A INCOMPETÊNCIA DE LULA É O QUE VAI NOS MATAR
Entrevista com Juvêncio Furtado
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia alerta para a nova onda da Influenza A (H1N1) em 2010, critica atuação do governo brasileiro, que restringiu o tratamento aos casos graves, e avisa que o país precisa começar a vacinar o mais rápido possível
O governo brasileiro tem uma estratégia de combate à gripe A (H1N1)
Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Juvêncio Furtado, não. E — mais grave — é bom traçar uma até o fim do ano. “O governo ainda não tem estratégia porque não se sabe tudo o que é fundamental saber sobre o vírus, quais grupos devem ser vacinados etc. O que se sabe é que tem que vacinar pessoas no Brasil no ano que vem. Se não vacinar, a epidemia vai aumentar”, afirmou. Em entrevista ao Correio, o especialista diz que o governo errou ao restringir o tratamento da nova doença apenas aos casos graves. Mas ressalta que a escalada das mortes já era esperada. “O que surpreende todo mundo é a população que morre. Esperávamos que pessoas teriam complicações pela gripe e viessem a morrer. Mas não imaginávamos que pudesse haver jovens entre os mortos.” Por Diego Moraes
Como a Sociedade Brasileira de Infectologia avalia as ações do Ministério da Saúde para combater a gripe?
Num primeiro momento, o ministério teve uma grande preocupação com a contenção da epidemia, que era retardar a entrada do vírus no país. No segundo momento, a postura foi diagnosticar e tratar todos os casos suspeitos e confirmados. Num terceiro momento, a estratégia do ministério foi tratar e diagnosticar apenas os casos graves, e aí nos tivemos a primeira divergência. Achamos que quando passou a privilegiar os casos graves, poderíamos causar um atraso no tratamento. Ou seja, pode ser que uma pessoa que evoluiu para uma forma grave, se tivesse sido tratada precocemente, não chegasse a esse estado.
Ou seja, correu-se um risco ao esperar que o paciente ficasse em estado grave para começar o tratamento?
Correu-se um risco. Nós entendemos que teria sido mais prudente se o tratamento fosse feito no início dos sintomas. E isso foi aperfeiçoado posteriormente. O Ministério da Saúde permitiu a autonomia do médico na hora de decidir se o tratamento vai para essa ou aquela pessoa. Certamente o número de casos graves deve diminuir nos próximos 15 ou 20 dias, talvez por essa estratégia.
A escalada das mortes no Brasil era mesmo esperada?
Esse número é teoricamente um número esperado. O que surpreende todo mundo é a população que morre. No começo da epidemia, imaginávamos que crianças com menos de 2 anos e os mais velhos seriam mais afetados. Mas a gente percebeu que os jovens é que foram acometidos pela doença. Esperávamos que pessoas teriam complicações pela gripe e viessem a morrer. Mas não imaginávamos que pudesse haver jovens.
Então o número de 200 óbitos é normal…
É muito difícil dar uma resposta no estilo “eu espero que morram tantas pessoas”. A gente sempre espera e luta para fazer o máximo possível para que morra menos gente. Espero que as ações sejam para minimizar. Mas a gente sabe que estatisticamente isso iria ocorrer. Qual é o número? Realmente não dá para saber pelo fato de ser um novo vírus. Não dá para prever quantas pessoas vão morrer ainda porque é um vírus desconhecido.
Como o senhor classifica o momento?
É de observação. A gente sabe que essa gripe não vai acabar agora, em dezembro. Ela vai continuar. Em números menores, claro, mas vai continuar sendo transmitida para a população numa proporção menor. No ano que vem teremos gripe A H1N1? Sem dúvida. Pelo menos são as conclusões preliminares porque nos Estados Unidos ela continuou. O mundo tem que se preparar para a nova onda de gripe do ano que vem.
E qual a preparação que o Brasil deve ter?
É necessário saber qual a estratégia de vacinação do Ministério da Saúde. Vai vacinar quem? Na gripe comum são os idosos e crianças. Essa medida tem resultados positivos? Tem. Reduziu os casos de gripe ao longo dos anos. Quando se vacinar para a nova gripe, também haverá um impacto positivo. Aqueles que não forem vacinados terão risco? Certamente terão. Mas nem que o Brasil quisesse ter vacina para todo mundo, teria. Isso porque a capacidade de produção do mundo não permite esse acesso.
