Basta fazer as contas para entender que está havendo contratações no País, mas não a geração de empregos novos, como se tem divulgado.
Há alguns anos nos perguntamos o que está acontecendo com o nosso querido país. Cada vez que pensamos no que ocorre, não podemos deixar de lembrar do fantástico livro "1984" do gênio inglês George Orwell, escrito em 1948. É um dos melhores livros da literatura mundial e, mesmo sendo um romance, não deixa de ser uma impressionante visão de futuro, apenas com erro de alguns anos em relação ao título do livro.
O autor está mais vivo do que nunca neste mundo, e mais enfaticamente em alguns países, dentre os quais o nosso – onde é herói sem que praticamente ninguém saiba– e para quem o livro parece ter sido escrito. É o ídolo principal dos nossos governantes.
É incrível como se escamoteia a verdade no nosso país, passando à população uma verdade que não existe. Ou se mente ou se conta meia missa. É difícil achar alguém que saiba o que acontece de verdade, por conta da forma como se colocam os assuntos para o povo. Por Samir Keedi
Como em "1984", a história é reescrita e mudada à conveniência e ao sabor dos ventos planaltinos.
O emprego é um deles, e ninguém parece se dar conta. Ou se percebem, calam-se. Especialmente a imprensa, que a tudo acompanha e nada contesta. Parece que não existem números em que se possa basear, ou então os esquece. Bem, sabemos o quanto a imprensa é livre no país para fazer o que quer.
No governo anterior todos sabiam – pelo menos era o que se noticiava – que no Brasil havia cerca de 30/32 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Candidatos presidenciais afirmavam então que era preciso criar 10 milhões de vagas em quatro anos. E que isso seria o mínimo aceitável.
Passados quase sete anos do novo velho governo, divulga-se a criação de cerca de 1,5/1,8 milhão de empregos a cada ano, e diz-se que teriam sido criados já quase dez milhões de vagas. Todo mundo aceita isso como uma verdade inconteste. Gostaríamos também de aceitar e de nos rejubilar com o fato – assim nossos irmãos brasileiros poderiam ter uma vida melhor, mais dignidade e, em especial, orgulho do país. Afinal, ele é nosso...
Só que, segundo os últimos registros das nossas autoridades, temos no país 32,7 milhões de carteiras assinadas. É grande a tentação de perguntar onde estão os novos empregos, e onde foram criados. Na questão dos empregos, mais do nunca, George Orwell é nosso guru. Além disso, nosso percentual de desempregados é baixo, de acordo com as nossas autoridades. Mais uma vez, "1984".
Como pode ser isso, se nossa PEA (população economicamente ativa) é de quase 90 milhões de trabalhadores? Ou seja, temos quase 60 milhões de almas desempregadas ou subempregadas, isto é, sem a bendita carteira assinada. Assim, está mais do que claro que esses empregos nunca foram criados e não existem. Assim, ou não sabemos nada, bem como fazer uma simples conta aritmética, ou alguém está, no mínimo, equivocado, e passando informações erradas para a frente.
E ninguém se dá ao trabalho de parar para pensar no assunto e nas incoerências; ou não interessa pensar, ou escrever, ou dizer, ou....
Dessa forma, a menos que estejamos muito, mas muitíssimo enganados, não houve efetivamente a geração de empregos, como se costuma divulgar. Estamos desconfiados de que, na realidade, quando se fala em geração, quer se falar em contratação – o que é, convenhamos, coisa bem diferente. As contratações estão ocorrendo, e sobre isso não temos a menor dúvida. Havendo milhões de demissões ao longo dos anos, obviamente ocorrem também milhões de contratações, afinal, há que se substituir quem saiu –embora nem todos, já que tem havido redução de vagas nos últimos tempos.
Está claro, portanto, que está havendo contratações e não geração de empregos, como se divulga. E quanto a termos apenas cerca de 2 milhões de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas, o fato também tem de ser contestado. É um número muito diferente dos 60 milhões que precisam de carteira assinada no país.
Somente o fato de que mais de onze milhões de pessoas recebem o bolsa- esmola, com mais de quarenta milhões de beneficiados, já é o suficiente para mostrar que o desemprego é bem maior do que se apregoa e se passa à população nativa, pouco esclarecida e sem muita chance de entender. Não são tantos os que têm condições de entender e interpretar falas e textos das nossas autoridades.
Pobre Brasil e sua "idolatria" a "1984" e a George Orwell, que é grande, mas deveria sê-lo apenas em função da sua genialidade como escritor, e não da ignorância dos fatos ou da existência do Brasil.
