"Que mensagem os doutrinadores do Enem querem passar à juventude brasileira? A democracia, sim, existe em Cuba e se faz presente na democracia racial".
A fraude do Enem escancarou um problema público com relação à falta de fiscalização de uma prova, vista como substitutiva à do vestibular. A fraude foi apresentada como uma questão de segurança, quando ela tem, na verdade, dois outros aspectos tão ou mais importantes. Um diz respeito à prerrogativa da União, que começa a forçar a aceitação de um exame nacional, quando a nossa realidade federativa sinalizaria para a preservação das autonomias universitárias regionais, seja de universidades federais, estaduais, privadas, confessionais ou comunitárias.
A União está invadindo competências que não são suas. A outra é ainda mais complexa, concernente à fraude propriamente intelectual. Por Denis Rosenfield
No meio da crise que se abalou sobre a fraude detectada no exame do Enem, fui procurado por um aluno que me apresentou uma questão dessa mesma prova, mostrando um viés inequívoco de catequese marxista. Trata-se da questão 56 da prova vazada de "Ciências Humanas e suas Tecnologias".
Nessa questão, a Revolução Cubana é apresentada como um exemplo de democracia racial e de sua importância para a educação. Utilizando-se de trecho de livro do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, o regime educacional cubano é louvado como de caráter "racial antidiscriminatório", com o país sendo chamado de exemplo de "democracia social". A peça é representativa do momento da educação brasileira, permeada por distorções das lições de história, minada por professores doutrinadores e comprometidos com uma visão de mundo esquerdista, que lamentavelmente acaba influenciando a formação da juventude brasileira.
Eis a questão e a sua apresentação. "Com efeito, alguns anos de escolaridade francamente aberta e de estímulo à autossuperação aumentaram, rapidamente, o contingente de negros que alcançaram aos postos mais altos do governo, da sociedade e da cultura cubana", segundo Darcy Ribeiro, citado na prova. Em seguida afirma que "toda a parcela negra da população", então, "confraternizou com os outros componentes da sociedade, aprofundando o grau de solidariedade". A fraude é notável, e atinge seu ápice quando o escritor afirma que "tudo isso demonstra, claramente, que a democracia racial é possível, mas só é praticável conjuntamente com a democracia social".
Diante desses elementos do texto, a pergunta feita aos estudantes era a seguinte: "Segundo Darcy Ribeiro, a ascensão social dos negros cubanos, resultado de uma educação inclusiva, com estímulos à autossuperação, demonstra que?".
A alternativa correta é a "D": "As políticas educacionais da Revolução Cubana adotaram uma perspectiva racial antidiscriminatória".
Qual é a mensagem que os doutrinadores do Enem querem passar para a juventude brasileira? A democracia, sim, existe em Cuba e se faz presente no que é denominado de "democracia social" e "democracia racial". Silêncio total sobre a ditadura dos irmãos Castro, a ditadura do partido comunista por eles liderado, o desrespeito sistemático aos direitos humanos, a eliminação física dos dissidentes, a prisão de qualquer opositor. A ilha que se tornou uma prisão é apresentada como exemplo de democracia. Não falta muito a afirmação de que se trata do reino das plenas liberdades!
Uma armadilha é montada para os estudantes. Devem optar entre a verdade e a escolha ideológica. Se optarem pela verdade, serão reprovados; se optarem pela doutrina marxista serão aprovados. Cria-se, assim, toda uma rede de estudantes, professores, livros didáticos, escolhas e cursinhos que se alimentam desta doutrina, sendo esta, aliás, uma condição mesma do sucesso. O sucesso está condicionado à fraude intelectual, o preço a ser pago sendo a verdade. Quando se pensa que a função primeira de um intelectual, de um professor, é – e deveria ser – a verdade, constata-se o longo caminho percorrido em nosso país rumo ao desmoronamento mesmo da educação.
