguiram ser reeleitos em 2006. Quatro que receberam o cartão vermelho dos eleitores vão tentar retomar a vida política ano que vem.

No grupo que ficou conhecido como mensaleiros na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT-BA) e Romeu Queiroz (PTB-MG) querem recuperar o privilégio de ter uma cadeira no Congresso. Luizinho, antigo líder do governo na Câmara, acusado de lavagem de dinheiro, sequer conseguiu vaga na câmara municipal de Santo André, no ABC paulista. Mesmo assim, já disse a amigos que estuda sair candidato. Por Tiago Pariz

Magno e Gomes não conseguiram sair da suplência na última eleição e almejam recuperar os cargos e o prestígio. Magno e Luizinho terão de explicar aos eleitores os motivos que levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a considerá-los réus no processo. Gomes tem missão mais fácil. Apesar de supostamente ter sido beneficiado pelo esquema montado pelo publicitário Marcos Valério de Souza, ele sequer consta do processo do mensalão na Corte. Com a cara limpa na Justiça, pretende ganhar de novo a confiança do povo baiano.

O ex-deputado Romeu Queiroz (PTB) ficou descontente com o resultado da eleição de 2006, quando constou apenas como suplente. Acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter sido beneficiário de R$ 350 mil de saques feitos em contas de empresas de Marcos Valério, chegou a cogitar sair da vida pública, mas analisa a possibilidade de se lançar candidato no ano que vem.

Parceiros e apoio financeiro
Marcelo Sereno não é réu, mas foi investigado pela CPI dos Bingos por suspeita de envolvimento na arrecadação de dinheiro de jogo ilegal. Sem o peso da Justiça nas costas, tem buscado parceiros e apoio financeiro. Sereno era tão dirigente quanto o ex-tesoureiro Delúbio Soares, apontado como o operador do mensalão, e teve o mesmo fim: caiu com a cúpula petista em 2005. Diferentemente do antigo colega, ele continua no PT e tem apoio de dirigentes à empreitada em busca de uma vaga na Câmara.

A tática de Sereno, no entanto, é contestada por correligionários. O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) reclamou da atitude do colega e disse que cogita nem tentar a reeleição se o ex-dirigente mantiver a voracidade pelo cargo público.

Aposta na “memória curta”
A tentativa de redenção é uma aposta na memória curta do eleitor depois do mensalão. O histórico é favorável. Na eleição municipal de 2008, as urnas absolveram o ex-deputado José Borba (PMDB), eleito prefeito em Jandaia do Sul (PR), e o ex-ministro Anderson

Adauto (PR), reeleito na prefeitura de Uberaba (MG).
Entre os deputados que constam como réus do processo, conseguiram se reeleger em 2006 e pretendem continuar com uma vaga na Câmara: José Genoino (PT-SP), Pedro Henry (PP-PR), Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Paulo Rocha (PT-PA). Delúbio Soares, rechaçado pelo PT, ainda sonha, apesar de as portas estarem cada vez mais fechadas para ele. Correio Braziliense

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