Visita de Ahmadinejad é "desgraça", diz americano

DEPUTADO DEMOCRATA CRITICA BRASIL POR RECEBER AHMADINEJAD

O deputado democrata Eliot Engel, líder da Subcomissão de Hemisfério Ocidental da Câmara dos Representantes dos EUA, afirmou ontem que a visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, "é uma desgraça" e prejudica a "estatura" do País no mundo.

"Espero que o governo dos EUA deixe claro ao presidente Lula que a visita de Ahmadinejad, um ditador que nega o Holocausto, é um erro", disse Engel, de ascendência judaica. "Principalmente para um país respeitado como o Brasil, que quer um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU", acrescentou. Patrícia Campos Mello, correspondente, Washington

O deputado, que é também presidente do Brazil Caucus no Congresso, reuniu-se com o embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota, e manifestou sua preocupação com a visita de Ahmadinejad, em 23 de novembro. Patriota, segundo uma fonte presente na reunião, teria reagido de forma brusca, surpreendendo Engel.

Em entrevista ao Estado, o deputado relutou em falar sobre seu encontro com Patriota, limitando-se a dizer: "Manifestei o meu desagrado profundo com a visita de Ahmadinejad, já que nunca deixo de falar a verdade em meus encontros com embaixadores e ele (Patriota) defendeu sua posição."

Segundo a embaixada brasileira, houve apenas uma defesa da "posição brasileira de pluralidade em suas relações externas e engajamento construtivo nas relações bilaterais com o Irã".

Engel, preocupado com a visita de Ahmadinejad ao Brasil e com "a crescente influência do Irã" na América do Sul, convocou uma audiência no Congresso para terça-feira. A audiência "Irã no Hemisfério Ocidental" foi convocada em conjunto com a subcomissão de Oriente Médio e Sul da Ásia e a de Terrorismo, Não-Proliferação e Comércio. "O Irã trabalha de forma incansável para aumentar sua presença na América do Sul e muitos iranianos estão indo para a região sem a devida verificação - isso pode permitir que muitos terroristas se abriguem na região", disse Engel.

Segundo uma fonte que acompanhou as discussões, Engel queria entender qual o posicionamento brasileiro - se é o de não fechar o canal de diálogo com o Irã, papel que poderia ser positivo, ou se o governo brasileiro encara Teerã como parceiro estratégico.

"É claro que a visita de Ahmadinejad está causando ruído, a ponto de Engel convocar uma audiência sobre o assunto", disse a fonte. "Receber o presidente do Irã não é algo trivial e pode, em última instância, ter repercussão na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos", disse.

VISITA DIFÍCIL
Novembro de 2008 - Lula convida o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad para visitar o País
20 de abril - Diplomatas iranianos em Genebra anunciam visita de Ahmadinejad ao Brasil, onde seria recebido por Lula, no prazo de duas semanas
4 de maio - Dois dias antes da chegada prevista, presidente iraniano adia visita oficial ao Brasil para depois da eleições presidenciais no país
11 de maio - Teerã nega que "pressões da comunidade internacional" tenham motivado adiamento. Ahmadinejad, porém, manteve restante da agenda externa e foi à Síria
20 de julho - Embaixador do Irã em Brasília diz que País será 1.º destino de Ahmadinejad após sua posse, mas não citou datas
25 de setembro - Lula confirma vinda do iraniano para novembro e nega constrangimento. Presidente anuncia que irá ao Irã em 2010. O Estado de S. Paulo

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