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor, escritor e autor de vários livros em comércio exterior. samir@aduaneiras.com.br
Fonte: Diário do Comércio
Há alguns anos nos perguntamos o que está acontecendo com o nosso querido país. Cada vez que pensamos no que ocorre, não podemos deixar de lembrar do fantástico livro "1984" do gênio inglês George Orwell, escrito em 1948. É um dos melhores livros da literatura mundial e, mesmo sendo um romance, não deixa de ser uma impressionante visão de futuro, apenas com erro de alguns anos em relação ao título do livro.
O autor está mais vivo do que nunca neste mundo, e mais enfaticamente em alguns países, dentre os quais o nosso – onde é herói sem que praticamente ninguém saiba– e para quem o livro parece ter sido escrito. É o ídolo principal dos nossos governantes.
É incrível como se escamoteia a verdade no nosso país, passando à população uma verdade que não existe. Ou se mente ou se conta meia missa. É difícil achar alguém que saiba o que acontece de verdade, por conta da forma como se colocam os assuntos para o povo. Por Samir Keedi
Como em "1984", a história é reescrita e mudada à conveniência e ao sabor dos ventos planaltinos.
O emprego é um deles, e ninguém parece se dar conta. Ou se percebem, calam-se. Especialmente a imprensa, que a tudo acompanha e nada contesta. Parece que não existem números em que se possa basear, ou então os esquece. Bem, sabemos o quanto a imprensa é livre no país para fazer o que quer.
No governo anterior todos sabiam – pelo menos era o que se noticiava – que no Brasil havia cerca de 30/32 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Candidatos presidenciais afirmavam então que era preciso criar 10 milhões de vagas em quatro anos. E que isso seria o mínimo aceitável.
Passados quase sete anos do novo velho governo, divulga-se a criação de cerca de 1,5/1,8 milhão de empregos a cada ano, e diz-se que teriam sido criados já quase dez milhões de vagas. Todo mundo aceita isso como uma verdade inconteste. Gostaríamos também de aceitar e de nos rejubilar com o fato – assim nossos irmãos brasileiros poderiam ter uma vida melhor, mais dignidade e, em especial, orgulho do país. Afinal, ele é nosso...
Só que, segundo os últimos registros das nossas autoridades, temos no país 32,7 milhões de carteiras assinadas. É grande a tentação de perguntar onde estão os novos empregos, e onde foram criados. Na questão dos empregos, mais do nunca, George Orwell é nosso guru. Além disso, nosso percentual de desempregados é baixo, de acordo com as nossas autoridades. Mais uma vez, "1984".
Como pode ser isso, se nossa PEA (população economicamente ativa) é de quase 90 milhões de trabalhadores? Ou seja, temos quase 60 milhões de almas desempregadas ou subempregadas, isto é, sem a bendita carteira assinada. Assim, está mais do que claro que esses empregos nunca foram criados e não existem. Assim, ou não sabemos nada, bem como fazer uma simples conta aritmética, ou alguém está, no mínimo, equivocado, e passando informações erradas para a frente.
E ninguém se dá ao trabalho de parar para pensar no assunto e nas incoerências; ou não interessa pensar, ou escrever, ou dizer, ou....
Dessa forma, a menos que estejamos muito, mas muitíssimo enganados, não houve efetivamente a geração de empregos, como se costuma divulgar. Estamos desconfiados de que, na realidade, quando se fala em geração, quer se falar em contratação – o que é, convenhamos, coisa bem diferente. As contratações estão ocorrendo, e sobre isso não temos a menor dúvida. Havendo milhões de demissões ao longo dos anos, obviamente ocorrem também milhões de contratações, afinal, há que se substituir quem saiu –embora nem todos, já que tem havido redução de vagas nos últimos tempos.
Está claro, portanto, que está havendo contratações e não geração de empregos, como se divulga. E quanto a termos apenas cerca de 2 milhões de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas, o fato também tem de ser contestado. É um número muito diferente dos 60 milhões que precisam de carteira assinada no país.
Somente o fato de que mais de onze milhões de pessoas recebem o bolsa- esmola, com mais de quarenta milhões de beneficiados, já é o suficiente para mostrar que o desemprego é bem maior do que se apregoa e se passa à população nativa, pouco esclarecida e sem muita chance de entender. Não são tantos os que têm condições de entender e interpretar falas e textos das nossas autoridades.
Pobre Brasil e sua "idolatria" a "1984" e a George Orwell, que é grande, mas deveria sê-lo apenas em função da sua genialidade como escritor, e não da ignorância dos fatos ou da existência do Brasil.
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor, escritor e autor de vários livros em comércio exterior. samir@aduaneiras.com.br
Fonte: Diário do Comércio
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