Alheio à crise, o Itamaraty quer comprar imóvel de R$ 77 milhões para a embaixada de Londres
O momento é de austeridade e contenção de gastos públicos nos cinco continentes. Mas a regra não vale para o Itamaraty, que parece viver em outro mundo. Não bastasse a abertura de mais de 30 representações diplomáticas nos últimos anos, a diplomacia nacional concluiu que chegou a hora de investir em imóveis. Convencida de que crise é oportunidade, a embaixada do Brasil na Inglaterra está pedindo um crédito especial ao governo para comprar uma nova sede em Londres, na luxuosa região central de Mayfair.
Alheio às limitações do Orçamento federal, que sofreu corte de R$ 12 bilhões neste ano, o embaixador Carlos Augusto Santos-Neves quer investir R$ 77 milhões, cerca de 23 milhões de libras esterlinas, num prédio de 1,8 mil metros quadrados. Clique para aumentar
De férias no Brasil, Santos-Neves disse a amigos que o negócio era bom porque o Brasil iria economizar com o aluguel no longo prazo. Além disso, estaria aproveitando a baixa nos preços dos imóveis em Londres. "Podemos negociar mais", justificou. O negócio depende da aprovação no Congresso, mas não encontrou resistência entre os parlamentares governistas. Por Adriana Nicacio
Santos-Neves argumenta também que o negócio é necessário porque o proprietário do imóvel, o duque de Westminster, Gerald Cavendish Grosvenor, decidiu não renovar o contrato de aluguel de um dos dois prédios da embaixada. Como o contrato expira em 2011, os brasileiros ficariam desalojados em 2012. Para evitar o despejo, Santos-Neves contratou a consultoria Be&J para tentar negociar o aluguel ou procurar um novo endereço para os 13 diplomatas brasileiros que trabalham hoje no número 32 da Green Street. Não houve conversas com o duque, que não arreda o pé de retomar o imóvel. A Be&J, então, apresentou um leque de 16 edifícios que poderiam ser alugados por 100 anos - o que é bem comum em Londres - e dois no formato freehold, como os londrinos chamam a venda do imóvel, opção bem mais rara. O Itamaraty encheu os olhos para a oportunidade de comprar um edifício empresarial inteiro próximo da atual chancelaria, numa região de Londres ocupada por embaixadas e conhecida pelo perfil restrito e elitista.
O prédio, segundo o Itamaraty, possui instalações novas, ao contrário do que a embaixada ocupa atualmente. Além disso, o espaço seria otimizado. Na situação atual, os 1.250 metros quadrados são recortados por escadas em níveis diferentes, o que deixaria de ocorrer. Santos-Neves animou-se com a possibilidade e encomendou outro estudo. A ideia é devolver os dois prédios e receber pelo primeiro, cujo contrato só vence em 2046, luvas entre R$ 16,7 milhões e R$ 23,4 milhões pelo direito que o Brasil tem de usar o imóvel pelos próximos 37 anos. "Essa quantia voltará para o Tesouro", afirma uma fonte do Itamaraty. O duque de Westminster, porém, resiste. "O problema é que o duque tem uma goela de todo tamanho", critica o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que serviu em Londres nos anos 1990. "Para o Brasil é muito importante ter uma sede suntuosa", defende a embaixatriz Lucia Flecha de Lima. "Se o duque não quer renovar o aluguel, o que fazer? O Brasil pode comprar outro prédio."
"Ainda que essa compra compense, não me parece oportuno" - Gil Castelo Branco, economista da ONG Contas Abertas
Em nota à ISTOÉ, a assessoria de imprensa do Itamaraty explica que a nova aquisição é necessária diante da "impossibilidade física de instalar a chancelaria apenas no imóvel restante". Alega também que o novo imóvel será avaliado "por três imobiliárias independentes, a fim de possibilitar a verificação do valor de mercado". Não está em discussão a lisura do negócio, mas sim a prioridade do gasto. "Ainda que um estudo mostre que a longínquo prazo essa compra compensa, não me parece oportuno", diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. "Qualquer cartilha de economista reza que agora é hora de investir no País, gerar emprego e movimentar a economia interna."
No Brasil real, a Secretaria de Educação de São Paulo gastou R$ 77 milhões para reformar 140 escolas estaduais. O mesmo valor que Santa Catarina recebeu para ações de vigilância sanitária depois das enchentes do ano passado. Representante do governo na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Maurício Rands (PT-PE) defende a nova sede. Ele diz que as relações bilaterais entre o Brasil e o Reino Unido ainda não estão suficientemente desenvolvidas. "Os R$ 77 milhões são migalhas diante do que está em jogo. O Brasil não é uma republiqueta. É um player." Se o Itamaraty está disposto a investir, melhor seria melhorar a qualidade dos serviços prestados aos brasileiros no Exterior. Ou, por exemplo, socorrer embaixadas em países com peso no comércio mundial, como a da China. Segundo queixas do embaixador em Pequim, Clodoaldo Hugueney, lá a representação vive à mingua. Revista IstoÉ
RAÍZES
A CCJ da Câmara aprovou a doação de R$ 25 milhões à... Autoridade Nacional Palestina. Dinheiro antes destinado a obra no Itamaraty. O relator? Paulo Maluf. - Por Sonia Racy – O Estado de São Paulo
O momento é de austeridade e contenção de gastos públicos nos cinco continentes. Mas a regra não vale para o Itamaraty, que parece viver em outro mundo. Não bastasse a abertura de mais de 30 representações diplomáticas nos últimos anos, a diplomacia nacional concluiu que chegou a hora de investir em imóveis. Convencida de que crise é oportunidade, a embaixada do Brasil na Inglaterra está pedindo um crédito especial ao governo para comprar uma nova sede em Londres, na luxuosa região central de Mayfair.
