PARA ANALISTAS, PAÍS PODERÁ RESPONSABILIZADO PELA VIOLÊNCIA
A presença do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira está revertendo uma tradição de moderação, pragmatismo e mediação bastante cara à diplomacia brasileira, segundo analistas.
Sob a proteção dos muros da embaixada, Zelaya encontrou o palanque ideal para incitar seus simpatizantes ao contragolpe - apesar dos apelos contrários das autoridades brasileiras.
"Se esses chamados desatarem uma onda de conflitos com mortos e feridos, ou mesmo numa guerra civil, não faltará quem queira responsabilizar o Brasil por tais desdobramentos", disse ao Estado Délber Andrade Lage, coordenador do Centro de Direito Internacional, em Belo Horizonte. Por Ruth Costas
Para Lage, é difícil que o governo de facto ou um futuro governo hondurenho consigam levar o caso da "ação brasileira" a tribunais internacionais, a menos que haja uma participação mais direta do País na insurreição.
"Mas certamente o Brasil sofreria consequências políticas por não ter conseguido conter Zelaya", afirma Lage. "Sua participação na crise já está sendo vista mais como uma tentativa de intervenção em favor do presidente deposto do que como um esforço para a mediação do conflito. Não há dúvidas que a imagem do País deve sofrer sérios danos na região."
Para Marcelo Coutinho, coordenador do Observatório Político Sul-Americano e professor de Relações Internacionais da UnB, são mínimas as chances de o Brasil sair bem dessa situação. "Mesmo se não houver insurreição, a possibilidade de Zelaya ficar por meses na embaixada brasileira com outro presidente sendo eleito (em votação marcada para novembro) transformará o Brasil no país que quis impor a Honduras um governo impopular em vez de estimular uma solução negociada", afirma Coutinho. "Se o governo eleito vier a ser reconhecido pela comunidade internacional - o que, com o tempo, deve ser inevitável - a posição do Brasil vai ser bastante delicada."
O governo Lula da Silva sempre procurou ampliar a participação do Brasil na dinâmica da região. Além de apoiar iniciativas em prol da integração, como a União Sul-Americana de Nações (Unasul), a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e o acordo Mercosul-Comunidade Andina de Nações, o Brasil teve um papel atuante em diversas situações de conflito. Só para mencionar alguns exemplos, tomou a liderança da missão da ONU no Haiti e, em 2008, colaborou na libertação de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Com todos esses esforços, nos últimos anos a imagem do Brasil como um líder regional certamente ganhou força. O caso em Honduras, segundo analistas, é um lembrete de que a busca de liderança sempre vem acompanhada de custos e responsabilidades. O Estado de S. Paulo
Leia também
Campesinos de Honduras começaram a marchar para Tegucigalpa
Atendendo ao chamado feito a partir do núcleo de insurreição instalado na embaixada brasileira, campesinos de todo o país se dirigem para a capital de Honduras, nesta segunda-feira. É o que afirma o padre salvadorenho, Andrés Tamayo, também hóspede da embaixada – e quem se diz organizador da marcha da turba.
Honduras - Embaixada deveria fechar, diz diplomata
A resolução do impasse envolvendo o presidente deposto de Honduras pode depender de uma decisão do governo brasileiro que, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, têm duas opções: dar asilo a Zelaya ou conseguir do governo de fato garantias de que ele deixe a embaixada brasileira em Tegucigalpa sem o risco de ser preso.
O embaixador Rubens Ricúpero, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), vai além. Em sua opinião, a situação do governo brasileiro é tão complicada que, a rigor, não deveria nem mesmo ter embaixada no país centroamericano, pelo fato de não reconhecer as autoridades golpistas.
- Você só pode ter embaixada no país, com todas as garantias e imunidade, se você tem relações com o governo. O lógico é fechar a embaixada e retirar os diplomatas. Mantê-la aberta em um país, recebendo serviços de água, luz e telefone, cujo governo você não reconhece, é uma situação esdrúxula e só pode ser interpretada como medida de pressão. É como se o governo de fato estivesse diante de um grupo de estrangeiros sem visto — afirmou Ricúpero. Por Eliane Oliveira - O Globo
A presença do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira está revertendo uma tradição de moderação, pragmatismo e mediação bastante cara à diplomacia brasileira, segundo analistas.
