Erro do ENEM mantido em segredo

MEC sabia que haveria questão anulada no Enem, mas não avisou e prejudicou alunos

O Ministério da Educação (MEC) sabia com semanas de antecedência que uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seria anulada, mas não avisou a ninguém.

A falha foi detectada por uma equipe revisora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC responsável pelo exame. Como a prova já estava na gráfica, o Inep entendeu que não havia tempo suficiente para corrigir o erro no teste de língua portuguesa. A decisão, então, foi manter a impressão do jeito que estava. Por Demétrio Weber

No domingo, 2,5 milhões de participantes receberam o teste de linguagens com 45 questões. Estudantes reclamaram do número excessivo de perguntas e dos enunciados longos. Quem se dedicou a fazer a questão anulada perdeu tempo. Ela não contará na nota final.

Além da falta de tempo, o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, diz que seria um desperdício de dinheiro público interromper a impressão.

Ele também considera que não havia como avisar aos participantes sobre o problema antes do teste.

— Não tinha como anunciar antes: “Olha, vamos fazer uma prova que vai ter uma questão que vai ser anulada” — disse ele. — A prova já estava na gráfica. Teria que parar o processo de novo, e não teria tempo. A gente tomou a decisão, achou mais correta e, logo em seguida, anunciamos.

A primeira notícia de que uma pergunta tinha sido anulada só veio a público no domingo à noite, quando o MEC divulgou uma primeira versão errada do gabarito. Esse gabarito informava que uma questão da prova de linguagens, como é chamado o teste de português e leitura, tinha sido anulada. Erros no próprio gabarito, porém, levaram o MEC a retirá-lo do ar. A versão correta só foi divulgada na segunda-feira à tarde.

Uma sucessão de problemas
A questão anulada é a de número 101 nos cadernos de prova das cores amarela, azul e rosa; no caderno cinza, é a 102. Para dificultar a cola, o Inep criou quatro modelos de teste, todos com as mesmas questões, mas em ordem diferente. Na questão, a partir da leitura de uma tira em quadrinhos, eram feitas perguntas gramaticais. Segundo o Inep, havia duas respostas certas.

Criado em 1998, o Enem foi reformulado este ano para substituir o vestibular tradicional. A decisão foi tomada no primeiro semestre. Para aplicar o teste já no segundo semestre e selecionar os calouros de 2010, MEC e Inep tiveram que correr. O exame estava marcado para outubro, mas foi adiado para dezembro, após o vazamento de provas. Os cadernos de questões foram roubados numa gráfica, levando o MEC a romper o contrato com um consórcio, fazer novos contratos emergenciais, sem licitação, e montar uma operação de guerra, desta vez com Forças Armadas, PF, Correios e PMs.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que o furto das provas do Enem abalou o Inep.

— Não há como negar que os servidores ainda estão sob impacto — disse o ministro.

Indagado sobre a intenção de reformular o Inep, Haddad respondeu que só aguarda o resultado da auditoria que investigou o atuação do órgão na supervisão do contrato com o consórcio responsável pela aplicação do Enem, em outubro. Ele lembrou que o Ministério Público Federal denunciou à Justiça anteontem cinco pessoas acusadas de envolvimento no furto e tentativa de venda das provas do Enem.

— Espero que esse caso seja exemplar.

Que a Justiça se faça rapidamente — disse o ministro, defendendo a condenação dos acusados.

Além do vazamento da prova, que levou ao adiamento do teste para o último fim de semana, o Enem ainda teve um dos mais baixos índices de comparecimento. Segundo o MEC, 37,7% dos inscritos não foram fazer as provas, no sábado. O Globo

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