A diplo-MÁ-cia brasileira segue o seu curso acelerado em direção ao não-reconhecimento dos direitos humanos, embora às vezes se compraza em dizer que faz precisamente o contrário. A visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é mais um exemplo da omissão diplomática que beira a hipocrisia. Ela é posterior, por exemplo, ao constrangedor silêncio em relação a Darfur, no oeste do Sudão, onde tribos negras, não-muçulmanas, são massacradas por um governo islâmico radical, genocida. Trata-se de um genocídio em pleno século 21, com o qual o governo não deixa de pactuar, também em nome de conversas de "bastidores", supostamente mais eficazes. Os mortos que o digam! Enquanto isso, os assassinatos em massa prosseguem, com mais de 200 mil pessoas eliminadas, além das que são mutiladas por toda a vida. Na comemoração do Dia da Consciência Negra, essa é uma bandeira que deveria ter sido levantada com força, em nome da condenação mais enérgica do extermínio dessas tribos negras africanas. Por Denis Lerrer Rosenfield
A vinda de Ahmadinejad se faz, precisamente, depois de uma "eleição" condenada nacional e internacionalmente por ter sido fraudada, até por aiatolás do próprio regime, inclusive um ex-presidente e um ex-primeiro-ministro. Mesmo eles se insurgiram contra a guinada cada vez mais totalitária do regime, procurando, assim, distinguir duas formas de islamismo: o radical, de tendências totalitárias, e o que não o é. Foram escorraçados, menosprezados, e alguns de seus aliados e parentes, torturados e assassinados. Os clamores foram gerais, com a população ousando ir às ruas para protestar. E o fez com coragem, porque teve de se enfrentar com a famigerada "Guarda Revolucionária", uma espécie de SS do governo iraniano. Enquanto isso, o presidente Lula contentou-se em dizer que se tratava de um mero jogo de futebol, com os perdedores chiando por sua derrota. É uma afronta aos que, lá, lutam pela democracia, pelas liberdades.
O presidente iraniano tem em seu currículo, que mais se aproxima de uma folha corrida, uma série de declarações e atitudes que bem ilustram sua mentalidade totalitária. Não cessa de declarar a "inexistência do Holocausto judeu", que eliminou 6 milhões de pessoas, apenas por pertencerem a outro credo religioso. Prega a eliminação do Estado de Israel, imiscuindo-se diretamente nos conflitos do Oriente Médio, armando e financiando o Hamas e o Hezbollah, que compartilham a mesma ideologia. Aliás, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, condena energicamente essa ingerência na Faixa de Gaza. Deve-se, aqui, distinguir a recepção feita ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, homem de paz e diálogo, que em tudo se diferencia do presidente iraniano. Misturar as duas coisas só pode ser fruto de desconhecimento ou de má-fé, sendo esta última alternativa a mais provável.
As perseguições feitas pelo governo Ahmadinejad atingem com força a Comunidade Bahá"i, pelo simples fato de se tratar de um credo religioso que diverge da religião oficial. O governo teocrático do Irã não suporta a divergência, a oposição, tudo identificando com condutas "desviantes", que devem ser eliminadas em nome da "saúde", da "pureza" política de seu regime. Comportamentos "desviantes" são também os dos homossexuais, objeto de condenações e perseguições, que bem revelam a natureza totalitária do regime dos aiatolás, avesso à tolerância religiosa, moral e política. As mulheres, igualmente, são consideradas seres inferiores, que não podem dispor da sua capacidade de livre escolha, devendo submeter-se a líderes religiosos que impõem seus códigos de conduta. Deve-se ressaltar que antes da chegada dos aiatolás ao poder as mulheres iranianas gozavam uma liberdade muito maior, a situação atual configurando um claro retrocesso.
Ora, é esse regime que o governo brasileiro toma por digno de acolhimento e, além do mais, considerando tudo o que se passa naquele país como sendo um mero produto de simples disputas internas. O nosso presidente ainda chegou a dizer que o projeto nuclear iraniano é "pacífico", por acreditar simplesmente na palavra de Ahmadinejad. Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que nega fatos históricos? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que frauda as eleições em seu país? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que elimina a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que impõe as suas decisões por intermédio de sua polícia política, sua SS, sua "Guarda Revolucionária"?
Procurar respaldar a diplo-MÁ-cia brasileira em nome de uma suposta não-ingerência em assuntos internos de outro país é mais uma hipocrisia manifesta, pois é isso, precisamente, que o Brasil está fazendo em Honduras, com a embaixada transformada em foco de insurgência bolivariana, também ela de corte totalitário. Contra todos os tratados internacionais, a embaixada concedeu não um "refúgio" a Manuel Zelaya, mas lhe ofereceu um quartel-general a partir do qual as diretrizes de Hugo Chávez são propagadas pelo mundo, graças à TeleSur, também lá instalada. A incoerência diplomática é patente no momento em que eleições constitucionalmente estipuladas, antes mesmo da deposição de Zelaya, estão para ser realizadas. A fraude eleitoral no Irã é elogiada, é assunto interno, enquanto as eleições hondurenhas são condenadas. Parece que a nossa diplo-MÁ-cia tem uma afinidade eletiva com regimes totalitários, algo nunca antes visto em nossa história diplomática. O tal do diálogo Sul-Sul nada mais é do que uma máscara que vela uma opção pelo desrespeito progressivo a escolhas democráticas e aos direitos humanos. Se esse é o preço a ser pago por um assento no Conselho de Segurança da ONU, a pergunta que se impõe é a seguinte: vale o preço? O Estado de S. Paulo
A vinda de Ahmadinejad se faz, precisamente, depois de uma "eleição" condenada nacional e internacionalmente por ter sido fraudada, até por aiatolás do próprio regime, inclusive um ex-presidente e um ex-primeiro-ministro. Mesmo eles se insurgiram contra a guinada cada vez mais totalitária do regime, procurando, assim, distinguir duas formas de islamismo: o radical, de tendências totalitárias, e o que não o é. Foram escorraçados, menosprezados, e alguns de seus aliados e parentes, torturados e assassinados. Os clamores foram gerais, com a população ousando ir às ruas para protestar. E o fez com coragem, porque teve de se enfrentar com a famigerada "Guarda Revolucionária", uma espécie de SS do governo iraniano. Enquanto isso, o presidente Lula contentou-se em dizer que se tratava de um mero jogo de futebol, com os perdedores chiando por sua derrota. É uma afronta aos que, lá, lutam pela democracia, pelas liberdades.
O presidente iraniano tem em seu currículo, que mais se aproxima de uma folha corrida, uma série de declarações e atitudes que bem ilustram sua mentalidade totalitária. Não cessa de declarar a "inexistência do Holocausto judeu", que eliminou 6 milhões de pessoas, apenas por pertencerem a outro credo religioso. Prega a eliminação do Estado de Israel, imiscuindo-se diretamente nos conflitos do Oriente Médio, armando e financiando o Hamas e o Hezbollah, que compartilham a mesma ideologia. Aliás, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, condena energicamente essa ingerência na Faixa de Gaza. Deve-se, aqui, distinguir a recepção feita ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, homem de paz e diálogo, que em tudo se diferencia do presidente iraniano. Misturar as duas coisas só pode ser fruto de desconhecimento ou de má-fé, sendo esta última alternativa a mais provável.
As perseguições feitas pelo governo Ahmadinejad atingem com força a Comunidade Bahá"i, pelo simples fato de se tratar de um credo religioso que diverge da religião oficial. O governo teocrático do Irã não suporta a divergência, a oposição, tudo identificando com condutas "desviantes", que devem ser eliminadas em nome da "saúde", da "pureza" política de seu regime. Comportamentos "desviantes" são também os dos homossexuais, objeto de condenações e perseguições, que bem revelam a natureza totalitária do regime dos aiatolás, avesso à tolerância religiosa, moral e política. As mulheres, igualmente, são consideradas seres inferiores, que não podem dispor da sua capacidade de livre escolha, devendo submeter-se a líderes religiosos que impõem seus códigos de conduta. Deve-se ressaltar que antes da chegada dos aiatolás ao poder as mulheres iranianas gozavam uma liberdade muito maior, a situação atual configurando um claro retrocesso.
Ora, é esse regime que o governo brasileiro toma por digno de acolhimento e, além do mais, considerando tudo o que se passa naquele país como sendo um mero produto de simples disputas internas. O nosso presidente ainda chegou a dizer que o projeto nuclear iraniano é "pacífico", por acreditar simplesmente na palavra de Ahmadinejad. Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que nega fatos históricos? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que frauda as eleições em seu país? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que elimina a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral? Pode-se acreditar na palavra de uma pessoa que impõe as suas decisões por intermédio de sua polícia política, sua SS, sua "Guarda Revolucionária"?
Procurar respaldar a diplo-MÁ-cia brasileira em nome de uma suposta não-ingerência em assuntos internos de outro país é mais uma hipocrisia manifesta, pois é isso, precisamente, que o Brasil está fazendo em Honduras, com a embaixada transformada em foco de insurgência bolivariana, também ela de corte totalitário. Contra todos os tratados internacionais, a embaixada concedeu não um "refúgio" a Manuel Zelaya, mas lhe ofereceu um quartel-general a partir do qual as diretrizes de Hugo Chávez são propagadas pelo mundo, graças à TeleSur, também lá instalada. A incoerência diplomática é patente no momento em que eleições constitucionalmente estipuladas, antes mesmo da deposição de Zelaya, estão para ser realizadas. A fraude eleitoral no Irã é elogiada, é assunto interno, enquanto as eleições hondurenhas são condenadas. Parece que a nossa diplo-MÁ-cia tem uma afinidade eletiva com regimes totalitários, algo nunca antes visto em nossa história diplomática. O tal do diálogo Sul-Sul nada mais é do que uma máscara que vela uma opção pelo desrespeito progressivo a escolhas democráticas e aos direitos humanos. Se esse é o preço a ser pago por um assento no Conselho de Segurança da ONU, a pergunta que se impõe é a seguinte: vale o preço? O Estado de S. Paulo
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