O Brasil e o futuro, de novo

O poder público não tem qualquer respeito pelo cidadão, que não possui um mínimo de segurança

Na edição anterior, falamos sobre as mazelas econômicas brasileiras. E sobre a quase impossibilidade que será viver nesse país em 10 anos. Pelo menos, segundo entendemos. Estamos voltando ao assunto para mostrar também as mazelas não econômicas.

Vemos que a moralidade, respeito, justiça e outros valores caminham, a passos largos, para a extinção. Tanto no seio do governo, como da sociedade. Ninguém mais respeita ninguém. Veja-se o que ocorre no trânsito, que se transformou em uma guerra. Parece mais previsível e seguro andar nas ruas do Iraque ou do Afeganistão. E o tratamento entre as pessoas mais parece uma constante rivalidade. Por Samir Keedi

Integrantes de movimentos sociais invadem fazendas, produtivas ou não. Destróem plantações, edificações, matam gado.

E o governo ainda os ajuda, financiando as transgressões às leis. Já não se respeita a propriedade privada. Não importa se é produtiva ou não, a terra tem dono e é preciso considerar isso. Se o governo desejar, que compre a terra e a distribua a quem quiser, ou a venda a preços subsidiados, que é a melhor forma.

Está no nosso Congresso, quase aprovado pelas duas casas legislativas, a possibilidade, pelas várias instâncias governamentais, de retardar o pagamento de precatórios – bem como obter desconto das dívidas determinadas pela Justiça a serem pagas. Inclusive, com leilões para aceite de valor menor. Isso é, no mínimo, imoral, dada a força relativa dos litigantes. É um flagrante desrespeito ao cidadão e ao seu direito de receber uma dívida do governo. Sem falar no desrespeito a decisões judiciais.

Aliás, o nosso pobre Judiciário está mais do que desmoralizado. Talvez em parte por sua própria culpa, mas em parte pelo resto da sociedade. Vide decisão do próprio TST, de cassação de mandato de parlamentar, que não é respeitada pelo Legislativo. Decisões judiciais de desapropriação de terras invadidas também não são cumpridas pelas autoridades. É preciso força policial.

Os direitos individuais nem sempre são respeitados – como no momentoso e recente caso da universitária da "Unitaleban", em São Paulo, que nem pode se vestir como deseja. E, pior, de forma normal, sem desrespeito, como ficou provado em programas de TV e em fotos.

Aposentados não são respeitados em seus direitos. Não importa o que fizeram e sua importância para a sociedade. Quem se aposentou há cerca de 15 anos, com quatro salários mínimos, hoje percebe apenas dois. Vai se nivelando os aposentados por baixo. Mas o bolsa-esmola consegue aumentos reais. E bota reais!

O poder público não tem hoje qualquer respeito pelo cidadão, que não possui um mínimo de segurança. Já não é mais possível andar com alguma relativa tranqüilidade nas ruas. E, muitas vezes, nem dentro de casa. A educação é deplorável e o nível baixa diariamente. Nada é feito para sua melhoria – compreensível, pois quanto mais inculto o cidadão, maior controle se pode exercer sobre ele e seus preciosos votos. Na área da saúde é a mesma coisa. E ainda temos de ouvir que ela é exemplar, a melhor do mundo. Ousamos até recomendar nosso sistema à maior nação da terra, como ocorreu há dias.

E isso sem faltar dinheiro para todas estas coisas. Afinal, o País da maior carga tributária do mundo não pode ter problemas financeiros. A não ser que a malversação do dinheiro público chegue ao extremo, como agora, com corrupção entranhada em boa parte da população, segundo atestam estudos feitos há poucas semanas, e em que as riquezas fáceis acontecem amiúde. Obviamente, não para nós, meros mortais.

O cidadão brasileiro foi, há muito tempo, dividido em duas categorias: o que tem emprego e salário garantidos até o fim de seus dias, e aquele que pode ser demitido a qualquer momento. Não importa se o primeiro é incompetente e o segundo ótimo trabalhador. Um com alto salário, e garantido na aposentadoria, e outro com salário miserável, e mais ainda na aposentadoria.

Nossas vias públicas são um lixo. Mal se consegue andar sem ficar pulando dentro do carro, e judiando do veículo. Salvo exceções, as vias já quase não têm mais as faixas pintadas. O que prejudica o trânsito. E o motorista, por desrespeito e egoísmo, usa ambas as faixas, só porque não há pintura. Muito ainda se poderia escrever sobre o atual Brasil, mas isso mostra como poderá ser a vida daqui a uma década. E, ainda bem, como dizem, que Deus é brasileiro...
Jornal Diário do Comércio

Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor e autor de diversos livros em comércio exterior -
Samir@aduaneiras.com.br

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