Notas para um índice

Monopólio esquerdista do discurso ideológico não foi rompido. E governo celebra o fato em vez de lamentá-lo como prova de que a concorrência democrática normal foi extinta.

A semana que passou foi tão rica em acontecimentos políticos dignos de atenção que não resta ao comentarista senão anotar brevemente uns poucos, como num índice temático, para analisá-los com mais detalhe na primeira oportunidade.

Na escala nacional, veio, em primeiro lugar, a expressão de entusiasmo do sr. Presidente da República diante do fato de que "pela primeira vez na hiftória defte paíf", uma eleição presidencial se realizará exclusivamente entre candidatos de esquerda.

A memória do ilustre mandatário não é das melhores. Por Olavo de Carvalho

Em 2002 os candidatos eram ele próprio, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes, cada qual esforçando-se para mostrar, nos debates, que era mais esquerdista que os outros. Em 2006 o concorrente Geraldo Alckmin, além de parasitar o estilo politicamente correto com servilismo exemplar, evitou cuidadosamente qualquer confronto ideológico e ajudou o adversário a ocultar a existência do Foro de São Paulo. Se algum direitismo havia nele, permaneceu invisível, inodoro, imperceptível.

O monopólio esquerdista do discurso ideológico não foi rompido em momento algum. A única novidade, agora, é que o governo celebra esse estado de coisas, em vez de lamentá-lo como prova de que a concorrência democrática normal foi extinta, de que, eliminada toda possibilidade de divergência ideológica, só sobrou a disputa de cargos entre grupos ideologicamente afins, isto é: o regime de partido único, com suas várias subcorrentes internas, nomeadas como "partidos" só como concessão verbal e provisória a eventuais nostalgias democráticas remanescentes, cada vez mais débeis e conformadas.

A obscena alegria presidencial diante dessa monstruosidade prova que a substituição da democracia genuína pelo "centralismo democrático" leninista é o objetivo da esquerda brasileira há várias décadas, finalmente realizado acima de qualquer possibilidade de reversão do estado de coisas.

Concomitantemente, apareceu, no Estado de S. Paulo do dia 13, a confissão de vários guerrilheiros dos anos 70, de terem sido treinados e financiados, uns pela Coréia do Norte, outros pela China comunista. Mais uma prova de que a "luta armada" da esquerda não foi um empreendimento heróico de resistência democrática à ditadura (como poderia sê-lo, se começou antes de 1964?), mas um ato de traição, uma intervenção estrangeira, a manifestação local de um movimento subversivo mundial, bilionário, orientado e subsidiado pelas ditaduras mais sangrentas e genocidas que a humanidade já conheceu.

Hoje em dia esse movimento está mais forte do que nunca e, no Brasil, tem o poder total, excluída toda veleidade de oposição séria e reduzida a política às disputas internas da facção dominante.

Nos EUA, a maior manifestação de protesto da história americana, reunindo mais de um milhão de pessoas, foi solenemente ignorada pelos jornais e TVs, com exceção da FoxNews, exatamente como tinha acontecido com as manifestações preparatórias realizadas em duas mil cidades – um movimento mais vasto e poderoso do que todos os protestos dos anos 70 contra a guerra do Vietnã.

Cada vez está mais claro que a "grande mídia" se tornou instrumento de ocultação e desinformação a serviço do aparato partidário-estatal esquerdista, reduzindo sua própria confiabilidade a zero.

O espantoso na mobilização (voltada contra a política econômica do governo e especialmente contra o plano de saúde, o Obamacare, que muitos chamam de Obamascare) é que não tem nenhum financiamento bilionário por trás e nenhum apoio partidário (os republicanos chegaram tarde, rebocados pela massa). Se alguma vez houve no mundo um "movimento popular", é esse.

Quase ao mesmo tempo, documentos divulgados pela Canadian Free Press mostram que a cúpula nacional do Partido Democrata, incluindo a sra. Nancy Pelosi, esteve consciente, desde o começo da campanha presidencial, de que Barack Obama, por falta de documentos que atestassem cabalmente sua nacionalidade americana, não tinha as qualificações legais para ocupar a presidência. Tão logo Obama foi escolhido, o Comitê Nacional Democrata redigiu declaração apresentando o candidato e afirmando que ele tinha as qualificações. Em seguida, o documento foi escondido e em seu lugar distribuído outro, sem menção às qualificações.

Logo que a questão dos documentos apareceu na internet, meses atrás, escrevi que a escolha de Obama não fora nenhum lapso, que ele tinha sido selecionado de propósito, precisamente por ser um pequeno farsante com uma história de vida totalmente inventada, portanto um sujeito fácil de chantagear e controlar e, mais ainda, um candidato ilegítimo cuja presença no mais alto cargo da nação era, por si só, um desafio aberto à Constituição – que há décadas os Clintons, os Gores, as Pelosis e tutti quanti sonham destruir.

Dito e feito. Hoje, 80% da equipe de governo são gente dos Clinton. Os 20% restantes – única parcela fiel a Obama – são os bandidinhos de Chicago que, no fim das contas, nada apitam.

Obama é o instrumento perfeito para criar uma crise constitucional e, cumprido seu papel, pode ser jogado fora, restando no poder o velho esquema clintoniano. O modo de atuação dos bandidinhos também ficou claro no decorrer da semana, quando agentes da Acorn (a ONG que distribuiu títulos de eleitor falsos para favorecer Obama (o qual, no segundo dia de governo, retribuiu o favor com uma verba federal de cinco bilhões de dólares) foram flagrados ensinando cafetinas a cavar subsídios estatais para seus bordéis. São essas coisinhas que a gangue de Obama sabe fazer. A parte adulta do serviço é com os Clintons.

Na mesma semana, os fatos mostraram a perfeita convergência de propósitos entre o governo Obama, a ONU e os generais da China na luta pela destruição da soberania americana e pela instauração de um governo mundial. Enquanto Obama anuncia uma política econômica que inevitavelmente traz de volta a inflação, os chineses, que têm enormes reservas de dólares, clamam pela instauração de uma moeda única no planeta e são secundados pelas mentes iluminadas da ONU. Só pessoas com QI inferior a 12 verão nisso um lindo encontro de coincidências. Criar dificuldades para vender facilidades é o truque mais velho do mundo, e não é a primeira vez que os globalistas o aplicam.

Por falar em articulações, vocês já repararam que as fontes do antitabagismo militante são as mesmas da campanha pela liberação das drogas pesadas? Estudem, pesquisem, raciocinem, e obterão aí uma lição inesquecível sobre como funciona o poder no mundo de hoje.
Diário do Comércio

Olavo de Carvalho é ensaista, jornalista e professor de Filosofia

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