E quem deve receber a vacina da nova gripe primeiro?
Precisa ver quanto o Brasil tem condição de fabricar e verificar qual é a prioridade. Estamos falando de saúde pública, não individual. Quem é a população com mais risco? Essa terá que ser vacinada. O profissional de saúde tem que ser vacinado prioritariamente. Depois, qual será a estratégia para vacinar o resto da população? Aí vai depender do número de doses. O que se sabe é que tem que vacinar pessoas no Brasil no ano que vem. Se não vacinar, a epidemia vai aumentar. Se não se utilizar a vacina como estratégia de contenção da doença, certamente nós teremos uma epidemia com uma gravidade maior no ano que vem.
E até quando a imunização deve ocorrer?
A vacinação tem que ocorrer antes do inverno, em abril ou maio, antes dos meses frios. Isso com base na experiência da Influenza comum.
O novo vírus é mais agressivo que o comum?
Neste momento é. Não quer dizer que ele vai continuar sendo mais agressivo. Neste momento, a sensação que se tem é que esse vírus tem uma capacidade de evoluir mais rapidamente. Na gripe comum se observa que o indivíduo tem complicações decorrentes dessa doença. Tem pneumonias bacterianas associadas à gripe. Nesse caso, o vírus compromete de tal forma os pulmões, que dá a sensação de que ele tem uma agressividade maior que o vírus sazonal.
Os médicos estão preparados para lidar com um vírus novo?
Não totalmente. Melhorou muito do início até agora, mas certamente muitas informações precisam ser dadas. Ainda tem muito o que aprender e preparar. O infectologista tem uma formação voltada para isso, mesmo que não conheça o vírus. Mas quando você pega outras especialidades que não tiveram essa formação, essas pessoas têm mais dificuldades de avaliar os casos preliminarmente.
Qual pode ser o impacto desse vírus caso ele chegue a comunidades mais pobres antes da vacina?
Se esses locais tiverem carência de condições de saúde, óbvio que a gripe vai tomar um papel mais grave. E sem dúvida o estrago seria bem maior. Numa favela ou num cortiço, com cinco 10 pessoas no mesmo cômodo, o risco é muito grande. Esse é o grande desafio do Sistema Único de Saúde. Correio Braziliense
Entrevista com Juvêncio Furtado
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia alerta para a nova onda da Influenza A (H1N1) em 2010, critica atuação do governo brasileiro, que restringiu o tratamento aos casos graves, e avisa que o país precisa começar a vacinar o mais rápido possível
O governo brasileiro tem uma estratégia de combate à gripe A (H1N1)
Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Juvêncio Furtado, não. E — mais grave — é bom traçar uma até o fim do ano. “O governo ainda não tem estratégia porque não se sabe tudo o que é fundamental saber sobre o vírus, quais grupos devem ser vacinados etc. O que se sabe é que tem que vacinar pessoas no Brasil no ano que vem. Se não vacinar, a epidemia vai aumentar”, afirmou. Em entrevista ao Correio, o especialista diz que o governo errou ao restringir o tratamento da nova doença apenas aos casos graves. Mas ressalta que a escalada das mortes já era esperada. “O que surpreende todo mundo é a população que morre. Esperávamos que pessoas teriam complicações pela gripe e viessem a morrer. Mas não imaginávamos que pudesse haver jovens entre os mortos.” Por Diego Moraes
Como a Sociedade Brasileira de Infectologia avalia as ações do Ministério da Saúde para combater a gripe?
Num primeiro momento, o ministério teve uma grande preocupação com a contenção da epidemia, que era retardar a entrada do vírus no país. No segundo momento, a postura foi diagnosticar e tratar todos os casos suspeitos e confirmados. Num terceiro momento, a estratégia do ministério foi tratar e diagnosticar apenas os casos graves, e aí nos tivemos a primeira divergência. Achamos que quando passou a privilegiar os casos graves, poderíamos causar um atraso no tratamento. Ou seja, pode ser que uma pessoa que evoluiu para uma forma grave, se tivesse sido tratada precocemente, não chegasse a esse estado.
Ou seja, correu-se um risco ao esperar que o paciente ficasse em estado grave para começar o tratamento?
