Rio: Descaso Federal com a Segurança Pública

O Rio se tornou símbolo do agravamento do problema de segurança pública no país por vários motivos. Tem uma região metropolitana em que, devido à forma como foi urbanizada, e por erros de planejamento cometidos pelo poder público há muito tempo, existem bolsões de favelas em bairros de renda mais elevada. Como em vários casos esses bolsões se converteram em santuários de traficantes, explosões de violência ocorridas nessas regiões têm repercussão nacional e internacional instantânea. Outro aspecto é que, na cidade, há organizações criminosas em luta constante, ao contrário de São Paulo, por exemplo, onde um bando é hegemônico.

Por estas e outras razões, a cidade e o estado passaram a buscar, de forma mais intensa, apoio federal no enfrentamento do problema. E até hoje esse suporte deixa a desejar, sem que se possa culpar limitações legais à atuação de Brasília em questões de segurança pública.

A revelação, feita pelo GLOBO de ontem, de que jazem num galpão da Polícia Rodoviária Federal, na Dutra, em Irajá, equipamentos essenciais para coibir o abastecimento de drogas e armas da região metropolitana carioca é prova concreta do descaso com que áreas do governo federal tratam do assunto.

Desde 2007, estão encaixotados 55 esteiras de raios X e quatro portais gigantes de scanner. Os equipamentos custaram R$ 90 milhões, pagos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, e têm extrema importância, pois as quadrilhas são municiadas e abastecidas de mercadorias transportadas basicamente de carros, caminhões e ônibus.

Sobram discursos e faltam ações no governo federal. Deixar os equipamentos sem uso — mesmo conservados — é uma inaceitável e estrondosa demonstração de incompetência que, na prática, se converte em conivência com o crime.

O superior hierárquico da Polícia Rodoviária, ministro Tarso Genro, deu declarações de praxe ontem no Rio: as responsabilidades serão apuradas etc. É o mínimo que se espera. Concordou, ainda, ser inadmissível o abandono do material. Tem sido comum no governo Lula autoridades exercerem a função de comentaristas da realidade. Algo no figurino de Fidel Castro, conhecido pelas críticas furibundas às ineficiências administrativas do regime cubano, como se nada fosse de sua responsabilidade.

Que pelo menos na grave questão da segurança pública, agravada não apenas no Rio, o truque não venha a ser repetido. O Globo


APARELHOS FEDERAIS PARA DETECTAR ARMAS E DROGAS DETERIORAM NO GALPÃO
O Lula disse nesta quarta-feira, durante visita à Vila Olímpica da Mangueira, que
é difícil combater a violência. Essa tarefa, no entanto, poderia ser mais fácil se os órgãos de segurança do Rio pudessem contar com as 55 esteiras de raios X e os quatro portais com scanners gigantes que estão se deteriorando há mais de dois anos, encaixotados num galpão na sede da Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Via Dutra, em Irajá. Os equipamentos de última geração - capazes de detectar armas e drogas em caminhões, ônibus e carros nas estradas - foram comprados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), por cerca de R$ 90 milhões, para serem usados durante o Pan de 2007. O Ministério da Justiça reagiu com surpresa e indignação diante da denúncia, e o secretário-executivo da pasta, Luiz Paulo Barreto, ordenou a abertura de sindicância para apurar responsabilidades.

No galpão, que alaga quando chove, as esteiras (avaliadas em R$ 1,2 milhão cada) e os pórticos (cerca de R$ 6 milhões a unidade) ainda estão dentro de caixas e cobertos por plásticos. Além desses equipamentos - que têm similares já usados pela Receita Federal -, material de primeiros socorros também apodrece numa ambulância no depósito da PRF.

De acordo com agentes da Polícia Rodoviária, um portal de raios X ou uma esteira numa blitz poderiam revelar se caminhões, ônibus e outros veículos estão transportando drogas e armas, mesmo que camufladas. Essas operações, segundo eles, poderiam ser montadas na BR-101, na BR-040 (Rio-Juiz de Fora) ou na Via Dutra. A sensibilidade dos equipamentos permite detectar metais e substâncias orgânicas. A diferença entre os aparelhos é que, no caso do portal, o veículo passa por ele; já a esteira é para verificação de bagagem. O Globo


MP INVESTIGA IMPROBIDADE EM GESTÃO DE ÓRGÃO FEDERAL
Descaso é alvo de investigação

O Ministério Público Federal instaurou ontem dois procedimentos para apurar se foram praticados crimes ou atos de improbidade na aquisição e no abandono, num galpão da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Via Dutra, em Irajá, de equipamentos para detecção de armas e drogas. Uma investigação será na área criminal e a outra, na de patrimônio público. Como O GLOBO noticiou ontem, 55 esteiras de raios X e quatro portais com scanners gigantes estão se deteriorando no depósito, que alaga quando chove. Por Ana Cláudia Costa - O Globo –

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