A república sindicalista instalada na Petrobras

PELEGOS DE LULA CRIARAM ESQUEMA POLÍTICO NA PETROBRÁS

Pelo menos 22 ex-sindicalistas ocupam postos estratégicos em gerências da Petrobras, da Transpetro e da Petros, o fundo de pensão da estatal. Desses, 14 são ligados ao PT - como ex-candidatos, ex-parlamentares, colaboradores de governo, doadores de campanha - e um ao PCdoB. Três processaram a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), e um acompanhou o MST na invasão à sede da ANP. Hoje comandam a distribuição de verbas da estatal, girando uma máquina que financia projetos em 938 prefeituras.

As gerências de Comunicação da Petrobras estão entregues a ex-sindicalistas, a maioria ligada à CUT e ao PT, porque eles conhecem bem os setores de produção e têm facilidade com projetos sociais. A explicação foi dada pelo gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, ele próprio um ex-sindicalista, em entrevista ao GLOBO. Por Chico Otavio e Tatiana Farah

Santarosa se considera um especialista em previdência social. Eleito, em 1995, conselheiro do fundo de pensão da Petrobras (Petros), disse que levantou detalhes de todos os problemas dos planos de aposentadoria da estatal, razão pela qual foi convidado pelo então presidente da estatal, José Eduardo Dutra, para assumir a presidência do Conselho em 2003. - Passei para o lado de cá, da gestão empresarial. Em vez de guerra judicial, buscamos a via da negociação com os participantes. Foram seis anos até chegarmos a um acordo. Houve a repactuação, e a Petrobras se comprometeu a depositar R$ 5,7 bilhões no fundo - disse.

UM POÇO DE POLÊMICAS
Protestar, ocupar, parar e resistir. A vida sindical parecia não trazer outros desafios para Wilson Santarosa e seus companheiros, líderes de jornadas que paralisaram refinarias e campos de produção da Petrobras nos anos 80 e 90. A cada crise, fosse um vazamento ou uma plataforma afundada, lá estavam eles, tentando alimentar o noticiário com denúncias. Mas os tempos mudaram, e os desafios também. Hoje, pelo menos 22 deles saltaram das assembleias e dos piquetes para postos estratégicos na estatal. Juntos, formam a república sindical que movimenta uma poderosa máquina política, presente em projetos sociais de 938 prefeituras, no comando do segundo maior fundo de pensão do país e do programa do biodiesel.

A lista, levantada pelo GLOBO, aponta ex-sindicalistas na presidência e nas gerências de Gás e Energia, Comunicação Institucional e Recursos Humanos da Petrobras, além da Transpetro e da direção da Petros, fundo de pensão com 64 mil participantes ativos e patrimônio de R$47 bilhões. Dos 22 nomes, egressos da Federação Nacional dos Petroleiros (FUP) e da Articulação Sindical, versão da corrente majoritária petista no sindicalismo, 17 são vinculados ao PT - como ex-candidatos, ex-colaboradores de governo, ex-parlamentares e doadores de campanha - e um ao PCdoB.

A maioria do grupo militou nas bases de São Paulo e Rio de Janeiro, mas há também ex-dirigentes da Bahia e do Ceará. Nas greves de 1983, ano da fundação da CUT, e principalmente de 1995, quando os petroleiros pararam a empresa por 32 dias, eles forjaram a fama de "ponta firme", gíria sindical para militante determinado e confiável. Três deles chegaram a processar a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Um, inclusive, acompanhou militantes do MST na invasão da sede da ANP no Rio.

Do discurso inflamado, porém, nada restou. No poder, o grupo trocou o megafone pelos ternos e os jornais do sindicato pelas grandes campanhas publicitárias. Alguns compraram empresas. Outros saíram de vilas operárias para morar em imóveis de bairros nobres. São assediados pela classe política e empresarial, e já aprenderam a circular em salões e roteiros internacionais.

Responsável pela verba publicitária, pelo relacionamento com a mídia e pela distribuição de recursos para programas sociais e ambientais (só em 2008 foram destinados R$544 milhões para mais de 2.300 projetos), a Comunicação Institucional é o abrigo preferencial dos ex-sindicalistas. Sete deles estão lá, entre os quais Wilson Santarosa, ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP), que comanda a gerência. Além dessa, as quatro gerências regionais, a Comunicação de Crise e a Gerência de Relacionamento (Comunicação interna) estão sob o controle de ex-dirigentes sindicais.

Demitido por greve hoje gerencia crises
O gerente de Crise, Erasmo Granado Ferreira, é o exemplo mais emblemático dessa mudança de atitude dos sindicalistas. Como dirigente do SindiPetro de Campinas, partiu para o confronto com a estatal e acabou demitido na greve de 1983, sendo anistiado em 2004. Hoje, comanda com zelo extremo o controle de dados que possam comprometer a imagem da empresa.

Com 1.150 funcionários, a Comunicação Institucional gastou nos últimos três anos mais de R$900 milhões anuais. Seus gerentes são acusados de favorecer prefeituras aliadas na distribuição de recursos sociais. Este ano, por exemplo, o PT lidera as prefeituras do Nordeste que tiveram festas juninas patrocinadas pela empresa - 20 de um total de 86, seguidas pelo PMDB, com 12.

O RH é outro setor estratégico nas mãos de sindicalistas. O gerente, Diego Hernandes, ex-dirigente do SindiPetro de Mauá, responde pela relação com sindicatos, associações de classe e a Petros. Apesar da experiência, a tarefa é espinhosa. O grupo de Diego deixou de ser maioria absoluta no setor petroleiro - dos 17 sindicatos, seis são dissidentes - e o gerente, ao lado do presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, já foi alvo de enterro simbólico realizado por aposentados.

No setor de Gás e Energia, o gerente de Desenvolvimento Energético, Mozart Schmitt de Queiroz, é ex-dirigente do SindiPetro do Rio. Ele cuida de temas como o biodiesel. Na presidência, eram dois ex-dirigentes, mas o staff subiu para três com a chegada de Rosemberg Pinto, transferido da Comunicação após ser alvo de denúncia por uso político de verbas sociais. O Globo

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