Zelaya não volta e Honduras vira dilema

O Congresso de Honduras decidiu adiar para depois da eleição presidencial a decisão sobre a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya. O presidente do Congresso, José Alfredo Saavedra, declarou ontem que os parlamentares só votarão pela volta ou não de Zelaya no dia 2 de dezembro. A eleição está marcada para domingo 29 de novembro. A decisão contraria os apelos, do Brasil e de diversos países da América do Sul e do Caribe, e deve criar atrito diplomático entre a região e os EUA.

O governo do presidente Barack Obama vinha cobrando a restituição antes da eleição, mas dias atrás indicou que o retorno não seria indispensável para o reconhecimento do novo presidente. Zelaya está refugiado na Embaixada do Brasil na capital, Tegucigalpa, desde setembro.
"Acho que há uma chance de aumento de atritos nas relações EUA-América Latina em torno da questão de Honduras", disse na semana passada ao Valor, por e-mail, Michael Shifter, vice-presidente de política do Diálogo Interamericano, centro de estudos americano.

"O crítico é o que acontecerá politicamente em Honduras em 29 de novembro e depois disso." Shifter faz a seguinte aposta: se houver um comparecimento significativo, se a maioria dos eleitores considerar que o resultado tem credibilidade e ainda se o novo presidente conseguir costurar um acordo entre diversas correntes políticas, "os outros governos da América Latina acabarão por reconhecer o novo governo e por manter relações com ele".

No governo brasileiro, a disposição não é essa. Um diplomata brasileiro que acompanha a situação em Honduras disse ontem ao Valor que, se as eleições realmente ocorrerem com Zelaya fora do cargo, o Brasil e outros países poderão rebaixar as relações diplomáticas Honduras, diminuindo as atividades de suas embaixadas e dando a elas apenas tarefas muito básicas, como emissões de visto. "Os contatos poderão a se limitar a contatos mínimos, sem o envio de embaixador. A embaixada viraria um escritório durante todo o mandato do próximo presidente, embora no meio do caminho poderá se negociar, flexibilizar."

Zelaya foi derrubado por um golpe em 28 de junho com apoio do Congresso e da Suprema Corte hondurenha. Zelaya - que durante o governo se alinhou ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez - tentou organizar uma consulta popular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. Críticos diziam que ele pretendia alterar a Constituição e incluir o instituto da reeleição. Expulso do país, Zelaya voltou clandestinamente a Tegucigalpa em setembro e se refugiou na Embaixada do Brasil.

O argumento brasileiro e outros países da região é que uma eleição organizada por um governo golpista, não reconhecido internacionalmente, não pode ser considerada legitima - e tampouco quem vier a ser eleito.

Para o diplomata brasileiro, a divergência entre EUA e outros países da região sobre o reconhecimento do novo presidente criaria uma situação desgastante na Organização dos Estados Americanos, por exemplo. "Haveria dentro da OEA duas opiniões divergentes. Haveria um racha no que diz respeito a Honduras e isso nunca é positivo, especialmente por envolver um país da América Central que já tem tantas dificuldades."

Mas para Shifter, a divergência não deve criar embaraços sérios às relações EUA-América Latina. "Embora possa haver desgaste, sinceramente duvido que o governo Obama permitirá que esse desacordo ponha em risco suas relações com governos da América Latina como o do Brasil." Site Aleluia

Marcos de Moura e Souza - O Estado de São Paulo - Com agências internacionais

Um comentário:

bellzinham@hotmail.com disse...

Sinceramente, eu não sei o que o Brasil ganha se metendo nessa briga interna de Hinduras.
O ex.presidente foi deposto legitimamente e por força da Carta Magna de Honduras,não houve golpe de estado, muito pelo contrário quem pretendia dar um golpe no estado de direito democrático pretendendo se perpetuar no poder, foi exatamente o presidente deposto.O Brasil não tinha nada que aceitar e dar guarida ao Zelaya.