Bandidos com imunidade parlamentar usam linguagem de colegas nos presídios

O que tinha a dizer o senador Fernando Collor sobre a interpelação encaminhada por Pedro Simon?, quiseram saber depois do bate-boca de segunda-feira os jornalistas de plantão na saída do Congresso.


— Manda ele ir… — interrompeu Collor no meio, para entrar no carro, o insulto que prescindia de complemento para ser compreendido.

Três dias depois, o senador Renan Calheiros aproveitou a insistência de Tasso Jereissati em pedir a retirada do plenário oe um estranho que fazia apartes provocadores para retomar o fraseado dos jagunços.

— Coronel de merda! Seu merda! — exclamou fora do microfone o outro destaque da mais medonha trinca do Senado.

A primeira tentativa de transformar o Brasil numa imensa Canapi foi implodida pelo país moderno, que devolveu os provincianos a seu mundo primitivo. Por Augusto Nunes

A segunda está em curso. Os reincidentes sabem que os mais ferozes inimigos de antigamente viraram companheiros, são todos sócios na base alugada. Sabem que o Brasil civilizado ficou menor, e que o Congresso vai ficando parecido com o que há de pior em Alagoas.

Como se sentem em casa, os bandidos com imunidade parlamentar já nem procuram camuflar o que são. Antes, só agiam como os colegas nos presídios. Agora também falam como eles, expressam-se na mesma linguagem de esgoto. Se o Brasil que presta não contiver prontamente a ofensiva dos fora-da-lei, logo circularão pelo plenário com bermudas e camisetas cavadas. Collor já tem até aquela tatuagem que parece coisa de cadeia. - Veja Online


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TASSO: “PODER DE RENAN VEM DE LULA”
Um dia após protagonizar discussão com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou ontem que “não tinha saída”, a não ser partir para o confronto contra o que chamou de “tropa de choque” do PMDB no Senado. “Ficou claro que a era Sarney acabou”, disse ontem. Abaixo, trechos da entrevista.

Como a situação chegou ao ponto da discussão no plenário?
Desde o recesso, implementou-se um clima de ameaças e de intimidação dos senadores que eles consideram inimigos. A turma do PMDB, a tropa de choque do Renan, não tem nada a perder. Eles têm uma imagem desgastada na opinião pública, muitos não vão disputar reeleição. Não têm história política, estão dispostos a tudo.

Como eram essas intimidações?
Disseram que iam me colocar no Conselho de Ética (em razão da divulgação do uso de jato pago pelo Senado), disseram que tinham munição contra Sérgio Guerra (presidente do PSDB), colocaram notas em jornais, coisas desse tipo.

Quem fazia isso?
A tropa de choque, Wellington Salgado (PMDB-MG), Gilvam Borges (PMDB-AP).

Como está a situação?
Está um clima insustentável. Foi um erro brutal do Sarney. O clima se radicalizou de vez. Não tínhamos outra saída. Ou nos intimidávamos ou íamos para o confronto. Ficou claro que a era Sarney acabou. Sarney decretou o fim dele. Não tem mais condições de presidir o Senado.

O sr. se arrependeu do bate-boca?
Não foi o mais adequado, não foi bom. Mas não tinha saída. Em certas circunstâncias, há coisas que você tem de fazer. Não gostaria que isso tivesse acontecido. Mas tinha que mostrar ao País que não estava acuado diante de ameaças. Não foi dos dias mais felizes da minha vida.

O sr. pretende tomar alguma medida contra Renan?
Deixo a cargo do partido. Não há dúvida de que foi quebra de decoro (falar palavrão no plenário). Agora, eles têm maior número. Portanto, a nossa ação tem de ser política.

De onde vem o poder de Renan?
Vem da bancada do PMDB e de Lula, que quer o apoio na eleição presidencial. Renan tem apoio total, controla a bancada de maneira impressionante, Deus sabe lá como. Lula é culpado, estimulou isso. – Por Julia Duailibi - OEstado de São Paulo



A "TROPA DE CHOQUE” HOJE É OUTRA
O país assiste, estupefato e impotente, a mais um espetáculo vexaminoso que se desenrola em Brasília.

Para garantir-se na presidência do Senado, José Sarney, afogando-se em revelações de nepotismo e corrupção, recorreu à "tropa de choque" - um lumpesinato parlamentar de biografia encardida, sem nada a perder e que usa como armas da chantagem à intimidação física. A tropa de choque que tenta blindar Sarney é capitaneada por Renan Calheiros, derrubado da mesma cadeira em 2007, depois que vieram à tona a pensão da filha paga por um lobista e outros ilícitos bem mais constrangedores. Seu lugar-tenente é Fernando Collor de Mello, um ex-presidente da República cuja folha corrida dispensa apresentações. Ao alistar gente dessa espécie para formar sua linha de ataque, Sarney aceitou pagar o preço que esses serviços de proteção cobram. No campo simbólico, enterra sua longa carreira política igualando-se em estatura a Collor e Renan. Na prática, condenou-se a presidir um Senado em que a política, como se viu na quinta-feira passada, se tornou apenas a extensão de uma guerra por outros meios. Aos brasileiros, o decano senador, ex-presidente da República e ex-governador dá o direito de perguntar, afinal que recompensa preciosa é essa a justificar tão alto custo da operação de defesa?

Um dos aspectos mais tristes desses episódios degradantes, que se sucedem em frequência muito acima do tolerável, é que eles minam a confiança dos cidadãos na democracia e em suas instituições. Nesse sentido, os escândalos e seus encobrimentos em Brasília podem fazer o que nem mesmo a ditadura militar conseguiu ao fechar o Congresso em 1968 e 1977: matar a ideia do Parlamento como o berço das leis, a casa do povo e o pavor dos tiranos. Abomináveis de qualquer ângulo que se olhe, os regimes autoritários cedo ou tarde causam na sociedade uma reação que se manifesta por meio do fortalecimento do sentimento democrático. Foi isso que enterrou a ditadura militar em 1985. É esse sentimento que os senhores símbolos da falência do atual modo de vida parlamentar arriscam matar. Carta do Leitor – Revista Veja

Um comentário:

flávia disse...

E é difícil ver Renan,Jucá,e Collor juntos fazendo conluios,enquanto Sarney mentia no Senado.Esses conluios aumentando o poder e garantindo a impunidade geral dos integrantes da quadrilha,eca...