Vejamos ainda mais precisamente a deformação histórica. A Revolução Cubana não foi feita por negros e eles relutaram em aderir ao movimento liderado por Fidel Castro, pois os revolucionários não tinham um programa político direcionado a esse grupo racial. Além disso, o traço autoritário de Fidel manifestou-se, inclusive, contra os negros, já que o governo totalitário fechou todas as Sociedades de Color, organizações de expressão cultural dos afro-cubanos. Fidel extinguiu mais de 500 dessas sociedades e um de seus mais proeminentes líderes, Juan R. B. Bencomo, foi compelido ao exílio.
Saliente-se, ainda, que a alegação de Darcy Ribeiro de que os negros rapidamente galgaram altos postos do país não encontra sustentação fática. Em 1979 – 20 anos após a Revolução – a participação política dos negros era diminuta, tendo eles apenas 5 ministros (de um total de 34) e 16 membros no Comitê Central do Partido (do total de 146).
O ensino de história se mostra, assim, um dos maiores focos de doutrinação ideológica, embora não seja o único. Na questão 56, é particularmente esclarecedor – e estarrecedor. Mas não deveríamos nos surpreender, considerando a admiração do PT, do MST, das Pastorais da Igreja e de nossas próprias autoridades federais pela ditadura castrista.
Curvam-se diante de Fidel, numa demonstração de servidão doutrinária. A verdade deve ser coisa da "burguesia". E tudo isto é apresentado – pasmem! - como "nova história crítica".
Pobres dos nossos estudantes!
Crítica, evidentemente, significa condescendência com a eliminação castrista, comunista, das liberdades. Crítica significa silêncio em relação à ditadura. Crítica significa falsificação da história. Enganam-se os que pensam que revoluções comunistas desapareceram pós-Muro de Berlin. Se dificilmente podem ser feitas pela força das baionetas, a solução foi a infiltração das idéias revolucionárias no setor educacional do país, sem o menor sentimento de culpa pelo crime que tal prática acarreta. Diário do Comércio
Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRS
A fraude do Enem escancarou um problema público com relação à falta de fiscalização de uma prova, vista como substitutiva à do vestibular. A fraude foi apresentada como uma questão de segurança, quando ela tem, na verdade, dois outros aspectos tão ou mais importantes. Um diz respeito à prerrogativa da União, que começa a forçar a aceitação de um exame nacional, quando a nossa realidade federativa sinalizaria para a preservação das autonomias universitárias regionais, seja de universidades federais, estaduais, privadas, confessionais ou comunitárias.
A União está invadindo competências que não são suas. A outra é ainda mais complexa, concernente à fraude propriamente intelectual. Por Denis Rosenfield
No meio da crise que se abalou sobre a fraude detectada no exame do Enem, fui procurado por um aluno que me apresentou uma questão dessa mesma prova, mostrando um viés inequívoco de catequese marxista. Trata-se da questão 56 da prova vazada de "Ciências Humanas e suas Tecnologias".
Nessa questão, a Revolução Cubana é apresentada como um exemplo de democracia racial e de sua importância para a educação. Utilizando-se de trecho de livro do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, o regime educacional cubano é louvado como de caráter "racial antidiscriminatório", com o país sendo chamado de exemplo de "democracia social". A peça é representativa do momento da educação brasileira, permeada por distorções das lições de história, minada por professores doutrinadores e comprometidos com uma visão de mundo esquerdista, que lamentavelmente acaba influenciando a formação da juventude brasileira.
Eis a questão e a sua apresentação. "Com efeito, alguns anos de escolaridade francamente aberta e de estímulo à autossuperação aumentaram, rapidamente, o contingente de negros que alcançaram aos postos mais altos do governo, da sociedade e da cultura cubana", segundo Darcy Ribeiro, citado na prova. Em seguida afirma que "toda a parcela negra da população", então, "confraternizou com os outros componentes da sociedade, aprofundando o grau de solidariedade". A fraude é notável, e atinge seu ápice quando o escritor afirma que "tudo isso demonstra, claramente, que a democracia racial é possível, mas só é praticável conjuntamente com a democracia social".
