Ele não quis usar protetores de ouvido. Aparentemente, queria se deleitar com a explosão.
Foi isso que o Dallas Morning News reportou sobre Hosam Maher Husein Smadi, o jordaniano de 19 anos acusado de tentar explodir um arranha-céu no centro de Dallas. Ele foi capturado numa armadilha do FBI, a polícia federal americana, que culminou na sua prisão há duas semanas. Smadi estacionou uma caminhonete Ford Explorer Sport 2001 - fornecida pela polícia - na garagem de um prédio de escritórios em Dallas. "Dentro do veículo havia uma bomba falsa, semelhante à que foi usada por Timothy McVeigh no atentado de 1995 em Oklahoma", diz a reportagem. "Autoridades afirmam que Smadi achou que poderia detoná-la com um telefone celular. Após estacionar o veículo, ele entrou em outro veículo com um dos agentes, e eles se afastaram vários quarteirões dali." Um agente ofereceu protetores de ouvido a Smadi, mas ele recusou, "indicando que queria ouvir a explosão", disseram as autoridades. Ele então digitou um número no telefone, achando que ia acionar a bomba. Em vez disso, foi preso. Por Thomas Friedman
Se essa história não causou um pequeno arrepio na espinha, que tal essa?
Segundo a BBC, "um terrorista suicida da Al-Qaeda, que morreu no mês passado enquanto tentava assassinar um príncipe árabe em Jeddah, havia escondido os explosivos dentro do próprio corpo". Ele teria introduzido a bomba e o detonador pelo reto para despistar os detectores de metal. Meu Deus.
Ou que tal ainda essa? Duas semanas atrás, em Denver, Colorado, o FBI prendeu Najibullah Zazi, imigrante afegão de 24 anos, e o indiciou por planejar detonar uma bomba artesanal que ele teria aprendido a construir durante uma viagem a campos de treinamento no Paquistão.
AFEGANISTÃO VIRTUAL
O New York Times noticiou que Zazi "havia adquirido alguns ingredientes da bomba em lojas de cosméticos", disseram as autoridades após ver instruções em seu laptop sobre como construir a tal bomba. Um funcionário da rede de cosméticos recordou que ao perguntar sobre o volume de materiais que estava comprando, foi essa a resposta de Zazi: "Tenho um monte de namoradas."
Esses incidentes merecem reflexão. Eles nos dizem coisas importantes. Primeiro, podemos estar cansados dessa "guerra ao terrorismo", mas os vilões não. Eles estão se tornando ainda mais "criativos".
Segundo, nessa luta, não há guerra "boa" e "má". Há uma luta com muitos fronts, incluindo a Europa e nosso próprio quintal, requerendo táticas diferentes. É uma guerra dentro do Islã, entre uma maioria muçulmana moderada, em geral silenciosa, e uma minoria jihadista violenta, motivada e com frequência niilista.
A guerra deles é sobre "como" ou "se" o Islã deve abraçar a modernidade. É uma guerra alimentada pela humilhação - particularmente entre homens jovens, que sentem que sua comunidade ficou atrás de outras. Essa humilhação deu origem a vários cultos jihadistas, incluindo a Al-Qaeda, que acreditam ter o direito divino de matar infiéis, seus próprios líderes laicos e muçulmanos menos devotos para purificar e restaurar a grandeza muçulmana.
Terceiro, o front mais novo e talvez mais ativo nessa guerra não é o Afeganistão, mas o "Afeganistão virtual": a rede de sites jihadistas, mesquitas e grupos de oração que recrutam, inspiram e treinam jovens muçulmanos para matar sem qualquer ordem formal da Al-Qaeda. O jovem em Dallas chamou a atenção do FBI após defender, em sites, um ataque aos EUA.
Quarto, no curto prazo, vencer essa guerra requer uma ação eficaz de polícia e inteligência para matar ou capturar os jihadistas. Eu chamo a isso de "a guerra aos terroristas".
No longo prazo, porém, vencer requer uma associação com sociedades árabes e muçulmanas para ajudá-las a construir países prósperos, integrados à economia mundial, onde jovens não cresçam num solo envenenado por extremistas religiosos e sufocados por "petroditadores" que impedem que eles realizem suas aspirações. Eu chamo isso de "a guerra ao terrorismo". Ela leva mais tempo.
A operação no Afeganistão após o 11 de Setembro representou, para mim, apenas "a guerra aos terroristas". Ela dizia respeito a pegar Bin Laden. O Iraque foi "a guerra ao terrorismo" - tentando construir um governo decente, pluralista, consensual no coração do mundo árabe-muçulmano.
Assim, o que o presidente Barack Obama está estudando realmente para o Afeganistão é mudar de uma "guerra aos terroristas" para uma "guerra ao terrorismo". Se Obama decidir enviar mais soldados, a coisa mais importante não é o número. É seu real compromisso. Se ele parecer ambíguo, ninguém ficará do seu lado e não há chance de vitória. Mas, se parecer comprometido, talvez encontremos aliados. Não custa lembrar que os vilões estão totalmente comprometidos - e não estão cansados.
