ABUSO E CRUEDADE NO IRÃ
Fariba Pajooh foi detida sem acusação desde agosto.
Fariba Pajooh está na prisão de Evin em Teerã desde que foi levada em agosto, sem acesso a um advogado. Nenhuma acusação foi apresentada contra a jornalista iraniana.
Quando recebeu a chamada do serviço de inteligência, Fariba Pajooh sabia que o presságio não era bom para ela. Nós queremos falar com você, lhe disseram. Seria supostamente apenas uma reunião informativa. Por Ulrike Putz e Mathieu von Rohr
Os homens vieram buscá-la dias depois, em 22 de agosto, o primeiro dia do Ramadã. Pajooh havia passado o dia inteiro em casa com sua mãe, preparando a refeição da noite. Ela só deixou a casa por um curto tempo para comprar alguns doces. Quando ela voltou, ela estava sendo acompanhada por três homens.
Os homens eram educados, disse a mãe. Eles passaram uma hora mexendo nas gavetas e armários e verificando o computador. Eles permitiram que a mãe e a filha quebrassem o jejum juntas. Tremendo de medo, a dupla se alimentou e tomou chá. Então os homens disseram que Pajooh tinha que ir com eles, mas apenas por uma hora. Prometeram a mãe que a tratariam como se fosse sua própria filha. Mas eles estavam mentindo.
Harsh Crackdown
Desde aquele dia em agosto, Pajooh, 29, uma mulher pequena, com um rosto atraente de menina, está encarcerada em Teerã na prisão de Evin, na seção 209, que é controlada pela polícia secreta. Ela é uma das mais de 100 jornalistas e blogueiros que o regime prendeu, na sequência dos protestos contra a fraude eleitoral que levou o presidente Mahmoud Ahmadinejad de volta ao poder.
Na prisão, Pajooh está sofrendo de depressão profunda e estresse relacionado com arritmia cardíaca. Seus pais não foram autorizados a vê-la durante o primeiro mês do seu encarceramento. Agora eles estão autorizados a visitá-la às segundas-feiras, apesar de serem rechaçados na maioria das vezes. O atual advogado de Pajooh não tem acesso a ela. Somente depois de dois meses de estar presa, foi que o advogado soube das acusações feitas contra sua cliente: inicialmente, de espionagem, seguida de "propaganda contra o regime."
Pajooh faz parte da geração de iranianos que têm lutado pela liberdade desde a sua juventude. Ela foi presa pela primeira vez aos 18 anos. Tornou-se uma jornalista que escreve para publicações orientadas à reforma, para agências de notícias do governo e jornais - não sobre política, mas sobre os problemas sociais do Irã.
Ela foi detida uma segunda vez em 2008, quando pediu para viajar para os Estados Unidos para a eleição presidencial. Quando os protestos deste ano contra o regime iraniano sacudiram o país, Pajooh estava trabalhando durante o dia todo. Ela também atuou como tradutora para um correspondente colombiano, o que a tornou ainda mais suspeita para as autoridades. Ela sabia que estava em perigo, ela disse aos amigos, mas insistiu que ela só queria um futuro melhor para o Irã.
"A caneta é o inimigo da ignorância", escreveu ela em seu blog, alguns dias antes de ser presa.
CONDIÇÕES DESMORALIZANTES
Pajooh passou o primeiro mês de cativeiro em uma “tumba", os prisioneiros do Irã usam esta palavra para descrever as pequenas celas subterrâneas na prisão de Evin, que são quase uma cidade em si, escondida atrás de muros altos em uma colina sobre Teerã. Ela não foi mantida sob circunscrições controladas pelas milícias Basij, que torturam e estupram conforme relatos que chegaram ao mundo exterior. Mas a solidão do confinamento solitário é desmoralizante. Várias vezes por dia, os presos são levados para interrogatórios, onde são espancados e submetidos a revistas corporais.
