TUDO ESTÁ SENDO ESTATIZADO
O fato é que o Estado interfere cada vez mais na economia, no processo de democratização, na imprensa e nos demais poderes.
Nos últimos anos temos notado – e não apenas nós, obviamente – coisas muito desagradáveis. Pena que o fato esteja passando meio despercebido pela quase totalidade do nosso povo. Estamos falando da reestatização da economia brasileira, um processo atualmente em marcha.
Somos obrigados a reconhecer a forma inteligente adotada, sem arrombar portas, mas aos poucos e através da cooptação das pessoas pela via dos favores. Lamentável, mas normal no Brasil. Num país em que poucos têm condições de comer como se deve, e em que não se criam os necessários instrumentos para a geração de empregos, florescem formas de favorecimento a alguns. E, claro, em detrimento de outros. Por Samir Keedi
Ninguém, obviamente, é contra a que todos comam. Nem que se vistam, tenham moradia, etc. Muito pelo contrário. E é só ler nossos artigos e ouvir nossas aulas e palestras para ter certeza de que lado estamos. No entanto, entendemos que há formas mais decentes e dignas de se alimentar um povo.
Esses agraciados, claro, acabam sendo favoráveis a essas práticas. Daí à defesa incondicional do governo é um passo, mesmo sem saber do que se trata. "Apenas me defenda e eu te garanto". E a pouca instrução do povo leva a isso.
É a doutrinação, e ao governo não interessa elevar o nível. Quem conhece, contesta, e isso não pode ocorrer. O fato é que temos notado que o Estado interfere cada vez mais na economia. E também no processo de democratização, na imprensa e, em especial, nos demais poderes. Tudo está sendo "estatizado". Os demais poderes, hoje, não são mais do que anexos do Executivo, tendo sido as primeiras instituições a serem "estatizadas". A filosofia de três poderes equilibrados deixou de existir.
Após o controle do povo, com sua "estatização", e a dos demais poderes, chegou a vez da economia. Ninguém desconhece a pressão que há anos se faz sobre a Vale, cuja privatização nunca foi aceita.
A empresa cresceu nos últimos meses, durante a "marolinha", após a demissão de funcionários – e vimos que isso não foi aceito pacificamente pelo Executivo. As relações entre as duas presidências não é nenhuma maravilha, pelo que se lê.
E cuja empresa não foi ainda estatizada, provavelmente, pelo mal- estar que causaria. Ou, talvez, por um pouco de medo. Avanços rápidos sempre podem colocar a perder boas estratégias.
Agora vemos o que está acontecendo com a nova empresa a ser criada para o pré-sal. Para a sua maldição. Maldição porque, como se nota, parece que não existe mais nada no País, além disso. Só esperamos que não seja uma galinha que cantou mesmo sem ainda ter qualquer ovo. Pode-se perguntar por que criar uma nova empresa, se já existe uma. E que tem todos os méritos sobre as descobertas de petróleo. Uai! Se ela descobriu, por que dar a outra empresa o que lhe pertence? E os seus acionistas?
Simples, caro Watson.
Da atual, que tem todos os méritos, o governo tem menos da metade das ações. Ele apenas tem o seu controle e nomeia os felizardos, mas isso não satisfaz. A nova empresa será totalmente estatal, o que garante controle absoluto sobre as ações, direção e lucros, óbvio. Com o pré-sal, já estamos falando em criar uma seguradora pública para dar "condições de financiamento e tributação".
Como se vê, a ação para a reestatização da economia está em pleno andamento, com atos discretos, porém decisivos. A não ser a recente declaração da candidata Dilma Rousseff, escancarada, de que "a tese do Estado mínimo é uma tese falida".
Dentro desse escopo já temos a TV Brasil, que todos sabem, é desnecessária. Temos também o Pro-Uni, em que o governo garante, nas universidades particulares, vagas exclusivas. O Bolsa-Esmola é a estatização da alimentação dos pobres.
A coluna presidencial (sic), em quase 200 jornais, faz parte do esquema da informação oficial. Quando a imprensa não é totalmente livre, as notícias são mais favoráveis ao governo, e assim vai se estatizando a informação.
E "la nave va". Sem que a maioria dos brasileiros perceba e, portanto, sem resistências. Quando se derem conta, poderá ser tarde. É inacreditável como este país consegue regredir. E tudo é justificado com o fato de que os pobres estão comendo um pouco mais. De que o Brasil está crescendo mais do que antes. Ok, mas sem a verdade dos fatos, que é a conjuntura econômica favorável dos últimos anos.
E, também, omitindo-se que o crescimento foi menor do que a média mundial, portanto, reduzindo o peso relativo do País no mundo.
Toda a justificativa fica por conta do progresso nas nossas divisas, de US$ 210 bilhões – mas ninguém conta a que preço e problemas futuros. Também do pré-sal, como se ele fosse para 2009 / 2010.
Que pena Brasil. Que pena. Como faz falta a cultura. Que falta faz um maior investimento na educação. Que diferença faz o povo não poder se alimentar sozinho, sem a ajuda do governo. Que pena Brasil...