Diante desses elementos do texto, a pergunta feita aos estudantes era a seguinte: "Segundo Darcy Ribeiro, a ascensão social dos negros cubanos, resultado de uma educação inclusiva, com estímulos à autossuperação, demonstra que?".
A alternativa correta é a "D": "As políticas educacionais da Revolução Cubana adotaram uma perspectiva racial antidiscriminatória".
Qual é a mensagem que os doutrinadores do Enem querem passar para a juventude brasileira? A democracia, sim, existe em Cuba e se faz presente no que é denominado de "democracia social" e "democracia racial". Silêncio total sobre a ditadura dos irmãos Castro, a ditadura do partido comunista por eles liderado, o desrespeito sistemático aos direitos humanos, a eliminação física dos dissidentes, a prisão de qualquer opositor. A ilha que se tornou uma prisão é apresentada como exemplo de democracia. Não falta muito a afirmação de que se trata do reino das plenas liberdades!
Uma armadilha é montada para os estudantes. Devem optar entre a verdade e a escolha ideológica. Se optarem pela verdade, serão reprovados; se optarem pela doutrina marxista serão aprovados. Cria-se, assim, toda uma rede de estudantes, professores, livros didáticos, escolhas e cursinhos que se alimentam desta doutrina, sendo esta, aliás, uma condição mesma do sucesso. O sucesso está condicionado à fraude intelectual, o preço a ser pago sendo a verdade. Quando se pensa que a função primeira de um intelectual, de um professor, é – e deveria ser – a verdade, constata-se o longo caminho percorrido em nosso país rumo ao desmoronamento mesmo da educação.
Vejamos ainda mais precisamente a deformação histórica. A Revolução Cubana não foi feita por negros e eles relutaram em aderir ao movimento liderado por Fidel Castro, pois os revolucionários não tinham um programa político direcionado a esse grupo racial. Além disso, o traço autoritário de Fidel manifestou-se, inclusive, contra os negros, já que o governo totalitário fechou todas as Sociedades de Color, organizações de expressão cultural dos afro-cubanos. Fidel extinguiu mais de 500 dessas sociedades e um de seus mais proeminentes líderes, Juan R. B. Bencomo, foi compelido ao exílio.
Saliente-se, ainda, que a alegação de Darcy Ribeiro de que os negros rapidamente galgaram altos postos do país não encontra sustentação fática. Em 1979 – 20 anos após a Revolução – a participação política dos negros era diminuta, tendo eles apenas 5 ministros (de um total de 34) e 16 membros no Comitê Central do Partido (do total de 146).
O ensino de história se mostra, assim, um dos maiores focos de doutrinação ideológica, embora não seja o único. Na questão 56, é particularmente esclarecedor – e estarrecedor. Mas não deveríamos nos surpreender, considerando a admiração do PT, do MST, das Pastorais da Igreja e de nossas próprias autoridades federais pela ditadura castrista.
Curvam-se diante de Fidel, numa demonstração de servidão doutrinária. A verdade deve ser coisa da "burguesia". E tudo isto é apresentado – pasmem! - como "nova história crítica".
Pobres dos nossos estudantes!
Crítica, evidentemente, significa condescendência com a eliminação castrista, comunista, das liberdades. Crítica significa silêncio em relação à ditadura. Crítica significa falsificação da história. Enganam-se os que pensam que revoluções comunistas desapareceram pós-Muro de Berlin. Se dificilmente podem ser feitas pela força das baionetas, a solução foi a infiltração das idéias revolucionárias no setor educacional do país, sem o menor sentimento de culpa pelo crime que tal prática acarreta. Diário do Comércio
Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRS
3 comentários:
como meu pai pagou o antigo segundo grau, agora n posso entrar na facul por obra e graça dos comunistas.
Fiz esta traduçao:
http://mondojean.blogspot.com/2009/10/enem-frode-intelletuale.html
Buchudo, muito bom que essas coisas sejam traduzidas e possam chegar ao conhecimento dos italianos. Irá ajudá-los a entender que Lula não passa de um governo criminoso que protege criminoso, como por exemplo o assassino Battisti.
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