Depois de um tempo, os presos aprendem a distinguir entre os seus interrogadores, identificando-os por seus sapatos, que eles podem ver apesar de estar de olhos vendados, e pela forma como eles são agressivos. Os interrogadores repreendem, ameaçam e batem nos prisioneiros, e em seguida, tentam seduzi-los com a promessa de liberdade - se concordarem em confessar seus ‘crimes’.
Depois de um mês, Pajooh foi transferida para a seção sobre a superfície da prisão, onde ela dividiu uma cela com outra jornalista, Hengameh Shahidi. As duas mulheres iniciaram uma greve de fome no final de outubro e foram levadas para a enfermaria depois de cinco dias. Shahidi foi liberada, mas Pajooh foi transferida para uma nova cela.
A cela onde ela está agora mantida, junto com um punhado de outros presos, tem apenas de 10 metros quadrados, com uma pequena portinhola para entrada de luz. A temperatura cai à zero na noite. Pajooh precisa tomar oito comprimidos por dia: três para o seu coração, três antidepressivos e dois comprimidos para dormir.
PROMESSAS VAZIAS
Farideh Pajooh, a mãe, diz que Fariba ainda está sendo interrogada diariamente, às vezes, às 23 horas da noite. Tão jovem como ela é, diz a mãe, sua filha já tem um monte de cabelos brancos. Seu estado mental é muito preocupante, a mãe diz.
A mãe passou os últimos três meses indo de um departamento do governo a outro, onde ela já ouviu muitas promessas vazias. As organizações de direitos humanos se envolveram, mas nada aconteceu. A audiência de provas supostamente foi concluída na semana passada, mas a data do julgamento ainda não foi definida.
Na semana passada, a família desesperada organizou um protesto de oito horas diante do Tribunal Revolucionário. Quando eles finalmente foram autorizados a falar, o procurador-chefe iraniano, Abbas Dolatabadi Jafari, disse-lhes que iria analisar a questão. Outra promessa. Fonte Spiegel
Traduzido do alemão por Christopher Sultan. Traduzido para o Português por Arthur para o MOVCC
Fariba Pajooh foi detida sem acusação desde agosto.
Fariba Pajooh está na prisão de Evin em Teerã desde que foi levada em agosto, sem acesso a um advogado. Nenhuma acusação foi apresentada contra a jornalista iraniana.
Quando recebeu a chamada do serviço de inteligência, Fariba Pajooh sabia que o presságio não era bom para ela. Nós queremos falar com você, lhe disseram. Seria supostamente apenas uma reunião informativa. Por Ulrike Putz e Mathieu von Rohr
Os homens vieram buscá-la dias depois, em 22 de agosto, o primeiro dia do Ramadã. Pajooh havia passado o dia inteiro em casa com sua mãe, preparando a refeição da noite. Ela só deixou a casa por um curto tempo para comprar alguns doces. Quando ela voltou, ela estava sendo acompanhada por três homens.
Os homens eram educados, disse a mãe. Eles passaram uma hora mexendo nas gavetas e armários e verificando o computador. Eles permitiram que a mãe e a filha quebrassem o jejum juntas. Tremendo de medo, a dupla se alimentou e tomou chá. Então os homens disseram que Pajooh tinha que ir com eles, mas apenas por uma hora. Prometeram a mãe que a tratariam como se fosse sua própria filha. Mas eles estavam mentindo.
Harsh Crackdown
Desde aquele dia em agosto, Pajooh, 29, uma mulher pequena, com um rosto atraente de menina, está encarcerada em Teerã na prisão de Evin, na seção 209, que é controlada pela polícia secreta. Ela é uma das mais de 100 jornalistas e blogueiros que o regime prendeu, na sequência dos protestos contra a fraude eleitoral que levou o presidente Mahmoud Ahmadinejad de volta ao poder.