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor, escritor e autor de livros em comércio exterior. samir@aduaneiras.com.br – Diário do Comércio
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Encobrindo a gastança – Opinião do Estadão
O fato é que o Estado interfere cada vez mais na economia, no processo de democratização, na imprensa e nos demais poderes.
Nos últimos anos temos notado – e não apenas nós, obviamente – coisas muito desagradáveis. Pena que o fato esteja passando meio despercebido pela quase totalidade do nosso povo. Estamos falando da reestatização da economia brasileira, um processo atualmente em marcha.
Somos obrigados a reconhecer a forma inteligente adotada, sem arrombar portas, mas aos poucos e através da cooptação das pessoas pela via dos favores. Lamentável, mas normal no Brasil. Num país em que poucos têm condições de comer como se deve, e em que não se criam os necessários instrumentos para a geração de empregos, florescem formas de favorecimento a alguns. E, claro, em detrimento de outros. Por Samir Keedi
Ninguém, obviamente, é contra a que todos comam. Nem que se vistam, tenham moradia, etc. Muito pelo contrário. E é só ler nossos artigos e ouvir nossas aulas e palestras para ter certeza de que lado estamos. No entanto, entendemos que há formas mais decentes e dignas de se alimentar um povo.
Esses agraciados, claro, acabam sendo favoráveis a essas práticas. Daí à defesa incondicional do governo é um passo, mesmo sem saber do que se trata. "Apenas me defenda e eu te garanto". E a pouca instrução do povo leva a isso.
É a doutrinação, e ao governo não interessa elevar o nível. Quem conhece, contesta, e isso não pode ocorrer. O fato é que temos notado que o Estado interfere cada vez mais na economia. E também no processo de democratização, na imprensa e, em especial, nos demais poderes. Tudo está sendo "estatizado". Os demais poderes, hoje, não são mais do que anexos do Executivo, tendo sido as primeiras instituições a serem "estatizadas". A filosofia de três poderes equilibrados deixou de existir.
Após o controle do povo, com sua "estatização", e a dos demais poderes, chegou a vez da economia. Ninguém desconhece a pressão que há anos se faz sobre a Vale, cuja privatização nunca foi aceita.
A empresa cresceu nos últimos meses, durante a "marolinha", após a demissão de funcionários – e vimos que isso não foi aceito pacificamente pelo Executivo. As relações entre as duas presidências não é nenhuma maravilha, pelo que se lê.
E cuja empresa não foi ainda estatizada, provavelmente, pelo mal- estar que causaria. Ou, talvez, por um pouco de medo. Avanços rápidos sempre podem colocar a perder boas estratégias.
Agora vemos o que está acontecendo com a nova empresa a ser criada para o pré-sal. Para a sua maldição. Maldição porque, como se nota, parece que não existe mais nada no País, além disso. Só esperamos que não seja uma galinha que cantou mesmo sem ainda ter qualquer ovo. Pode-se perguntar por que criar uma nova empresa, se já existe uma. E que tem todos os méritos sobre as descobertas de petróleo. Uai! Se ela descobriu, por que dar a outra empresa o que lhe pertence? E os seus acionistas?
Simples, caro Watson.
Da atual, que tem todos os méritos, o governo tem menos da metade das ações. Ele apenas tem o seu controle e nomeia os felizardos, mas isso não satisfaz. A nova empresa será totalmente estatal, o que garante controle absoluto sobre as ações, direção e lucros, óbvio. Com o pré-sal, já estamos falando em criar uma seguradora pública para dar "condições de financiamento e tributação".
Como se vê, a ação para a reestatização da economia está em pleno andamento, com atos discretos, porém decisivos. A não ser a recente declaração da candidata Dilma Rousseff, escancarada, de que "a tese do Estado mínimo é uma tese falida".
Dentro desse escopo já temos a TV Brasil, que todos sabem, é desnecessária. Temos também o Pro-Uni, em que o governo garante, nas universidades particulares, vagas exclusivas. O Bolsa-Esmola é a estatização da alimentação dos pobres.
A coluna presidencial (sic), em quase 200 jornais, faz parte do esquema da informação oficial. Quando a imprensa não é totalmente livre, as notícias são mais favoráveis ao governo, e assim vai se estatizando a informação.
E "la nave va". Sem que a maioria dos brasileiros perceba e, portanto, sem resistências. Quando se derem conta, poderá ser tarde. É inacreditável como este país consegue regredir. E tudo é justificado com o fato de que os pobres estão comendo um pouco mais. De que o Brasil está crescendo mais do que antes. Ok, mas sem a verdade dos fatos, que é a conjuntura econômica favorável dos últimos anos.
E, também, omitindo-se que o crescimento foi menor do que a média mundial, portanto, reduzindo o peso relativo do País no mundo.
Toda a justificativa fica por conta do progresso nas nossas divisas, de US$ 210 bilhões – mas ninguém conta a que preço e problemas futuros. Também do pré-sal, como se ele fosse para 2009 / 2010.
Que pena Brasil. Que pena. Como faz falta a cultura. Que falta faz um maior investimento na educação. Que diferença faz o povo não poder se alimentar sozinho, sem a ajuda do governo. Que pena Brasil...
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor, escritor e autor de livros em comércio exterior. samir@aduaneiras.com.br – Diário do Comércio
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