Os pés pelas mãos

Opção da FAB por modelo sueco é mais um episódio que expõe as gafes e as precipitações do governo Lula na compra de caças

Trapalhada é um termo neutro, pois não pressupõe má-fé, para qualificar a atuação do governo Lula na escolha do caça que o Brasil pretende adquirir. Esse intrigante roteiro, pontuado por gafes e precipitações, ganha um novo capítulo com a revelação, feita por esta Folha, de que avaliação técnica da Aeronáutica dá preferência ao sueco Gripen.

O francês Rafale, a favor do qual o Planalto chegou a publicar nota oficial em setembro, ficou em terceiro e último lugar, precedido pelo F-18 americano, no extensivo relatório elaborado pela FAB. Os três modelos de avião de combate foram pré-selecionados pelo Brasil, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está formalmente habilitado a optar por qualquer um deles. Editorial Folha de São Paulo

Essa discricionariedade, porém, deveria escorar-se em sólidos argumentos técnicos e pôr-se a serviço de estratégias de negociação que otimizassem a relação entre custo e benefício da operação -a aquisição de 36 caças pelo Brasil, por cerca de R$ 10 bilhões, é uma compra de grande porte por padrões internacionais. Não foi essa a rotina adotada pelo governo brasileiro.

Anunciar a preferência por um dos três modelos quando a concorrência internacional ainda está em curso, além de um desrespeito aos outros competidores, é uma péssima maneira de tentar baixar o preço -ou ampliar benefícios, como o grau de transferência tecnológica - do equipamento a ser adquirido. Antecipar-se à avaliação técnica dos militares soa como menoscabo pela corporação que, de resto, vai operar as aeronaves durante 30 anos.

Após décadas de penúria orçamentária -por conta do baixo crescimento econômico e do excessivo peso de despesas com pessoal inativo-, o Brasil pode enfim impulsionar o projeto de reequipar as Forças Armadas. Os 36 caças novos, que começarão a substituir parte dos 107 existentes, aumentarão a mobilidade e o poder dissuasório dos militares em sua missão de patrulhar um país continental.

Nesse programa, que também prevê investimentos em navios e submarinos, convencionais e a propulsão nuclear, há quem defenda, dentro e fora do governo, que Brasília constitua parceria preferencial com Paris. Talvez o Brasil tenha acesso a mais conhecimentos, lucros e tecnologia se fizer essa opção. Talvez, entretanto, fique perigosamente refém dos humores dos governantes franceses de turno.

O debate nesses termos é legítimo, e há bons argumentos dos dois lados. Mas qualquer decisão nesse campo não pode prescindir de uma rigorosa avaliação técnica, que leve em conta todos os aspectos do negócio.


LEIA TAMBÉM
As turbulências do presidente A incontinência verbal do presidente Lula - que fala duas vezes antes de pensar nos efeitos de suas palavras - acaba de criar um problema político para o seu governo e um potencial problema diplomático para o Brasil. - Editorial O Estado de São Paulo

2 comentários:

bellzinham@hotmail.com disse...

Não sei pq,mas,(***) me lembrei da velha farmacinha do banheiro da minha casa quando eu era criança.Meus pais sempre mantinham la um vidro daqueles bem grandes de (sal de fruta ENO. Agora eu já sei agita não cura e só engana, assim são os políticos brasileiros.Lula não pode aprovar,comprar qq equipamento militar sem que primeiro passe pelo crivo das forças armadas e olha só no que deu. Haja sal de fruta!

Joana D'Arc disse...

...E somos obrigados a ler coisas deste tipo, ditas por José Genoino: "A visão da aeronáutica é equivocada e parcial. A discussão é de parceria estratégica com a França."

Ora Genoino! e a sua opinião, por acaso é técnica?! equivocado está você ao opinar sobre um estudo acurado elaborado pelos competentes quadros da Aeronáutica!

Agora, de 'par$$eria e$stratégica com a Fran$$a' deve estar bem informado...

É até possível que, para não se 'queimar', o prezimente 'aplique seu habitual método de impulsão com a parte mais protuberante do abdome', como bem escreveu Dora Kramer...

Temos mais este ano, looooongo, pela frente; é esperar para ver.