R$ 1,49 trilhão. É a dívida dos brasileiros

O que mais me preocupa é que a dívida não para de crescer. Só em novembro, aumentou 1,32%. Parece pouco, mas essa "pequena" alta corresponde a R$ 20 bilhões.

O Tesouro Nacional divulgou quarta-feira passada os dados de novembro do saldo da nossa dívida pública. Divulgados na véspera do Natal, não se trata propriamente de um presente de Papai Noel aos brasileiros. Descobrimos, nós contribuintes, que devemos 1,491 trilhão de reais. Isso mesmo, leitores, quase um trilhão e meio de reais.

Cada um de nós, brasileiros, está devendo mais de cinco mil reais – aí incluídos todos os contribuintes e não contribuintes, empregados e desempregados, menores de idade e idosos, mulheres e homens. Por Roberto Fendt

Sei que a maior parte dos credores de nossa dívida é de brasileiros, já que a parcela de credores da dívida externa hoje é muito pequena em relação à dívida total do governo. Não é propriamente o tamanho da dívida que me preocupa, embora eu não tenha sido consultado se gostaria ou não de ser responsável por um passivo de cinco mil reais que me custa, além disso, mais de quatrocentos reais por ano.

O que mais me preocupa é o fato de que a dívida não para de crescer. Somente no mês de novembro último, ela aumentou 1,32%. Pode parecer pouco, mas esse "pequeno" aumento corresponde a vinte bilhões de reais. Apenas considerando os últimos três anos,a dívida aumentou mais de 20%, a despeito de havermos pago todo ano os juros correspondentes.

Deve haver algo errado com as contas públicas, já que apesar da grande fanfarra a respeito da "economia para pagar os juros da dívida" (também conhecida como "saldo primário") os números continuam aumentando.

A explicação, contudo, embora dolorosa, é simples. Há três formas de financiar as despesas do governo – ignorando-se, por serem indecentes, todos os tipos de calotes aos credores, como é o caso principalmente dos precatórios, mas também das dívidas com os fornecedores e com diversos outros tipos de compromissos "caloteados" pelo governo.

Qualquer governo se financia por tributos, emissão monetária ou aumento do seu (nosso) endividamento – ou, o que é o mais frequente, por uma combinação das três formas de financiamento. Está difícil aumentar tributos, embora o governo sempre tente e dê o nome de "reforma tributária" a essas tentativas; o fato é que o povo já não aguenta mais tanto imposto. A emissão monetária causa inflação e esse governo aprendeu com o anterior que o povo detesta inflação na mesma medida em que detesta impostos.

Resta, portanto, pagar juros de agiota e empurrar os pagamentos para frente, aumentando a dívida. Afinal, quem vai pagar não é o governo, somos nós.

Se a nossa situação não melhorou, no entanto, melhorou a do governo. A dívida em dólar é menor do que 1% do total; a parcela de títulos pré-fixados, isto é, que pagam juros fixos, subiu de 31,2% em outubro para quase 32,5% em novembro; e a parcela da dívida atrelada a índices de preços caiu de 29,1% para 28,2% – tudo isso em um único mês. Com essa melhoria do perfil da dívida, fica mais fácil administrá-la.

Estaríamos todos comemorando se também pudéssemos nós estar administrando de maneira mais fácil as nossas finanças, o que não é caso agora e, pelo visto, nem no futuro imediato. Pelo menos até que o governo comece a viver dentro de seus próprios meios, como fazem quase duzentos milhões de brasileiros.
Diáriodocomércio - Roberto Fendt é economista


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