Só em outubro, aposentados assumiram R$ 1,7 bilhão em empréstimos, o dobro do contratado em igual período de 2008
Aposentados e pensionistas do INSS estão se endividando como nunca. Em outubro, os segurados pegaram nos bancos R$ 1,77 bilhão em crédito consignado. Esse valor é mais do que o dobro do total contratado em igual mês de 2008. De janeiro a outubro, o estoque de financiamento com desconto em folha alcançou R$ 18,5 bilhões, 154% a mais do que o registrado em igual período de 2008. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Previdência Social. Por Vânia Cristino
O crédito consignado vem crescendo desde abril. O principal motivo, segundo avaliação da Previdência, foi o aumento do percentual de comprometimento da renda com o pagamento da prestação dos empréstimos, que passou de 20% para 30%. A queda dos juros também ajudou. Em setembro, o Conselho Nacional de Previdência Social estabeleceu como teto para o consignado a taxa de juros de 2,34% ao mês. O limite anterior era de 2,5% ao mês. No desempenho de outubro, foram os segurados com renda de até um salário mínimo que contrataram 60,5% do total de operações, captando R$ 843,7 milhões. Os valores médios dos empréstimos ficaram em R$ 2.135,18.
O número
R$ 18,5 bilhões
Total dos descontos nos benefícios entre janeiro e outubro em decorrência das dívidas. Esse montante é 154% maior que o registrado em igual período de 2008 – Correio Braziliense
DE COMPUTADOR A AMEBÍASE
Há uma onda de ufanismo que tem atacado até os mais céticos. Isso é resultado dos bons números da economia, de bons lances políticos na esfera internacional e, claro, do conhecido carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, esse tipo de manifestação avassaladora — que chegou até a publicidade privada — não pode esconder nossas mazelas. Para o bem do Brasil.
Esta semana, por exemplo, foi divulgado estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Trata Brasil mostrando que só metade das residências brasileiras tem coleta de esgoto. Isso significa que cinco em cada 10 domicílios ainda usa fossa ou joga dejetos a céu aberto. Como isso pode ocorrer no país do consumo de computadores (estamos perto de ser o terceiro do mundo), de automóveis (caminhamos para superar a Alemanha) e de celulares (quase um por habitante)? Como entender que o saneamento básico, responsável pela erradicação de doenças do século 19, como cólera, amebíase e diarreia, seja assunto de segunda categoria — principalmente por parte dos governantes? Só para lembrar: há uns dois anos a Organização Mundial da Saúde avaliava que a falta de água tratada e de redes de esgoto tirava a vida de 15 mil brasileiros por ano. Hoje, a OMS reforça: há 8 milhões de brasileiros sem sequer banheiro!
Esses dados são, por si, alarmantes e vergonhosos. Mas se tornam mais graves porque o Brasil é signatário de uma das mais importantes metas do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), a do acesso universal ao saneamento básico. Ela estabelece que nós, brasileiros, deveríamos reduzir o deficit de saneamento à metade até 2015. Há números e estimativas controversos por aí, mas chegaremos, no máximo, até 60% dos lares. A FGV, por exemplo, acha que, no atual ritmo, levaremos 16 anos para cumpri-la. E o PAC, que prevê para o setor R$ 40 bilhões de investimentos até 2010? Bom, o Trata Brasil é cruel quanto ao seu impacto no setor, ressaltando que seriam necessários R$ 270 bilhões e 27 anos para a universalização do serviço de esgoto.
No ano que vem teremos um teste: as eleições majoritárias. Mas o desgosto se manterá, pois aposto que o tema certamente será transversal nos programas e debates entre os candidatos. Correio Braziliense – Por Renato Ferraz - renatoferraz.df@dabr.com.br - Observação: Discordamos do autor do texto quanto à menção sobre "bons lances políticos na esfera internacional e bons números da economia". Por Arthur/Gabriela
Aposentados e pensionistas do INSS estão se endividando como nunca. Em outubro, os segurados pegaram nos bancos R$ 1,77 bilhão em crédito consignado. Esse valor é mais do que o dobro do total contratado em igual mês de 2008. De janeiro a outubro, o estoque de financiamento com desconto em folha alcançou R$ 18,5 bilhões, 154% a mais do que o registrado em igual período de 2008. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Previdência Social. Por Vânia Cristino
O crédito consignado vem crescendo desde abril. O principal motivo, segundo avaliação da Previdência, foi o aumento do percentual de comprometimento da renda com o pagamento da prestação dos empréstimos, que passou de 20% para 30%. A queda dos juros também ajudou. Em setembro, o Conselho Nacional de Previdência Social estabeleceu como teto para o consignado a taxa de juros de 2,34% ao mês. O limite anterior era de 2,5% ao mês. No desempenho de outubro, foram os segurados com renda de até um salário mínimo que contrataram 60,5% do total de operações, captando R$ 843,7 milhões. Os valores médios dos empréstimos ficaram em R$ 2.135,18.
O número
R$ 18,5 bilhões
Total dos descontos nos benefícios entre janeiro e outubro em decorrência das dívidas. Esse montante é 154% maior que o registrado em igual período de 2008 – Correio Braziliense
DE COMPUTADOR A AMEBÍASE
Há uma onda de ufanismo que tem atacado até os mais céticos. Isso é resultado dos bons números da economia, de bons lances políticos na esfera internacional e, claro, do conhecido carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, esse tipo de manifestação avassaladora — que chegou até a publicidade privada — não pode esconder nossas mazelas. Para o bem do Brasil.
Esta semana, por exemplo, foi divulgado estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Trata Brasil mostrando que só metade das residências brasileiras tem coleta de esgoto. Isso significa que cinco em cada 10 domicílios ainda usa fossa ou joga dejetos a céu aberto. Como isso pode ocorrer no país do consumo de computadores (estamos perto de ser o terceiro do mundo), de automóveis (caminhamos para superar a Alemanha) e de celulares (quase um por habitante)? Como entender que o saneamento básico, responsável pela erradicação de doenças do século 19, como cólera, amebíase e diarreia, seja assunto de segunda categoria — principalmente por parte dos governantes? Só para lembrar: há uns dois anos a Organização Mundial da Saúde avaliava que a falta de água tratada e de redes de esgoto tirava a vida de 15 mil brasileiros por ano. Hoje, a OMS reforça: há 8 milhões de brasileiros sem sequer banheiro!
Esses dados são, por si, alarmantes e vergonhosos. Mas se tornam mais graves porque o Brasil é signatário de uma das mais importantes metas do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), a do acesso universal ao saneamento básico. Ela estabelece que nós, brasileiros, deveríamos reduzir o deficit de saneamento à metade até 2015. Há números e estimativas controversos por aí, mas chegaremos, no máximo, até 60% dos lares. A FGV, por exemplo, acha que, no atual ritmo, levaremos 16 anos para cumpri-la. E o PAC, que prevê para o setor R$ 40 bilhões de investimentos até 2010? Bom, o Trata Brasil é cruel quanto ao seu impacto no setor, ressaltando que seriam necessários R$ 270 bilhões e 27 anos para a universalização do serviço de esgoto.
No ano que vem teremos um teste: as eleições majoritárias. Mas o desgosto se manterá, pois aposto que o tema certamente será transversal nos programas e debates entre os candidatos. Correio Braziliense – Por Renato Ferraz - renatoferraz.df@dabr.com.br - Observação: Discordamos do autor do texto quanto à menção sobre "bons lances políticos na esfera internacional e bons números da economia". Por Arthur/Gabriela
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