Alheio às limitações do Orçamento federal, que sofreu corte de R$ 12 bilhões neste ano, o embaixador Carlos Augusto Santos-Neves quer investir R$ 77 milhões, cerca de 23 milhões de libras esterlinas, num prédio de 1,8 mil metros quadrados. Clique para aumentar
De férias no Brasil, Santos-Neves disse a amigos que o negócio era bom porque o Brasil iria economizar com o aluguel no longo prazo. Além disso, estaria aproveitando a baixa nos preços dos imóveis em Londres. "Podemos negociar mais", justificou. O negócio depende da aprovação no Congresso, mas não encontrou resistência entre os parlamentares governistas. Por Adriana Nicacio
Santos-Neves argumenta também que o negócio é necessário porque o proprietário do imóvel, o duque de Westminster, Gerald Cavendish Grosvenor, decidiu não renovar o contrato de aluguel de um dos dois prédios da embaixada. Como o contrato expira em 2011, os brasileiros ficariam desalojados em 2012. Para evitar o despejo, Santos-Neves contratou a consultoria Be&J para tentar negociar o aluguel ou procurar um novo endereço para os 13 diplomatas brasileiros que trabalham hoje no número 32 da Green Street. Não houve conversas com o duque, que não arreda o pé de retomar o imóvel. A Be&J, então, apresentou um leque de 16 edifícios que poderiam ser alugados por 100 anos - o que é bem comum em Londres - e dois no formato freehold, como os londrinos chamam a venda do imóvel, opção bem mais rara. O Itamaraty encheu os olhos para a oportunidade de comprar um edifício empresarial inteiro próximo da atual chancelaria, numa região de Londres ocupada por embaixadas e conhecida pelo perfil restrito e elitista.
O prédio, segundo o Itamaraty, possui instalações novas, ao contrário do que a embaixada ocupa atualmente. Além disso, o espaço seria otimizado. Na situação atual, os 1.250 metros quadrados são recortados por escadas em níveis diferentes, o que deixaria de ocorrer. Santos-Neves animou-se com a possibilidade e encomendou outro estudo. A ideia é devolver os dois prédios e receber pelo primeiro, cujo contrato só vence em 2046, luvas entre R$ 16,7 milhões e R$ 23,4 milhões pelo direito que o Brasil tem de usar o imóvel pelos próximos 37 anos. "Essa quantia voltará para o Tesouro", afirma uma fonte do Itamaraty. O duque de Westminster, porém, resiste. "O problema é que o duque tem uma goela de todo tamanho", critica o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que serviu em Londres nos anos 1990. "Para o Brasil é muito importante ter uma sede suntuosa", defende a embaixatriz Lucia Flecha de Lima. "Se o duque não quer renovar o aluguel, o que fazer? O Brasil pode comprar outro prédio."
"Ainda que essa compra compense, não me parece oportuno" - Gil Castelo Branco, economista da ONG Contas Abertas
Em nota à ISTOÉ, a assessoria de imprensa do Itamaraty explica que a nova aquisição é necessária diante da "impossibilidade física de instalar a chancelaria apenas no imóvel restante". Alega também que o novo imóvel será avaliado "por três imobiliárias independentes, a fim de possibilitar a verificação do valor de mercado". Não está em discussão a lisura do negócio, mas sim a prioridade do gasto. "Ainda que um estudo mostre que a longínquo prazo essa compra compensa, não me parece oportuno", diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. "Qualquer cartilha de economista reza que agora é hora de investir no País, gerar emprego e movimentar a economia interna."
No Brasil real, a Secretaria de Educação de São Paulo gastou R$ 77 milhões para reformar 140 escolas estaduais. O mesmo valor que Santa Catarina recebeu para ações de vigilância sanitária depois das enchentes do ano passado. Representante do governo na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Maurício Rands (PT-PE) defende a nova sede. Ele diz que as relações bilaterais entre o Brasil e o Reino Unido ainda não estão suficientemente desenvolvidas. "Os R$ 77 milhões são migalhas diante do que está em jogo. O Brasil não é uma republiqueta. É um player." Se o Itamaraty está disposto a investir, melhor seria melhorar a qualidade dos serviços prestados aos brasileiros no Exterior. Ou, por exemplo, socorrer embaixadas em países com peso no comércio mundial, como a da China. Segundo queixas do embaixador em Pequim, Clodoaldo Hugueney, lá a representação vive à mingua. Revista IstoÉ
RAÍZES
A CCJ da Câmara aprovou a doação de R$ 25 milhões à... Autoridade Nacional Palestina. Dinheiro antes destinado a obra no Itamaraty. O relator? Paulo Maluf. - Por Sonia Racy – O Estado de São Paulo
2 comentários:
Esse tal comunismo chic só é bom para quem está no topo do serviço público. Que com toda incoerência possível não aceitam ganhar um salário mínimo, mais vale coxinha.
Ora, ora...A viuva sempre paga a conta!
Acabo de ler que a CCJ do senado aprovou a doação de R$ 25 milhões à
AUTORIDADE NACIONAL PALESTINA!!!!!!
Elles nos farão sangrar até a 20ª geração!!! Isso não têm fim!!!!
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