À SOMBRA DOS LARANJAIS
A invasão da fazenda da Cutrale deixou o Palácio do Planalto e o PT sem discurso para barrar a comissão de inquérito do Congresso que investiga as contas do MST. Nada sugere que a CPI possa ter um fim diferente de outras CPIs sob o governo do Lula da Silva. Mas o movimento sem-terra está em xeque, inclusive entre aliados que consideram que o MST perdeu o rumo e o sentido.
A relação do presidente com o MST é tensa, apesar dos panos quentes colocados pelo ministro Alexandre Padilha, novo coordenador político do governo e integrante do grupo que assessora a pré-campanha presidencial de Dilma Roussef. Por Raymundo Costa
No governo federal, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) politizou eleitoralmente a questão. Cassel comprou uma briga que nem Lula nem Dilma se dispuseram a comprar, ao preço do dia.
Lula até classificou de "vandalismo" a invasão da fazenda da Cutrale, em Iaras, no interior de São Paulo. As cenas da destruição dos laranjais é tudo o que o presidente e sua pré-candidata não querem associadas a eles na campanha de 2010.
Aliados históricos do MST, de outro lado, se declararam chocados ao saber que o "vandalismo" atingiu também empregados da fazenda. Alguns desses aliados disseram que o movimento perdeu o sentido. Pode ser. O que não se pode afirmar é que a invasão tenha isolado politicamente o MST.
Além de Cassel, que viu "criminalização dos movimentos sociais" em atos efetivamente criminosos, o MST ganhou o apoio de uma penca de intelectuais daqui e de lá de fora. Assinam, entre outros, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o professor Antonio Cândido e até o cientista político Chico de Oliveira, contumaz crítico dos desvios do PT no governo.
Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, que se comemoram na próxima segunda-feira 9, os intelectuais veem na CPI "um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST". Segundo o manifesto dos pensadores, "prepara-se o terreno para mais uma ofensiva contra os direitos sociais da maioria da população brasileira".
Nem tanto ao chão, nem tanto à terra. É possível que o MST tenha se desviado do ideal que representava em sua origem. Mas é preciso registrar que o movimento sem-terra mais tradicional do campo brasileiro radicaliza à medida que perde a clientela para organizações rurais situadas ainda mais à esquerda do espectro ideológico.
No governo, Lula mudou seu modo de ver o MST, assim como mudou a maneira como encarava muitas outras questões nos duros tempos da oposição. Os sem-terra também mudaram e elegeram como prioridade a destruição do agronegócio, em vez da reforma agrária e da redistribuição das terras improdutivas.
A relação do presidente com o MST está há mais de dois anos desgastada, desde um jantar na Granja do Torto, em Brasília, quando Lula, após ouvir o que dirigentes sem-terra tinham a dizer (críticas contundentes à política agrária do governo), retirou-se e deixou-os falando sozinhos.
Deve-se, no entanto, ficar atento à medida exata deste desencontro. Lula, PT e o MST têm uma relação umbilical. Pode-se ter certeza que a fúria do movimento, na CPI, será dirigida contra os congressistas e nunca contra o presidente da República, apesar de Lula ter dado de ombros à criação da comissão mista do Congresso para investigar as contas dos sem-terra.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra já havia jogado a toalha em relação ao presidente. Integrantes do seu núcleo dirigente diziam que nada mais restava ao MST a não ser esperar o fim do governo Lula, uma vez que também não tinha como ficar contra um presidente da República ao qual sempre esteve aliado e dono de uma popularidade nas alturas.
Até o incidente da Cutrale.
No oficial, os dirigentes e afins do comando do MST vendem a versão de "armação"; no paralelo, que a invasão saiu de controle e "companheiros mais exaltados" tratoraram os laranjais.
A primeira desculpa é recorrente; a segunda, esfarrapada. Quem conhece a disciplina dos acampamentos sem-terra sabe que ninguém pega um trator e derruba laranjais por conta e risco próprios.
Antes quem andava zangado com o MST era Lula; hoje o MST é que se diz emburrado com o presidente. No Palácio do Planalto se diz que a CPI é contra o MST e não contra o governo. O MST rebate: a CPI começa em mim e termina em você.
