Vítima de grupo de Battisti quer depor

Paralítico desde o atentado do PAC em que seu pai foi morto, Torregiani diz que gostaria de explicar no Supremo o que realmente aconteceu

Alberto Torregiani, filho de Pierluigi Torregiani, o joalheiro assassinado pelos Proletários Armados para o Comunismo (PAC) em 1979, quer depor aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que devem decidir a respeito do pedido de extradição do ativista italiano Cesare Battisti.

"Acho que seria correto ouvir o que as vítimas têm para dizer. Gostaria de ir ao Brasil com outros familiares de vítimas para expor nossos motivos. Muito frequentemente há certa confusão, todo mundo fala, mas não as pessoas interessadas. Pergunto: como é possível julgar em boa-fé sem ouvir todas as partes?", argumenta Torregiani. Por Davide Sarsini

"Seria bom poder ir ao Brasil e explicar o que realmente aconteceu, mesmo que os brasileiros, como pude entender das pesquisas de opinião realizadas, já tenham uma ideia formada, considerando que 70 a 80% deles são favoráveis à extradição." Por Davide Sarsini

Torregiani estava com o pai quando um comando do PAC, diante da joalheria de Via Mercantini, atirou em Pierluigi numa das várias ações da luta armada da época. O joalheiro reagiu, mas morreu e o filho foi atingido nas costas - desde então está paralisado e vive numa cadeira de rodas. Torregiani diz não ser movido por rancor ou ódio, mas pede justiça há 30 anos. "Não existem condições para não se conceder a extradição. Battisti fazia parte de um grupo terrorista, errou e deve pagar."

JULGAMENTO
No início de setembro, depois de 12 horas de debates, os ministros do STF suspenderam o julgamento no momento em que a concessão da extradição era quase certa. Na sequência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou José Antônio Toffoli para ocupar vaga no STF. Toffoli é próximo do PT e do ex-ministro José Dirceu.

"É difícil traçar um quadro do que está ocorrendo, mas os acontecimentos nos levam a pensar que está sendo procurada uma maneira de adiar a extradição", avalia Torregiani. Battisti sempre afirmou sua inocência e sustenta que o disparo que deixou Torregiani numa cadeira de rodas partiu da arma de seu próprio pai.

"E o que isso tem a ver?", replica Torregiani. "Battisti não fazia parte do comando, mas é uma questão de responsabilidade. Ele foi condenado por ter participado da tomada de decisão, por ter sido o mandante do crime, e o que importa são as intenções. O crime foi premeditado e agora ele deve assumir a responsabilidade por seus atos."

Battisti disse várias vezes que, se voltar para a Itália, corre risco de vida. "Em que base afirma isso, o que ele precisa esconder?", argumenta Torregiani. "Se for para a cadeia, como muitos outros, ninguém vai se importar."

No entanto, segundo ele, a negação da extradição terá repercussões para as relações entre Itália e Brasil. "Quando lhe concederam refúgio político, houve uma crise diplomática entre os governos que fez com que o embaixador italiano fosse chamado de volta. Não sei nada sobre relações internacionais, mas acredito que, se não concederem a extradição, haverá uma crise com consequências graves. Aliás, o que há por trás de Battisti, quem são seus chamados "amigos" ou "irmãos" que o defendem com todas as armas, como se ele fosse Che Guevara ou Joana d"Arc?"

Autor do livro Já Estava na Guerra, Mas Não Sabia, em que contou sua experiência, Torregiani entrou há pouco tempo na política. É responsável pelo Departamento de Justiça do Movimento pela Itália, liderado por Daniela Santanchè, com o objetivo de chamar a atenção para sua luta pela condenação de Battisti. O Estado de S. Paulo


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