Na prisão, Pajooh está sofrendo de depressão profunda e estresse relacionado com arritmia cardíaca. Seus pais não foram autorizados a vê-la durante o primeiro mês do seu encarceramento. Agora eles estão autorizados a visitá-la às segundas-feiras, apesar de serem rechaçados na maioria das vezes. O atual advogado de Pajooh não tem acesso a ela. Somente depois de dois meses de estar presa, foi que o advogado soube das acusações feitas contra sua cliente: inicialmente, de espionagem, seguida de "propaganda contra o regime."
Pajooh faz parte da geração de iranianos que têm lutado pela liberdade desde a sua juventude. Ela foi presa pela primeira vez aos 18 anos. Tornou-se uma jornalista que escreve para publicações orientadas à reforma, para agências de notícias do governo e jornais - não sobre política, mas sobre os problemas sociais do Irã.
Ela foi detida uma segunda vez em 2008, quando pediu para viajar para os Estados Unidos para a eleição presidencial. Quando os protestos deste ano contra o regime iraniano sacudiram o país, Pajooh estava trabalhando durante o dia todo. Ela também atuou como tradutora para um correspondente colombiano, o que a tornou ainda mais suspeita para as autoridades. Ela sabia que estava em perigo, ela disse aos amigos, mas insistiu que ela só queria um futuro melhor para o Irã.
"A caneta é o inimigo da ignorância", escreveu ela em seu blog, alguns dias antes de ser presa.
CONDIÇÕES DESMORALIZANTES
Pajooh passou o primeiro mês de cativeiro em uma “tumba", os prisioneiros do Irã usam esta palavra para descrever as pequenas celas subterrâneas na prisão de Evin, que são quase uma cidade em si, escondida atrás de muros altos em uma colina sobre Teerã. Ela não foi mantida sob circunscrições controladas pelas milícias Basij, que torturam e estupram conforme relatos que chegaram ao mundo exterior. Mas a solidão do confinamento solitário é desmoralizante. Várias vezes por dia, os presos são levados para interrogatórios, onde são espancados e submetidos a revistas corporais.
Depois de um tempo, os presos aprendem a distinguir entre os seus interrogadores, identificando-os por seus sapatos, que eles podem ver apesar de estar de olhos vendados, e pela forma como eles são agressivos. Os interrogadores repreendem, ameaçam e batem nos prisioneiros, e em seguida, tentam seduzi-los com a promessa de liberdade - se concordarem em confessar seus ‘crimes’.
Depois de um mês, Pajooh foi transferida para a seção sobre a superfície da prisão, onde ela dividiu uma cela com outra jornalista, Hengameh Shahidi. As duas mulheres iniciaram uma greve de fome no final de outubro e foram levadas para a enfermaria depois de cinco dias. Shahidi foi liberada, mas Pajooh foi transferida para uma nova cela.
A cela onde ela está agora mantida, junto com um punhado de outros presos, tem apenas de 10 metros quadrados, com uma pequena portinhola para entrada de luz. A temperatura cai à zero na noite. Pajooh precisa tomar oito comprimidos por dia: três para o seu coração, três antidepressivos e dois comprimidos para dormir.
PROMESSAS VAZIAS
Farideh Pajooh, a mãe, diz que Fariba ainda está sendo interrogada diariamente, às vezes, às 23 horas da noite. Tão jovem como ela é, diz a mãe, sua filha já tem um monte de cabelos brancos. Seu estado mental é muito preocupante, a mãe diz.
A mãe passou os últimos três meses indo de um departamento do governo a outro, onde ela já ouviu muitas promessas vazias. As organizações de direitos humanos se envolveram, mas nada aconteceu. A audiência de provas supostamente foi concluída na semana passada, mas a data do julgamento ainda não foi definida.
Na semana passada, a família desesperada organizou um protesto de oito horas diante do Tribunal Revolucionário. Quando eles finalmente foram autorizados a falar, o procurador-chefe iraniano, Abbas Dolatabadi Jafari, disse-lhes que iria analisar a questão. Outra promessa. Fonte Spiegel
Traduzido do alemão por Christopher Sultan. Traduzido para o Português por Arthur para o MOVCC
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