Na avaliação do grupo que assessora Dilma, já foram desapropriados, no atual governo, 43 milhões de hectares, quase o que foi desapropriado sob Mao Tse-Tung, na China, e mais que os 20 milhões da revolução mexicana. O grupo discute reconciliar reforma agrária e meio ambiente. Valor Econômico
A invasão da fazenda da Cutrale deixou o Palácio do Planalto e o PT sem discurso para barrar a comissão de inquérito do Congresso que investiga as contas do MST. Nada sugere que a CPI possa ter um fim diferente de outras CPIs sob o governo do Lula da Silva. Mas o movimento sem-terra está em xeque, inclusive entre aliados que consideram que o MST perdeu o rumo e o sentido.
A relação do presidente com o MST é tensa, apesar dos panos quentes colocados pelo ministro Alexandre Padilha, novo coordenador político do governo e integrante do grupo que assessora a pré-campanha presidencial de Dilma Roussef. Por Raymundo Costa
No governo federal, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) politizou eleitoralmente a questão. Cassel comprou uma briga que nem Lula nem Dilma se dispuseram a comprar, ao preço do dia.
Lula até classificou de "vandalismo" a invasão da fazenda da Cutrale, em Iaras, no interior de São Paulo. As cenas da destruição dos laranjais é tudo o que o presidente e sua pré-candidata não querem associadas a eles na campanha de 2010.
Aliados históricos do MST, de outro lado, se declararam chocados ao saber que o "vandalismo" atingiu também empregados da fazenda. Alguns desses aliados disseram que o movimento perdeu o sentido. Pode ser. O que não se pode afirmar é que a invasão tenha isolado politicamente o MST.
Além de Cassel, que viu "criminalização dos movimentos sociais" em atos efetivamente criminosos, o MST ganhou o apoio de uma penca de intelectuais daqui e de lá de fora. Assinam, entre outros, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o professor Antonio Cândido e até o cientista político Chico de Oliveira, contumaz crítico dos desvios do PT no governo.
Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, que se comemoram na próxima segunda-feira 9, os intelectuais veem na CPI "um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST". Segundo o manifesto dos pensadores, "prepara-se o terreno para mais uma ofensiva contra os direitos sociais da maioria da população brasileira".
Nem tanto ao chão, nem tanto à terra. É possível que o MST tenha se desviado do ideal que representava em sua origem. Mas é preciso registrar que o movimento sem-terra mais tradicional do campo brasileiro radicaliza à medida que perde a clientela para organizações rurais situadas ainda mais à esquerda do espectro ideológico.
No governo, Lula mudou seu modo de ver o MST, assim como mudou a maneira como encarava muitas outras questões nos duros tempos da oposição. Os sem-terra também mudaram e elegeram como prioridade a destruição do agronegócio, em vez da reforma agrária e da redistribuição das terras improdutivas.
A relação do presidente com o MST está há mais de dois anos desgastada, desde um jantar na Granja do Torto, em Brasília, quando Lula, após ouvir o que dirigentes sem-terra tinham a dizer (críticas contundentes à política agrária do governo), retirou-se e deixou-os falando sozinhos.
Deve-se, no entanto, ficar atento à medida exata deste desencontro. Lula, PT e o MST têm uma relação umbilical. Pode-se ter certeza que a fúria do movimento, na CPI, será dirigida contra os congressistas e nunca contra o presidente da República, apesar de Lula ter dado de ombros à criação da comissão mista do Congresso para investigar as contas dos sem-terra.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra já havia jogado a toalha em relação ao presidente. Integrantes do seu núcleo dirigente diziam que nada mais restava ao MST a não ser esperar o fim do governo Lula, uma vez que também não tinha como ficar contra um presidente da República ao qual sempre esteve aliado e dono de uma popularidade nas alturas.
Até o incidente da Cutrale.
No oficial, os dirigentes e afins do comando do MST vendem a versão de "armação"; no paralelo, que a invasão saiu de controle e "companheiros mais exaltados" tratoraram os laranjais.
A primeira desculpa é recorrente; a segunda, esfarrapada. Quem conhece a disciplina dos acampamentos sem-terra sabe que ninguém pega um trator e derruba laranjais por conta e risco próprios.
Antes quem andava zangado com o MST era Lula; hoje o MST é que se diz emburrado com o presidente. No Palácio do Planalto se diz que a CPI é contra o MST e não contra o governo. O MST rebate: a CPI começa em mim e termina em você.
Na avaliação do grupo que assessora Dilma, já foram desapropriados, no atual governo, 43 milhões de hectares, quase o que foi desapropriado sob Mao Tse-Tung, na China, e mais que os 20 milhões da revolução mexicana. O grupo discute reconciliar reforma agrária e meio ambiente. Valor Econômico
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