Brasil oferece R$ 3,5 bi à Argentina

CHEQUE ESPECIAL PARA LOS HERMANOS

Nova linha de crédito com juros iguais à Selic será como "cheque especial" ao país vizinho, diz Mantega. Na foto: Mantega (Fazenda) e Amado Bodou (Economia da Argentina).


O Brasil vai liberar um empréstimo para a Argentina de R$ 3,5 bilhões, nos mesmos moldes do que foi oferecido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) em outubro do ano passado. Pelo acerto, se a Argentina precisar sacar os recursos ou parte deles, pagará o equivalente à taxa básica de juros do Brasil, hoje de 8,75% ao ano.

O dinheiro ficará disponível em pesos para o país vizinho e será contabilizado como reservas para o Brasil. Os recursos vão sair do caixa do Banco Central, em moeda nacional. Por Juliana Rocha

Ontem, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Amado Bodou (da Economia da Argentina) assinaram o acordo de intenção de abrir a linha de crédito, mas o contrato terá que ser firmado entre os bancos centrais, depois de análises jurídicas e definição de pendências.

Mantega citou, como um exemplo de cláusula que deverá constar no contrato, que o saque não poderá ser feito de uma vez só para não mexer de forma drástica na cotação das moedas em um só dia. O ministro não soube dizer quanto tempo vai demorar para o contrato ficar pronto nem qual será a validade desta linha.

O mecanismo foi chamado de "swap" pelos dois ministros. Isso porque o governo da Argentina também vai disponibilizar o mesmo valor, equivalente a 7 bilhões de pesos para o Brasil, que, se precisar sacar os recursos, pagará os juros do país vizinho de 11%.

As chances de o Brasil sacar o dinheiro são mínimas, uma vez que os juros cobrados pelo governo são mais baixos. Então, sempre que o setor público brasileiro precisar se financiar, emite títulos da dívida interna.

Mantega ressaltou diversas vezes que o acordo é um empréstimo que o Brasil ofereceu. Ele comparou com um cheque especial, o qual a Argentina pode usar se quiser. A linha de crédito do Brasil em pesos faz parte de uma estratégia brasileira de substituir os dólares nas transações financeiras e comerciais com outros países. O comércio do Brasil com a Argentina em pesos já está funcionando. Há a intenção de adotar o mesmo mecanismo com a China, usando o yuan como moeda de troca.

Mantega afirmou que o contrato com a Argentina faz parte de uma estratégia de maior integração financeira do Mercosul e que o Brasil pretende oferecer o mesmo mecanismo para Paraguai, Uruguai e Bolívia. Segundo os dois ministros, o Banco do Sul será outro passo na integração da região.

"Temos interesse de criar um fortalecimento financeiro de ambos em um cenário de crise, em que o crédito está escasso", disse Mantega.

O ministro brasileiro acrescentou, porém, que o fato de o Brasil anunciar agora esse acordo não quer dizer que o vizinho precise de liquidez. Ao contrário, Mantega ressaltou dados positivos da Argentina.

Diante do colega argentino, Mantega tentou esfriar os problemas entre os dois países no comércio exterior. Ele disse que as licenças não automáticas, que dificultam exportações, representam apenas 6% do comércio do Brasil com a Argentina. Folha de S. Paulo



VAI SOBRAR DE NOVO: BOLÍVIA AMEAÇA MUDAR ACORDO DE VENDA DE GÁS
Poucos dias antes da visita do Lula da Silva, o governo boliviano disse que estuda modificar o contrato de fornecimento de gás para o Brasil. O mandatário boliviano, Evo Morales, afirmou que, no encontro de sábado, vai falar sobre os preços do gás natural enviado para o país.

Sem dar mais detalhes, Morales também afirmou que conversará com Lula sobre "alguma conta pendente do Brasil, especialmente da Petrobras com a YPFB [a estatal petrolífera boliviana]".

As compras brasileiras de gás natural boliviano caíram nos últimos meses de 31 milhões de metros cúbicos ao dia para uma média de cerca de 23 milhões de metros cúbicos, devido ao aumento da capacidade de geração de energia das hidrelétricas.

Já o presidente da YPFB, Carlos Villegas, afirmou que o governo estuda modificar o acordo de venda para o Brasil, "de tal maneira que o novo contrato nos libere uma quantidade de gás importante para destinar a outros mercados". Segundo ele, o país não pode "viver na incerteza" com a alternância de demanda pelo Brasil. Com a queda nas compras do Brasil, a arrecadação da Bolívia com o setor de petróleo e gás natural caiu 15% nos primeiros cinco meses deste ano. Folha de S. Paulo

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