UNE defende Petrobras com verba da Petrobras

UNE recebeu R$ 920 mil de órgãos públicos federais para realizar congresso

Orçado em R$ 2,5 milhões, o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) recebeu ajuda de, pelo menos, R$ 920 mil do governo federal e de empresas estatais. A Petrobras, que doou R$ 100 mil — a exemplo do que já havia feito no congresso anterior, em 2007 —, ganhou o apoio dos universitários em passeata, ontem, na Esplanada dos Ministérios. Segundo os manifestantes, mais de 5 mil pessoas participaram do ato; a Polícia Militar estimou em 1.500.

O tesoureiro-geral da UNE, Harlem Oliveira Cunha, disse que a maior doação para o congresso foi do Ministério da Educação: R$ 600 mil para despesas de alimentação e transporte, em Brasília, dos cerca de 10 mil estudantes que participam do evento, até domingo. Segundo ele, o Ministério da Justiça liberou R$ 150 mil para a montagem de palco e a contratação dos sistemas de luz e som — para um show ontem à noite e para a plenária final, no domingo. Por Chico de Gois e Leila Suwwan

O restante da ajuda governamental, de acordo com o tesoureiro, foi do Ministério da Ciência e Tecnologia (R$ 50 mil) e da Caixa Econômica Federal (R$ 20 mil). O governo do Distrito Federal (GDF) cedeu o auditório Ruth Cardoso, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e o ginásio Nilson Nelson. A Universidade de Brasília (UnB) também liberou anfiteatros e salas de aula.

O material de divulgação do congresso da UNE registra o apoio de outros órgãos de governo: Ministério do Trabalho, Ministério da Cultura, Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Juventude e Correios. Harlem disse que a UNE bancou R$ 1 milhão do custo. A principal fonte de receita da entidade é a emissão de carteirinhas estudantis. O orçamento de R$ 2,5 milhões contabiliza o apoio do GDF e da UnB.

Ao lado de petroleiros, caminhoneiros e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a UNE protestou contra a CPI recém-criada para investigar a Petrobras no Senado. A presidente da entidade, Lúcia Stumpf, criticou os senadores de oposição responsáveis pela instalação da CPI, mas não deu uma palavra sobre as denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Lúcia afirmou que a defesa da Petrobras é uma bandeira histórica da entidade, e que a doação de R$ 100 mil não teve peso algum: — Não muda em nada a posição política da entidade. A UNE nunca vendeu sua política, nunca negociou suas pautas. Defender a Petrobras é bandeira da UNE há 50 anos — disse ela. — Já recebemos outras vezes. Achamos que o dinheiro das estatais deve servir também aos interesses dos estudantes.

Em janeiro, a Petrobras repassou mais R$ 100 mil para a realização da 6aBienal de Cultura e Arte da UNE.

Os manifestantes partiram da Catedral de Brasília. Depois de percorrer parte da Esplanada, foram até a sede da Petrobras, em Brasília. Um grupo de cerca de 300 estudantes ligados ao PSOL fez um protesto paralelo. Opositores da atual direção da UNE, que é comandada pelo PCdoB, eles levaram carro de som próprio e pediram a renúncia de Sarney. O grupo criticou também o corte de R$ 1,2 bilhão no orçamento do MEC, em 2009.

Um dos líderes dos estudantes do PSOL, Rodolfo Mohr criticou o apoio financeiro da Petrobras e do governo Lula à UNE: — É ruim. Compra a autonomia e a independência da entidade.

Por e-mail, a Petrobras informou que patrocina eventos de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “O evento reúne cerca de 10 mil lideranças estudantis de todo o Brasil. Essa ação faz parte da estratégia de rejuvenescimento da marca da Petrobras”, diz o texto.

Mais cedo, o presidente Lula participou da abertura do congresso, num encontro com bolsistas do programa Universidade para Todos (ProUni). Lucia Stumpf fez, então, um malabarismo verbal para discordar do apoio explícito do presidente aos senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Sarney.

Sempre crítica aos “neoliberais” e dos políticos que considera da direita, Lucia evitou, num primeiro momento, se contrapor ao presidente quando foi questionada sobre o que pensava das declarações de Lula. Disse que a UNE iria discutir uma reforma política para garantir o fortalecimento do Parlamento em defesa dos interesses da juventude e da sociedade. Depois, afirmou ser contra as oligarquias. Somente mais tarde, após insistência da imprensa, permitiu-se criticar, de leve, as afirmações de Lula.

— Não temos relação com as declarações do presidente sobre Collor, Renan e Sarney — afirmou ela O Globo

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