Bolívia rumo a "cocainização"

A tendência de cair em uma espécie de cumplicidade coletiva com o narcotráfico e seus benefícios econômicos é uma das conseqüências do fenômeno

Em 26 de Novembro passado, sob o título: "A coca, grande ausente do debate eleitoral", dissemos neste espaço editorial que uma das características mais notáveis das campanhas foi a forma sistemática como os principais candidatos decidiram omitir as grandes questões relativas ao presente e futuro da nação.

"Menção especial neste contexto é o problema da coca, seu processamento em cocaína, e as enormes conseqüências que tal cadeia produtiva e comercial tem sobre a estrutura econômica e social do nosso país". Editorial Los Tiempos.com

"Chama muito a atenção, portanto, que o tema não figure entre os pontos mais importantes do plano de governo de qualquer candidato" (..) "E enquanto isso acontece, multiplicam-se as evidências de que a coca e sua transformação está se convertendo no principal sustento e motor da economia nacional, envolvendo direta e indiretamente a milhões de pessoas e suas respectivas famílias ".

Mas como poderia ser de outra forma, que o problema tenha sido ignorado, não é suficiente para que ele deixe de existir. E foi por isto que a revista Veja, uma das mais importantes no Brasil, dedicou uma ampla reportagem intitulada "Coca para ele, cocaína para nós", referindo-se a Evo Morales, a forma como este país afeta o exponencial crescimento das atividades relacionadas à produção e o processamento de coca em cocaína na Bolívia.

Segundo a revista brasileira, em quatro anos, a produção de pasta de coca e de cocaína aumentou 41 por cento na Bolívia. A maior parte é enviada para o Brasil, onde ele gera o vício, a criminalidade e a corrupção. "Grande parte da droga que entra no Brasil é proveniente de países vizinhos, destina-se a outros consumidores, porém a que fica no país é principalmente da Bolívia, a de pior qualidade. Das 40 toneladas de cocaína consumidas anualmente no Brasil, mais de 80 por cento vem da Bolívia”.

Na verdade, nenhum dos dados com os quais a Revista Veja respalda suas afirmações é novidade. Pelo contrário, se há algo tão óbvio que não dá lugar à controvérsia é que nos últimos anos, as atividades ligadas à coca e a cocaína aumentaram se multiplicaram de maneira dramática. Tanto, que não passa um dia sem que haja notícias sobre a proliferação de laboratórios, cada vez mais modernos, em todo o território nacional.

Por seu lado, as estatísticas econômicas refletem uma bonança que não se explica pela atividade produtiva legal, mas pelos milhões de dólares provenientes do narcotráfico que são injetados diariamente na economia nacional, e que confirmam a magnitude do fenômeno.

As conseqüências que esta situação trará o futuro da nação não são difíceis de prever. Entre elas, a tendência para cair em uma espécie de cumplicidade coletiva, não é a menor.
El Tiempo.com


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Famílias de suspeitos de terrorismo vão processar o Governo
Os familiares dos três supostos terroristas mortos em uma operação policial em Santa Cruz, em abril passado, anunciaram que vão iniciar uma demanda internacional contra o Governo boliviano.

Segundo o The Times, o deputado do (PODEMOS), Bernardo Montenegro que está na Hungria, afirmou para as famílias de Michael Martin Dwyer, irlandês e do romeno Arpad Magyarosi, estão determinadas a apresentar uma demanda por "execução sumária" de seus parentes, em 16 de abril.

Montenegro viajou para a Europa na semana passada com seu colega Paul Banegas para investigar os laços do grupo de alegados terroristas no continente.

Segundo o The Times, deputados da oposição se reuniram ontem com funcionários do governo e parlamentares da Hungria e também com parentes e Magyarosy Toas.

Montenegro informou ter recebido o relatório da autópsia forense realizado por peritos Magyarosy húngaros, que conclui que houve uma “execução”. Ele acrescentou que os representantes dos governos da Hungria e Irlanda que se encontraram com eles, expressaram seu descontentamento porque a Bolívia não tem ainda resposta aos seus pedidos de informação sobre a operação policial. No caso da Irlanda, o pedido oficial foi enviado ao Ministério das Relações Exteriores boliviano, em outubro passado. EFE / La Paz –

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