Sob a proteção dos muros da embaixada, Zelaya encontrou o palanque ideal para incitar seus simpatizantes ao contragolpe - apesar dos apelos contrários das autoridades brasileiras.
"Se esses chamados desatarem uma onda de conflitos com mortos e feridos, ou mesmo numa guerra civil, não faltará quem queira responsabilizar o Brasil por tais desdobramentos", disse ao Estado Délber Andrade Lage, coordenador do Centro de Direito Internacional, em Belo Horizonte. Por Ruth Costas
Para Lage, é difícil que o governo de facto ou um futuro governo hondurenho consigam levar o caso da "ação brasileira" a tribunais internacionais, a menos que haja uma participação mais direta do País na insurreição.
"Mas certamente o Brasil sofreria consequências políticas por não ter conseguido conter Zelaya", afirma Lage. "Sua participação na crise já está sendo vista mais como uma tentativa de intervenção em favor do presidente deposto do que como um esforço para a mediação do conflito. Não há dúvidas que a imagem do País deve sofrer sérios danos na região."
Para Marcelo Coutinho, coordenador do Observatório Político Sul-Americano e professor de Relações Internacionais da UnB, são mínimas as chances de o Brasil sair bem dessa situação. "Mesmo se não houver insurreição, a possibilidade de Zelaya ficar por meses na embaixada brasileira com outro presidente sendo eleito (em votação marcada para novembro) transformará o Brasil no país que quis impor a Honduras um governo impopular em vez de estimular uma solução negociada", afirma Coutinho. "Se o governo eleito vier a ser reconhecido pela comunidade internacional - o que, com o tempo, deve ser inevitável - a posição do Brasil vai ser bastante delicada."
O governo Lula da Silva sempre procurou ampliar a participação do Brasil na dinâmica da região. Além de apoiar iniciativas em prol da integração, como a União Sul-Americana de Nações (Unasul), a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e o acordo Mercosul-Comunidade Andina de Nações, o Brasil teve um papel atuante em diversas situações de conflito. Só para mencionar alguns exemplos, tomou a liderança da missão da ONU no Haiti e, em 2008, colaborou na libertação de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Com todos esses esforços, nos últimos anos a imagem do Brasil como um líder regional certamente ganhou força. O caso em Honduras, segundo analistas, é um lembrete de que a busca de liderança sempre vem acompanhada de custos e responsabilidades. O Estado de S. Paulo
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Atendendo ao chamado feito a partir do núcleo de insurreição instalado na embaixada brasileira, campesinos de todo o país se dirigem para a capital de Honduras, nesta segunda-feira. É o que afirma o padre salvadorenho, Andrés Tamayo, também hóspede da embaixada – e quem se diz organizador da marcha da turba.
Honduras - Embaixada deveria fechar, diz diplomata
A resolução do impasse envolvendo o presidente deposto de Honduras pode depender de uma decisão do governo brasileiro que, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, têm duas opções: dar asilo a Zelaya ou conseguir do governo de fato garantias de que ele deixe a embaixada brasileira em Tegucigalpa sem o risco de ser preso.
O embaixador Rubens Ricúpero, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), vai além. Em sua opinião, a situação do governo brasileiro é tão complicada que, a rigor, não deveria nem mesmo ter embaixada no país centroamericano, pelo fato de não reconhecer as autoridades golpistas.
- Você só pode ter embaixada no país, com todas as garantias e imunidade, se você tem relações com o governo. O lógico é fechar a embaixada e retirar os diplomatas. Mantê-la aberta em um país, recebendo serviços de água, luz e telefone, cujo governo você não reconhece, é uma situação esdrúxula e só pode ser interpretada como medida de pressão. É como se o governo de fato estivesse diante de um grupo de estrangeiros sem visto — afirmou Ricúpero. Por Eliane Oliveira - O Globo
2 comentários:
Rezo o terço do experiente ministro Ricúpero. O lulocentrismo está denegrindo o Itamarati, lançando uma nova configuração intervencionista e ademais encontra-se numa ratoeira...
O Brasil vai sair esfolado deste episódio, seja qual for o final.
Lula pensa que é onipotente e que pode tudo,mas desta vez deu um passo grande demais pro tamanho dos fracos fundilhos.
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