Bondade brasileira custou US$ 608 mi aos cofres públicos

As 39 embaixadas abertas pelo governo Lula, dentre as quais 16 na África, dão uma dimensão palpável do seu empenho em conseguir para o Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas, entre 2003 e o final de 2009, essa vaga custou aos cofres públicos federais pelo menos US$ 680,4 milhões - o valor total das dívidas de sete países africanos e latino-americanos perdoadas pelo Brasil.

O perdão de dívidas de países de menor desenvolvimento econômico foi um dos exemplos concretos da política de generosidade brasileira pregada por Lula mundo afora. Entre os beneficiados, Moçambique recebeu o abatimento de 95% de seu passivo total, de US$ 315 milhões. A Nigéria foi agraciada com o perdão de 55,2% de sua dívida, algo como US$ 83,1 milhões. O compromisso de pagamento dos US$ 67,3 milhões restantes foi mantido. Por Denise Chrispim Marin

Na América Latina, a Nicarágua de Daniel Ortega foi o país mais favorecido. Obteve o cancelamento do passivo de US$ 133,9 milhões. Cuba também teve sua dívida, de US$ 56,4 milhões, perdoada. Já a Bolívia foi favorecida com a extinção de seu passivo de US$ 52 milhões. O Estado de S. Paulo


HERANÇA DIPLOMÁTICA
Estados Unidos: Relação estagnada e em fase de piora acelerada com a disputa sobre o comando no Haiti, as divergências sobre a crise política hondurenha, a rejeição da compra de caças de combate da Boeing e a aproximação do governo brasileiro com o Irã

Haiti: Propósito do governo Lula de fazer do Haiti seu protetorado, com absorção de parte dos custos e participação direta na reconstrução do país. Extensão do mandato da Missão das Nações Unidas de Estabilização (Minustah), sob comando brasileiro, até 2015

Briga nuclear: Apoio de Lula ao programa iraniano, com a convicção de seus fins pacíficos, e cobrança de formalização do programa de Israel. O Brasil também sofre pressão para assinar o protocolo adicional do Tratado de Não-Proliferação Nuclear

Argentina: Lula aplaudiu atitudes dos governos de Néstor e de Cristina Kirchner que acentuaram a instabilidade econômica argentina e tardou em reagir contra barreiras comerciais a produtos brasileiros, que tendem a ser ampliadas

Lugo e Evo: Acordos fechados com Assunção, sobre a compra da parcela paraguaia da energia de Itaipu, e com La Paz, de reajuste do preço do gás boliviano exportado ao Brasil. Esses instrumentos acalmaram as relações bilaterais e contornaram a instabilidade política no Paraguai e na Bolívia, mas abriram precedentes

ONU: Além do objetivo de assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança, restam as medidas tomadas para alcançá-lo. Entre elas, o comando da Minustah, a abertura de 80 postos diplomáticos no exterior, a aproximação com os países árabes, a candidatura à mediação do conflito Israel-Palestina e a parceria na área de defesa com a França

Incoerências na democracia: Insistência do governo Lula sobre a restituição do presidente de Honduras Manuel Zelaya, derrubado por um golpe militar. Impulso à adesão plena da Venezuela ao Mercosul, enquanto o presidente Hugo Chávez se apoderava dos três poderes, aprovava sua reeleição ilimitada e perseguia a imprensa e opositores

Comércio: Com a crise, a principal aposta da diplomacia comercial do governo Lula, a Rodada Doha, perdeu atratividade. O Brasil ajudou a sepultar a da Alca, abandonou a negociação com a União Europeia e preferiu acordos parciais com emergentes. Por Denise Chrispim Marin, Brasília - O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: