Apagão: "Componente de arrogância"

Ex-presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e professor da USP, o ex-ministro José Goldemberg afirma que a insistência do governo em culpar o mau tempo pelo apagão mostra um “componente de arrogância”. E que não apurar as causas do blecaute gera inquietação na população: “Se eu fosse um diretor de hospital compraria um gerador.” – Por Cássia Almeida

O GLOBO: Como o senhor vê essas declarações dos responsáveis pela gestão do setor elétrico de que o mau tempo causou o apagão?

JOSÉ GOLDEMBERG: As fotografias de satélite do Inpe mostram que a precipitação não foi pior do que acontece frequentemente. Acabou virando uma grande discussão. Mostra um componente de arrogância do governo.

Quais as consequências desse tipo de atitude do governo?
GOLDEMBERG: Isso causa inquietação na população. Qualquer chuva mais forte, as pessoas vão temer outro apagão como aquele. Tem que se olhar as causas. As pessoas de dentro do sistema estão, cada uma, tentando cobrir o seu lado. Isso é mau para o futuro. Houve claramente um problema operacional. Se eu fosse um diretor de hospital, trataria de comprar um gerador.

O que deveria ser feito agora?
GOLDEMBERG: É preciso criar uma comissão de técnicos independentes de institutos de engenharia e universidades para apurar o que aconteceu naquele dia que provocou o apagão e dar um parecer em 15 dias.

O que o senhor acredita que deu errado?
GOLDEMBERG: Não tem cabimento a usina de Itaipu estar operando no máximo de sua capacidade às 22h, fora do pico do consumo de energia no país. Além disso, as antigas usinas da Cesp estavam desligadas. É como botar todos os ovos numa cesta só. Mesmo sem Itaipu, teríamos as outras usinas e, pelo menos, parte do Sudeste ficaria abastecida.

Existe outra hipótese para o apagão?
GOLDEMBERG: Poderia ter havido problemas no sistema de proteção de Itaipu. A sobrecarga no sistema pararia três máquinas de Itaipu, não as 18 máquinas da usina. É preciso fazer uma inspeção completa do equipamento – O Globo

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