*Thomas Friedman é comentarista político - The New York Times – via o Estado de São Paulo
Foi isso que o Dallas Morning News reportou sobre Hosam Maher Husein Smadi, o jordaniano de 19 anos acusado de tentar explodir um arranha-céu no centro de Dallas. Ele foi capturado numa armadilha do FBI, a polícia federal americana, que culminou na sua prisão há duas semanas. Smadi estacionou uma caminhonete Ford Explorer Sport 2001 - fornecida pela polícia - na garagem de um prédio de escritórios em Dallas. "Dentro do veículo havia uma bomba falsa, semelhante à que foi usada por Timothy McVeigh no atentado de 1995 em Oklahoma", diz a reportagem. "Autoridades afirmam que Smadi achou que poderia detoná-la com um telefone celular. Após estacionar o veículo, ele entrou em outro veículo com um dos agentes, e eles se afastaram vários quarteirões dali." Um agente ofereceu protetores de ouvido a Smadi, mas ele recusou, "indicando que queria ouvir a explosão", disseram as autoridades. Ele então digitou um número no telefone, achando que ia acionar a bomba. Em vez disso, foi preso. Por Thomas Friedman
Se essa história não causou um pequeno arrepio na espinha, que tal essa?
Segundo a BBC, "um terrorista suicida da Al-Qaeda, que morreu no mês passado enquanto tentava assassinar um príncipe árabe em Jeddah, havia escondido os explosivos dentro do próprio corpo". Ele teria introduzido a bomba e o detonador pelo reto para despistar os detectores de metal. Meu Deus.
Ou que tal ainda essa? Duas semanas atrás, em Denver, Colorado, o FBI prendeu Najibullah Zazi, imigrante afegão de 24 anos, e o indiciou por planejar detonar uma bomba artesanal que ele teria aprendido a construir durante uma viagem a campos de treinamento no Paquistão.
AFEGANISTÃO VIRTUAL
O New York Times noticiou que Zazi "havia adquirido alguns ingredientes da bomba em lojas de cosméticos", disseram as autoridades após ver instruções em seu laptop sobre como construir a tal bomba. Um funcionário da rede de cosméticos recordou que ao perguntar sobre o volume de materiais que estava comprando, foi essa a resposta de Zazi: "Tenho um monte de namoradas."
Esses incidentes merecem reflexão. Eles nos dizem coisas importantes. Primeiro, podemos estar cansados dessa "guerra ao terrorismo", mas os vilões não. Eles estão se tornando ainda mais "criativos".
Segundo, nessa luta, não há guerra "boa" e "má". Há uma luta com muitos fronts, incluindo a Europa e nosso próprio quintal, requerendo táticas diferentes. É uma guerra dentro do Islã, entre uma maioria muçulmana moderada, em geral silenciosa, e uma minoria jihadista violenta, motivada e com frequência niilista.
A guerra deles é sobre "como" ou "se" o Islã deve abraçar a modernidade. É uma guerra alimentada pela humilhação - particularmente entre homens jovens, que sentem que sua comunidade ficou atrás de outras. Essa humilhação deu origem a vários cultos jihadistas, incluindo a Al-Qaeda, que acreditam ter o direito divino de matar infiéis, seus próprios líderes laicos e muçulmanos menos devotos para purificar e restaurar a grandeza muçulmana.
Terceiro, o front mais novo e talvez mais ativo nessa guerra não é o Afeganistão, mas o "Afeganistão virtual": a rede de sites jihadistas, mesquitas e grupos de oração que recrutam, inspiram e treinam jovens muçulmanos para matar sem qualquer ordem formal da Al-Qaeda. O jovem em Dallas chamou a atenção do FBI após defender, em sites, um ataque aos EUA.
Quarto, no curto prazo, vencer essa guerra requer uma ação eficaz de polícia e inteligência para matar ou capturar os jihadistas. Eu chamo a isso de "a guerra aos terroristas".
No longo prazo, porém, vencer requer uma associação com sociedades árabes e muçulmanas para ajudá-las a construir países prósperos, integrados à economia mundial, onde jovens não cresçam num solo envenenado por extremistas religiosos e sufocados por "petroditadores" que impedem que eles realizem suas aspirações. Eu chamo isso de "a guerra ao terrorismo". Ela leva mais tempo.
A operação no Afeganistão após o 11 de Setembro representou, para mim, apenas "a guerra aos terroristas". Ela dizia respeito a pegar Bin Laden. O Iraque foi "a guerra ao terrorismo" - tentando construir um governo decente, pluralista, consensual no coração do mundo árabe-muçulmano.
Assim, o que o presidente Barack Obama está estudando realmente para o Afeganistão é mudar de uma "guerra aos terroristas" para uma "guerra ao terrorismo". Se Obama decidir enviar mais soldados, a coisa mais importante não é o número. É seu real compromisso. Se ele parecer ambíguo, ninguém ficará do seu lado e não há chance de vitória. Mas, se parecer comprometido, talvez encontremos aliados. Não custa lembrar que os vilões estão totalmente comprometidos - e não estão cansados.
*Thomas Friedman é comentarista político - The New York Times – via o Estado de São Paulo
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