Correu-se um risco. Nós entendemos que teria sido mais prudente se o tratamento fosse feito no início dos sintomas. E isso foi aperfeiçoado posteriormente. O Ministério da Saúde permitiu a autonomia do médico na hora de decidir se o tratamento vai para essa ou aquela pessoa. Certamente o número de casos graves deve diminuir nos próximos 15 ou 20 dias, talvez por essa estratégia.
A escalada das mortes no Brasil era mesmo esperada?
Esse número é teoricamente um número esperado. O que surpreende todo mundo é a população que morre. No começo da epidemia, imaginávamos que crianças com menos de 2 anos e os mais velhos seriam mais afetados. Mas a gente percebeu que os jovens é que foram acometidos pela doença. Esperávamos que pessoas teriam complicações pela gripe e viessem a morrer. Mas não imaginávamos que pudesse haver jovens.
Então o número de 200 óbitos é normal…
É muito difícil dar uma resposta no estilo “eu espero que morram tantas pessoas”. A gente sempre espera e luta para fazer o máximo possível para que morra menos gente. Espero que as ações sejam para minimizar. Mas a gente sabe que estatisticamente isso iria ocorrer. Qual é o número? Realmente não dá para saber pelo fato de ser um novo vírus. Não dá para prever quantas pessoas vão morrer ainda porque é um vírus desconhecido.
Como o senhor classifica o momento?
É de observação. A gente sabe que essa gripe não vai acabar agora, em dezembro. Ela vai continuar. Em números menores, claro, mas vai continuar sendo transmitida para a população numa proporção menor. No ano que vem teremos gripe A H1N1? Sem dúvida. Pelo menos são as conclusões preliminares porque nos Estados Unidos ela continuou. O mundo tem que se preparar para a nova onda de gripe do ano que vem.
E qual a preparação que o Brasil deve ter?
É necessário saber qual a estratégia de vacinação do Ministério da Saúde. Vai vacinar quem? Na gripe comum são os idosos e crianças. Essa medida tem resultados positivos? Tem. Reduziu os casos de gripe ao longo dos anos. Quando se vacinar para a nova gripe, também haverá um impacto positivo. Aqueles que não forem vacinados terão risco? Certamente terão. Mas nem que o Brasil quisesse ter vacina para todo mundo, teria. Isso porque a capacidade de produção do mundo não permite esse acesso.
E quem deve receber a vacina da nova gripe primeiro?
Precisa ver quanto o Brasil tem condição de fabricar e verificar qual é a prioridade. Estamos falando de saúde pública, não individual. Quem é a população com mais risco? Essa terá que ser vacinada. O profissional de saúde tem que ser vacinado prioritariamente. Depois, qual será a estratégia para vacinar o resto da população? Aí vai depender do número de doses. O que se sabe é que tem que vacinar pessoas no Brasil no ano que vem. Se não vacinar, a epidemia vai aumentar. Se não se utilizar a vacina como estratégia de contenção da doença, certamente nós teremos uma epidemia com uma gravidade maior no ano que vem.
E até quando a imunização deve ocorrer?
A vacinação tem que ocorrer antes do inverno, em abril ou maio, antes dos meses frios. Isso com base na experiência da Influenza comum.
O novo vírus é mais agressivo que o comum?
Neste momento é. Não quer dizer que ele vai continuar sendo mais agressivo. Neste momento, a sensação que se tem é que esse vírus tem uma capacidade de evoluir mais rapidamente. Na gripe comum se observa que o indivíduo tem complicações decorrentes dessa doença. Tem pneumonias bacterianas associadas à gripe. Nesse caso, o vírus compromete de tal forma os pulmões, que dá a sensação de que ele tem uma agressividade maior que o vírus sazonal.
Os médicos estão preparados para lidar com um vírus novo?
Não totalmente. Melhorou muito do início até agora, mas certamente muitas informações precisam ser dadas. Ainda tem muito o que aprender e preparar. O infectologista tem uma formação voltada para isso, mesmo que não conheça o vírus. Mas quando você pega outras especialidades que não tiveram essa formação, essas pessoas têm mais dificuldades de avaliar os casos preliminarmente.
Qual pode ser o impacto desse vírus caso ele chegue a comunidades mais pobres antes da vacina?
Se esses locais tiverem carência de condições de saúde, óbvio que a gripe vai tomar um papel mais grave. E sem dúvida o estrago seria bem maior. Numa favela ou num cortiço, com cinco 10 pessoas no mesmo cômodo, o risco é muito grande. Esse é o grande desafio do Sistema Único de Saúde. Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário